sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Precipitou-se Aécio Neves (Carlos Chagas - Tribuna da Imprensa)

BRASÍLIA - No intrincado jogo de xadrez disputado pelos tucanos, Aécio Neves acaba de avançar uma casa. Sugeriu que no momento certo, daqui a um ano, o PSDB realize ampla prévia junto às suas bases para saber qual será o candidato presidencial do partido e, ao mesmo tempo, inicie entendimentos com forças afins.

O governador mineiro moveu sua rainha, mas acaba de colocar-se na linha de ação de uma das duas torres paulistas. Precisa sair logo para não sofrer xeque dos adversários. Porque uma prévia comandada pelos partidários de José Serra, que dominam a direção do PSDB, só acontecerá caso favoreça o governador de São Paulo. Valerá o que, nessa consulta? O número de tucanos somados, existentes em todo o País, ou a decisão isolada de cada unidade da federação, considerando-se escolhido aquele que dispuser de maior número de estados?

Serão os paulistas a decidir essa questão inicial, depois de fazerem suas contas. E mesmo que fiquem numericamente inferiorizados, valerá aquilo que Aécio denunciou como coisa do passado, ou seja, a decisão tomada por dois ou três figurões. Foi o que aconteceu em 2006, até fotografado num restaurante dos Jardins, será o que vai acontecer muito antes de 2010.

Tendo sugerido a prévia, o governador mineiro compromete-se antecipadamente a aceitar seus resultados, hipótese na qual José Serra, matreiramente, não embarcou ontem. Outra sugestão de Aécio, a ser devidamente surrupiada pelos tucanos de São Paulo, é a da preparação de um projeto político para o partido e para o candidato afinal indicado. Um engessamento onde prevalecerão os interesses do maior estado nacional.

Em suma, não parecia hora de o governador de Minas antecipar-se, em especial diante dos muitos peões adversários ainda dispostos no tabuleiro, como Aloísio Nunes Ferreira, prestes a ameaçar a rainha e levá-la no rumo da torre da direita. Seu nome? Fernando Henrique Cardoso.
A hora da vassalagem

Quarta-feira, antes de viajar para São Paulo e depois para El Salvador e Cuba, o presidente Lula recebeu no Palácio do Planalto a vassalagem de dois aliados, os novos prefeitos do Rio e Belo Horizonte. Eduardo Paes e Márcio Lacerda esmeraram-se em juras de fidelidade. Desagradaram alas de seus respectivos partidos, o PMDB e o PSB. Porque, mesmo integrando a aliança governista, as duas legendas gostariam de estabelecer um pouco mais de pompa e circunstância na adesão. No mínimo, os dirigentes maiores esperavam acompanhar seus prefeitos.

Enquanto até agora nenhum dos seis prefeitos de capital eleitos pelo PT entrou no gabinete presidencial, precipitaram-se Paes e Lacerda, o primeiro estimulado pelo governador do Rio, Sérgio Cabral, o outro já descontentando o governador de Minas, Aécio Neves.

O presidente Lula cumprimentou protocolarmente os novos prefeitos, prometeu todo o tipo de ajuda federal, mas deve ter comentado, a bordo do Aerolula, como é enfadonha a política...
A falência da autoridade pública

Mesmo cheios de razão em suas reivindicações salariais, os policiais civis de São Paulo avançam perigosamente para contaminar seus colegas de outros estados. Até ontem as associações de policiais civis de oito estados anunciaram reuniões no final de semana, para aderirem ao movimento paulista. Vão entrar em greve, também. É provável que a iniciativa pegue feito sarampo no País inteiro.

Significa o que a paralisação das atividades daqueles que deveriam estar zelando pela segurança do cidadão comum? Nem se fala da euforia da bandidagem, certamente disposta a contribuir para o bom êxito da greve, suspendendo parte das atividades virulentas e ostensivas de seus subordinados, ao menos num primeiro momento. No que puderem os chefões do narcotráfico determinarão que seus bagrinhos evitem assaltos nas ruas e nas residências, bem como seqüestros-relâmpagos. Não querem chamar as atenções e a indignação da população.

Por quê? Porque enquanto durarem as greves estarão rindo da crise econômica, faturando com a venda de tóxicos o dobro do que faturam. Sem vigilância e fiscalização, aumentou e mais aumentará a peregrinação às bocas de fumo.

Jogar sobre quem a responsabilidade desse presumido avanço do crime organizado? Sobre os usuários de drogas, em primeiro lugar, porque sem eles e sem a facilidade de comprar papelotes inexistiria todo esse arcabouço ilegal. Sobre os governadores e as autoridades que fazem ouvidos de mercador diante das exigências de recomposição salarial dos policiais civis? Também.

Agora, não há como fugir da realidade: culpados são aqueles que abandonam as delegacias e suas funções de guardiões da lei e da segurança pública. Sem esquecer os políticos que, no Congresso, faz muito já deveriam ter regulamentado dispositivos constitucionais estabelecendo que certas profissões e atividades não possam cruzar os braços.
O Brasil é diferente

Dos Estados Unidos à China, da Coréia à Inglaterra, os bancos centrais esforçam-se por reduzir os juros, mesmo meio por cento, como forma de enfrentar a crise financeira. É o que determina a lógica, antes mesmo dos alfarrábios de economia. Menos juros, mais atividade econômica, ainda que prejudicando os bancos.

Faz muito que o vice-presidente José Alencar alerta, denuncia e protesta contra a mais alta taxa de juros do planeta estabelecida no Brasil, rebatendo a equipe econômica com o argumento de que só assim podemos captar mais capital especulativo dos países ricos. Pois agora colhem o que plantaram: os dólares fogem de nosso país como o capeta foge da cruz, seja para atender necessidades urgentes em seus países de origem, seja por desacreditar que estejamos imunes à crise. Preferem investir em títulos mais sólidos, ainda que recebendo juros menores.

Desde quarta-feira que José Alencar ocupa a presidência da República. É admirável seu sentido de lealdade para com o presidente Lula e sua política. Mas bem que poderia, uma vez apenas em dois governos, convocar o presidente do Banco Central e ordenar a redução, em vez de novos aumentos. Faria furor.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

O grande derrotado (Sebastião Nery - Tribuna da Imprensa)

Atrás de uma mesa quadrada e amarela, sentado numa cadeira com cara de trono, no Palácio Bandeirantes, em São Paulo, o governador Paulo Egidio (1975 a 1979) me apontou, bem à sua frente, o retrato de Rodrigues Alves, ex-governador e ex-presidente da República: "Está ali Rodrigues Alves. Esta cadeira não é a mesma, mas a mesa é". Ele dizia: "Quem tem força não sou eu. Quem tem força é esta cadeira".

Paulo Egidio estava no começo do mandato, nomeado pelo general Geisel. Contei-lhe que, da última vez em que tinha estado naquela sala, o então governador Abreu Sodré (1967-1971), nomeado pelo general Castelo Branco, e já no final do mandato, me disse: "Eu posso não fazer o sucessor que quero. Mas nesta cadeira não se senta quem eu não quiser".

Meses depois, estava sentado ali o governador Laudo Natel (1971 a 1975), adversário e inimigo pessoal de Sodré.
Paulo Egidio

Paulo Egidio balançou o rosto gordo, num gesto muito seu, e sorriu: "Por isso é que não vou repetir os erros deles. Não vou querer continuar governador nos quatro anos seguintes. São Paulo acabou com o ademarismo, o janismo, o sodresismo, o laudismo, os `ismos' todos que andavam por aí. Não tenho candidato a governador e não terei. A Arena de São Paulo é um partido ecumênico. Meu governo é um governo ecumênico, tem representantes das várias lideranças. Tenho os números todos no computador. Hoje ninguém tem maioria na convenção da Arena para ser candidato a governador. Delfim é um candidato forte. Nada tenho contra ele e pode ser o meu candidato. É meu amigo há 25 anos. Em determinado instante disputamos uma mesma posição e eu fui o governador. Mas não seria isso que iria abalar uma amizade de tanto tempo. Delfim é dinâmico e muito capaz. Se for o candidato, terá todo o meu apoio".

O indicado pelo general Figueiredo foi Laudo Natel. E o escolhido, rebeldemente, pela convenção da Arena, foi Paulo Maluf. Duas sucessões descadeiradas.
Lula

Aliados, assessores, puxa-sacos e vassalos, cada um vai arranjar uma teoria para tentar escamotear a derrota de Lula. Mas a verdade histórica é esta: o grande derrotado de domingo foi Lula. Como já tinha sido no primeiro turno. De todos os que fazia questão de eleger, elegeu um só: Luiz Marinho, de São Bernardo. Um postezinho de segunda categoria.

1 - Perdeu São Paulo, a maior cidade do País, com sua candidata, Marta botoqueira, dostoievskianamente humilhada e ofendida na maior derrota da história das eleições paulistas e paulistanas: 60% a 39%.

2 - No Rio, o candidato do PT de Lula teve 4% no primeiro turno. No segundo, ele teve que engolir o candidato do governador Sergio Cabral, seu aliado do PMDB (dividido em três, no Rio), que só ganhou por 1% dos votos com o também peemedebista Eduardo Paes, que chamou Lula de "chefe da quadrilha" e denunciou os negócios dos filhos do presidente.
Aécio

Em Belo Horizonte, Lula também teve que deglutir Marcio Lacerda, do PSB, o candidato de Aécio Neves, do PSDB, eleito de virada: 59% a 40%. O PT de Lula e do prefeito Fernando Pimentel mal conseguiu pôr a cara de fora na campanha. E Pimentel definiu a derrota de Lula e do PT: "Onde fomos de cara limpa, perdemos" (Ilimar Franco, "O Globo").

Conclusão oficial do PT: o PT só ganha "de cara suja". Em Salvador, quarto colégio eleitoral do País, onde o PT apareceu "de cara limpa", com o deputado Walter Pinheiro, Lula e o governador Jaques Wagner perderam de 58% a 41% para João Henrique, do PMDB.

Em Porto Alegre, quinto colégio eleitoral, também "de cara limpa" com a petista Maria do Rosário, Fogaça derrotou Lula e o PT: 59% a 41%.
2 de 6

Dos seis maiores colégios eleitorais do País, Lula e o PT venceram só no quinto e no sexto: em Recife, com João Costa, e em Fortaleza, com Lusianne, de quem Lula não gosta, vetou em 2004, e ela também não gosta.

Os dois já tinham as prefeituras e os apoios dos dois governadores, Eduardo Campos e Cid Gomes, do PSB, bem avaliados, foram fundamentais.

O que sobrou para o PT pelo resto das 27 capitais? Vitória (Espírito Santo), com João Coser, apoiado pelo governador Paulo Hartung, PMDB; Rio Branco (Acre), com Raimundo Angelim; Porto Velho (Rondônia), com Roberto Sobrinho; Palmas (Tocantins), com Raul Filho.
Escorraçado

Ricardo Noblat, no seu excelente blog, foi até generoso com Lula:

"Lula saiu da eleição menor do que entrou. Entrou como um Midas, capaz de transformar em ouro tudo que tocasse. Não desempatou a eleição em favor de ninguém". (Só ganhou onde já estava ganha.) "Como a seleção brasileira na Copa de 2006, Lula, condenado a ganhar, não ganhou". Em menos de 30 anos, o PT envelheceu, esclerosou, começa a morrer. O que ainda o sustenta é Lula no governo. Só mais dois anos.

O PT nasceu em quatro cidades: São Paulo, Porto Alegre, Santos e Santo André. (Em São Bernardo nasceram o sindicalismo de Lula e a CUT.) O PT já teve suas quatro cidades-maternidade. Hoje, mais nenhuma. Foi escorraçado de São Paulo, Porto Alegre, Santos, Santo André. (Continua 5ª).

domingo, 26 de outubro de 2008

Histórias de eleições (Sebastião Nery - Tribuna da Imprensa

Na manhã da convenção da UDN para lançar a candidatura de Jânio Quadros à presidência da República (8 de novembro de 1959), contra Juracy Magalhães, até há pouco presidente do partido, conta Carlos Lacerda em suas memórias, Jânio chamou Lacerda à suíte do Hotel Glória, no Rio, onde estava hospedado, já lançado candidato pelo PL, PDC e PTN:

- Carlos, não agüento essa sua UDN. Não agüento mais o que vem me dizer o Afonso Arinos, as condições que querem me impor.
- Jânio, não é bem assim. Você vai ganhar a convenção.
- Não, não e não!

Afonso Arinos, que estava com outros dirigentes da UDN na sala da suíte, empurrou a porta:

- Governador, nós já vamos à convenção para começar os trabalhos e daqui a pouco uma comissão virá buscá-lo.
- É engano seu, senador. Não sou mais candidato. Quero lhe pedir o obséquio de ser o meu porta-voz, porque não quero comprometer o Carlos, que já se comprometeu demais, coitado, com a minha candidatura.
Jânio

Afonso Arinos quase teve um treco:

- E agora?
Lacerda entendeu o golpe:
- Ô Jânio, parece-me que você não quer se atrelar só a uma candidatura udenista à vice-presidência. Não é isso? (Havia Leandro Maciel, da UDN, e Fernando Ferrari, do MTR.)
- Talvez. Não é só isso. Mas talvez seja também isso.
- Bem, Jânio, não tenho condições de libertá-lo de compromissos. Mas, se vou aceitar sua candidatura pela UDN, PL, PDC, PTN, PR e não sei mais o que, você realmente não depende de ninguém.
- Está bem. Faço o sacrifício. Foi para a convenção e teve 205 votos, contra 85 de Juracy. Já estava treinando para a renúncia.
Rio Grande

Padre Giordani, vereador do PDC e coordenador da campanha de Jânio em Caxias, no Rio Grande do Sul, preparou um comício para a noite, na praça da cidade, e convidou a população para saudar o candidato nas ruas, às seis da tarde, logo depois da chegada dele ao aeroporto.

No aeroporto, um carro aberto esperava o candidato para a entrada triunfal na cidade. Jânio ficou irado:

- Nada disso, senhor padre! Quero um carro pequeno e fechado. Vou direto daqui para o hotel, por ruas ínvias, onde ninguém me veja, sem passar pelo centro. Tu-do mui-to rá-pi-do.

- E o povo, presidente?
- O povo? Quem conhece o povo sou eu, senhor padre. Nas faces e na alma. O povo quer mais me ver do que me ouvir. Pois, se quer me ver, que vá também me ouvir, no comício, à noite. Ver-me-á e ouvir-me-á. Oito da noite, Caxias estava toda na praça. Vendo e ouvindo Jânio.
Paraíba

Aluísio Campos, advogado, economista, fazendeiro, empresário muito rico na Paraíba, foi do Banco do Nordeste, da Sudene e duas vezes deputado estadual pelo Partido Socialista. Duas vezes candidato a senador pela Arena, perdeu as duas vezes para Rui Carneiro, do MDB. Depois, elegeu-se duas vezes deputado federal pelo PMDB.

Em 66, João Agripino, governador, encarregou os arenistas Ivan Machado e Osvaldo Trigueiro do Vale de coordenarem em João Pessoa a campanha ao Senado de Aluísio, que era de Campina Grande. Já perto das eleições, planejaram uma grande concentração popular no bairro da Torre, onde ele faria o pronunciamento final. Ivan e Osvaldo se desdobraram.
João Agripino

No dia do comício, nove da noite, o governador João Agripino e Aluísio foram para o bairro da Torre. Uma decepção. Palanque, luzes, escola de samba, tudo lá. Mas, povo, quase nenhum. Aluísio chamou Osvaldo:

- Tudo bem, Osvaldo?
- Tudo bem, senador. Tudo arrumado, como o senhor mandou.
- Mas, e o povo, Osvaldo?
- Ora, doutor, eu armei o palanque, providenciei a iluminação, consegui a escola de samba, fiz os convites aos oradores. Agora, se, além de tudo isso, ainda tivesse de trazer o povo, o candidato era eu.
Não houve comício. Nem eleição de Aluísio.
Pará

José João Botelho, deputado federal do Pará no Rio (46 a 51), passou muito tempo sem ir a Belém. Voltou candidato a prefeito da capital. Um dia inteiro anunciou o primeiro comício, à noite, na Praça Brasil. Chegou lá, não havia ninguém. Imaginou um engano, perguntou ao assessor.

- Não houve engano nenhum, deputado. A praça é esta mesma. Botelho foi ao bar mais próximo, pediu dois caixotes de madeira, pôs no centro da praça, subiu e passou a gritar, como um alucinado:
- Socooooooorrro! Socoooooorrrrro!

Correu gente de todo lado para ver o que era. Com a platéia, ele começou:

- Socorro para um candidato...

E fez o comício. Não se elegeu, mas fez o comício.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Lula vice de Alencar presidente? (Carlos Chagas - Tribuna da Imprensa)

BRASÍLIA - Uma das regras básicas do jornalismo é a de o jornalista não brigar com a notícia. Evitar que sua opinião pessoal influa na informação a ser divulgada, se acorde com os princípios de precisão e veracidade.

Pois a notícia, hoje, começa num vôo da Força Aérea Brasileira, de Brasília para Manaus, poucos meses atrás. Como passageiro principal ia o vice-presidente José Alencar no desempenho de áspera missão. Representava o presidente Lula nos funerais do senador Jefferson Peres, falecido na véspera.

Um interlocutor daqueles de rara percepção política, sentado à frente do vice, trocava idéias com ele a respeito do futuro. Em dado momento, analisando a sucessão de 2010, surpreendeu José Alencar ao sugerir singular montagem para a preservação do poder pelos que o detêm na hipótese de Dilma Rousseff não decolar como candidata. Vale reproduzir a parte fundamental do diálogo:

"Por que não uma chapa com o senhor para presidente e o Lula para vice?" "Mas pode?" "Pode". Não há nada que impeça, na Constituição, pois não se trata de reeleição para o mesmo cargo, pela segunda vez. Desde que se desincompatibilizem seis meses antes. À mesa encontrava-se o senador Pedro Simon, que comentou: "Poder, pode sim."

Eis aí um fato novo, daqueles surrealistas, mas factíveis, havendo vontade política e, reconheçamos, um pouco de desfaçatez. A chapa seria imbatível na medida em que se valeria da popularidade do presidente Lula, um futuro vice capaz de desempenhar boa parte das funções que desempenha na chefia do governo, por delegação do novo presidente.

Ignora-se quando José Alencar levou a especulação ao presidente Lula, mas levou. E até com um derivativo: caso Dilma Rousseff permaneça mesmo sem chances aparentes, estaria o presidente Lula disposto a concorrer como vice da sua candidata? Vitória garantida, sem dúvida. Quatro anos depois, Lula poderia disputar outra vez o Palácio do Planalto, com direito à reeleição.

Estaríamos no mundo da lua? Uma armação desse tipo beiraria as raias da loucura? No reverso da medalha, para manter o poder vale tudo? É bom botar na geladeira essas duas projeções, para posterior conferência. Mas que pode, pode...
Aloprados, segundo tempo

A ala dissidente do PT do Rio de Janeiro tomou a iniciativa de denunciar e protestar: os dirigentes do partido pagaram um dinheirão para imprimir três milhões de panfletos, que começaram a distribuir, denegrindo a imagem de Fernando Gabeira.

Uma baixaria no mesmo nível daquela de 2006, em São Paulo, quando também a peso de ouro o PT comprou um dossiê mentiroso contra José Serra. Os companheiros paulistas foram chamados de aloprados, pelo presidente Lula, sendo que a manobra saiu pela culatra, pois Serra elegeu-se governador.

Os panfletos cariocas dão nojo e certamente contribuiriam para vitória tranqüila de Gabeira, se tivessem sido totalmente distribuídos. Acusam o candidato de haver apresentado na Câmara projetos que favoreceriam a corrupção, a prostituição, o tráfico de mulheres e até a exploração sexual de menores.

É claro que as propostas de Gabeira, todas por sinal dormindo em alguma comissão técnica, não exprimiam nada disso. Apenas, tentavam minorar as agruras de quantas se dedicam a mais antiga profissão do mundo. O material felizmente apreendido pela Justiça Eleitoral é um lixo, daqueles dignos da lavra não apenas de aloprados, mas de depravados. Aguardam-se iniciativas processuais penais contra os responsáveis pela solerte ação de desespero.

Para demonstrar que além das eleições, nem tudo está perdido para o PT, no Rio, e em São Paulo, importa lembrar o gesto ético do senador Eduardo Suplicy. Procurado por uma doida recalcada que oferecia material ligando Eduardo Kassab ao ex-marido Celso Pitta, o senador não vacilou. Pediu que dona Nicéia se retirasse de sua presença e da tentativa de conspurcar a campanha de Marta. Esta, pelo que se sabe, apoiou a iniciativa do também ex-marido.
Entrosamento

A tentação é grande. No caso, de juntar os temas das duas notas acima. Ambas exprimem que para manter ou conquistar o poder, os companheiros não tem limite. O Brasil ofereceria ao mundo imenso ridículo, imitando a Rússia e batizando o Lula de Wladimir Putin, aquele que passou de presidente a primeiro-ministro e continua mandando. Ao mesmo tempo, se para ganhar uma eleição de prefeito vale editar panfletos indecentes, o que se deverá esperar do PT diante de uma eleição presidencial? Será tudo hipócrita, manobra da imprensa?

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Agora, é cuidar de 2010 (Carlos Chagas - Tribuna da Imprensa)

BRASÍLIA - Depois das incursões obrigatórias e meio constrangedoras de sábado, em São Paulo, e domingo em São Bernardo, recolhe-se o presidente Lula em Brasília às questões administrativas e econômicas, que não são poucas. Fez o dever de casa, mesmo arriscado a não passar de ano, em especial no caso de Marta Suplicy.

Mais do que nunca, as eleições municipais em sua reta final demonstram que votos não se transferem, mesmo diante dos apelos do cidadão, mas popular do país. Pelo contrário, podem evaporar.

A grande preocupação do presidente, fora a crise econômica, desdobra-se até 2010. Terá sido a melhor estratégica haver lançado prematuramente Dilma Rousseff como a herdeira do trono? Muita gente começa a duvidar, em especial no PT. Porque perder o poder por antecipação não figura nos planos dos companheiros.

Para não imitar o Joãozinho, aquele menino que só pensava naquilo, vamos deixar para outro dia referências ao terceiro mandato, solução miraculosas mas golpistas para as forças políticas governistas permanecerem onde estão.

Vale inverter a equação e tentar iluminar o outro lado. Conseguirá o governador José Serra manter-se na pole-position para as próximas eleições presidências? Por enquanto, é o que revelam as pesquisas, mas as pesquisas, convenhamos, andam na baixa. Mais um vexame, domingo, igual aos vários verificados no primeiro turno, e mesmo injustamente em alguns casos os institutos sairão todos pelo ralo.

José Serra, por coincidência ou paranóia, anda sob fogo batido. Não se fala apenas do conflito entre as polícias civil e militar d São Paulo, ou da lambança que levou a polícia militar a perder preciosos segundos na tentativa de derrubar uma porta, ensejando ao animal de Santo André alvejar suas duas reféns.

Essas coisas prejudicam a imagem do responsável maior pela segurança pública paulista, mas parecem longe de ser únicos fatores de desgaste do governador. É preciso notar que sua administração, até agora, não revelou aquilo que, certo ou errado, faz a popularidade dos administradores: qual o programa, a obra, a realização capaz de destacar Serra? O feijão com arroz é servido com regularidade pela cozinha do palácio dos Bandeirantes, mas aquele algo mais tão a gosto do apetite do eleitor ainda não apareceu.

Em contrapartida, permanece nas preliminares da sucessão presidencial aquela pimenta picante e incômoda de que todas as decisões, faz tempo, tomam-se em São Paulo. Ressente-se o restante do Brasil de participação maior, porque tucanos, companheiros e até peemedebistas, os caciques são todos paulistas. Nada contra o maior estado da federação, o mais rico, o mais desenvolvido e o mais atuante, mas não há que ignorar a federação.

A sorte de Serra é que o governador de Minas anda na baixa. Perdeu ao apoiar Geraldo Alckimin para a prefeitura paulistana e perde mais ainda com a derrota anunciada de Márcio Lacerda para a prefeitura de Belo Horizonte. Mesmo assim, seria bom que o PSDB ampliasse o plano de vôo de seus tucanos para fora dos limites de São Paulo, quando nada para efeito pirotécnico. Bairrismo funciona para um lado e para outro.

O próximo ano será crucial para a candidatura José Serra, primeiro para demonstrar não haver trabalhado em silêncio, depois para verificar que se a locomotiva continua a pleno vapor, nem por isso os demais estados podem considerar-se vagões vazios...
A origem do dinheiro

Não demora muito e a equipe econômica terá liberado 100 bilhões de reais para não deixar falir o sistema financeiro. Ajuda aos bancos compra de dólares, injeções de recursos para manter o crédito, tratamento privilegiado aos exportadores. Tudo bem, parece não existir outra solução, aliás, adotada no mundo inteiro.

Só que tem um problema: qual a fonte desses recursos, responsáveis pelo Brasil haver amelhado perto de 200 bilhões de dólares em reservas lá fora e agora utilizados?

A resposta é uma só: o dinheiro é do contribuinte, do cidadão comum que paga impostos e trabalha sacrificado por baixos salários e vencimentos incompatíveis com a riqueza acumulada pela cautela e pela avidez do governo.

Se for para evitar o caos, mesmo beneficiando os especuladores de sempre, paciência, mas se para os bancos e grandes empresas fluem centenas de milhões, não estaria na hora de cuidar do indivíduo isolado, aquele que no fim do mês não conseguiu saldar suas contas, cortou refeições, individou-se cada vez mais e precisou vender o carro velho e tirar o filho da escola para fazê-lo trabalhar.

Afinal, o dinheiro agora despejado pelo Banco Central é tanto dele, ou mais, do que do diretor do banco que especulou mal e agora recebe ajuda direta, sem precisar preocupar-se com a vida milionária que continua levando.
Embolou o meio campo

O PT mandou avisar: caso a maioria do PMDB vete Tião Viana para presidente do Senado, ninguém precisa contar com o voto dos companheiros para eleger Michel Temer presidente da Câmara. Por conta disso Ciro Nogueira amplia sua campanha entre os deputados, ao tempo em que os adeptos de José Sarney, no Senado, aferram-se ao conceito de que o ex-presidente está acima dos partidos, não se constituindo propriamente numa opção do PMDB. Não dá para acreditar muito, talvez por isso Sarney resista à hipótese, mas a maioria de seus companheiros espera convencê-lo ainda a tempo.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Sergio Cabral acentua fraqueza de Paes (Pedro do Coutto)

Forçando demais a mão junto ao presidente Lula e conduzindo seu candidato para que fosse fotografado ao lado dele, em São Paulo, o governador Sergio Cabral na realidade passou um atestado púbico da fraqueza de Eduardo Paes na disputa pela Prefeitura do Rio. É flagrante isso. Não pode haver outra interpretação e certamente as próximas pesquisas do Ibope e Datafolha vão revelar. Fernando Gabeira está em ascensão.

Sente-se nas ruas. E se Sergio Cabral precisou ir buscar o apoio aparente de Luis Inácio da Silva é porque reconhece que, sozinho, seu candidato não tem condições de enfrentar o da coligação PV-PSDB-PPS. Precisa proteção além daquela que a máquina estatal no RJ pode proporcionar. O presidente Lula estava na véspera da viagem à Espanha. Cabral ficou mal no episódio. Eduardo Paes pior ainda. Pois caiu numa contradição total. Vejam só.

De um lado, como "O Globo" publicou sábado em matéria assinada por Flávio Tabak e Maia Menezes, pediu desculpas a Lula pelas acusações que desfechou contra ele na CPI dos Correios e do Mensalão. Mas de outro afirmou que não se arrepende de nada. Como? Impossível entender a dualidade. Das duas uma. Ou se arrepende e se desculpa, ou não se arrepende e portanto não há motivo para se desculpar. Muito menos através de carta. Como Sérgio Cabral não percebeu isso? A situação ficou marcada por absoluto ridículo.

O apoio de Lula fortalece Paes? Não creio. Não está fortalecendo Marta Suplicy em São Paulo. Além do mais, como dizia o presidente Juscelino, apoio não se pede. Recebe-se. Na política e na vida: ninguém pode sair correndo atrás de um favor. No campo eleitoral, forçar a barra não adianta nada.

Os eleitores sentem o processo oculto na sombra da atitude e não se deixam levar. Não se iludem com aparências. Além disso, como digo sempre, transferir votos é algo raríssimo em política. De 1945 até hoje, os exemplos contam-se nos dedos da mão. E olhem que se trata de um espaço de tempo de 63 anos. Naquele 2 de dezembro que sucedeu apenas cinco semanas a derrubada da ditadura, Vargas de fato transferiu votos e assegurou a eleição do general Dutra.

A passagem foi total. Porém, dois anos depois, Getúlio foi a São Paulo apoiar Hugo Borghi contra Ademar de Barros na disputa pelo governo estadual e perdeu. Nas eleições de 50, quando Vargas retornou ao Palácio do Catete, onde morreria em 54, Ademar de Barros transferiu votos para ele e paralelamente garantiu a vitória de Lucas Nogueira para sucedê-lo no governo do estado.

Um terceiro exemplo de transferência foi de Lacerda, em 58, garantindo a eleição de Afonso Arinos de Melo Franco para senador pelo Rio, então Distrito Federal. É verdade, deve-se lembrar que enfrentou um adversário fraco: Lutero Vargas, filho de Getúlio, mas destituído de vocação política. Em 58, também, Jânio assegurou a eleição de Carvalho Pinto para sucedê-lo no governo de São Paulo, derrotando Ademar. Mas neste caso entrou também a máquina administrativa estadual.

O governo Jânio era bem avaliado. Ademar era arquiinimigo de Jânio. Mais quatro exemplos de transferência de votos. Brizola elegeu no Rio Aurélio Viana senador em 63, Saturnino prefeito em 85, Marcelo Alencar, também para a prefeitura em 88. Nem sempre a transferência de votos conduz à vitória. Em 65, Lacerda no governo da Guanabara passou integralmente todos os votos que comandava para Flexa Ribeiro e ele perdeu para Negrão de Lima por 51 a 38 pontos.

Negrão saiu do governo sob intensa consagração. Mas em 74 apoiou Gama Filho para o Senado contra Danton Jobim e este venceu atingindo 54 por cento dos votos. JK, aclamado em 60, apoiou Tancredo para governador de Minas e Magalhães Pinto venceu a eleição.

Os exemplos param por aí. Falo de mais de seis décadas. Não é pouco tempo. É dificílimo efetuar-se a transferência de prestígio em matéria de voto na urna. Inclusive porque o êxito do apoio não depende apenas de quem o destina, mas, sobretudo de quem o recebe. Um enigma. E se apoios oficiais garantissem a vitória de candidatos, o poder não perderia eleição no mundo. Na grande maioria dos casos - esta é a verdade - acontece o contrário. Graças a Deus é assim. Não fosse isso, seríamos todos escravos das máquinas ou da corrupção eleitoral. Ou das duas coisas combinadas.

E se não se pode processar a cidade, como no famoso filme italiano de Alberto Latuada, tampouco se pode comprá-la, adquirindo votos como se os eleitores estivessem num mercado da ilusão e da fantasia. Eduardo Paes é um candidato fraco. Não depende de si. Depende dos outros. Ele, inclusive, aceita tacitamente condicionar seu destino a forças a seu redor. Não tem vôo próprio.

Enquanto isso, Fernando Gabeira afirma-se por si. Não se empenha em obter apoio de ninguém. Isso de um lado. De outro, é alguém de nível muito superior ao de Paes. Hoje, creio que ampliou sua vantagem na reta de chegada. Vamos ver o que dizem o Datafolha e o Ibope.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A crise financeira já é crise econômica (Helio Fernandes)

O dinheiro do contribuinte é usado para "salvar" o contribuinte

A crise financeira se agrava e já penetra no que se define como crise econômica. E alguns economistas chamam de RECESSÃO ou DEPRESSÃO. As definições são várias, muitas, dispersas, mas quem sofre mesmo é o trabalhador e a classe média. Existem vários limites para enquadrar o que é classe média, mas qualquer que seja a forma de colocá-la se chega a quem trabalha.

Por que na Europa e nos Estados Unidos estão GARANTINDO os depósitos dos clientes? Alguns países em 50 mil euros, outros em 50 mil libras, 50 mil dólares. São totais diferentes, mas nenhuma generosidade. Os governos estão com medo de quebradeira total, de queda de consumo e portanto da produção. Isso chegaria a tudo e a todos.

A falta de crédito atingiria setores INIMAGINÁVEIS e SURPREENDENTES. Um só exemplo: o ENGARRAFAMENTO do trânsito no Brasil, de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e outras. Como isso acontece? Em SP estão sendo jogados no trânsito, diariamente, 800 carros. No Rio, a metade. Por quê? Elementar.

As fábricas de automóveis (montadoras) descobriram que financiar carros é tão lucrativo quanto produzi-los. Então se transformaram em BANCOS, diretos ou indiretamente. Hoje ninguém mais COMPRA carro à vista nem as concessionárias se interessam em VENDER. O cidadão chega numa concessionária para adquirir um carro em algumas prestações (antigamente eram 12, no máximo), é imediatamente CONVIDADO ou INDUZIDO a comprar em 60 ou 72 vezes.

Todos precisam de carro, para se locomover ou trabalhar. Olham as prestações, concluem: "Posso pagar". Esquece ou nem pensa que ficará 5 ou 6 anos pagando, o carro envelhece, o cidadão também, mas tem que continuar pagando. As empresas passam a ganhar duas vezes, com a produção e o juro. Este é ao mesmo tempo a maldição e a felicidade do capitalismo. Isso acontece em outros setores.

Só que essas transações são feitas em tempos normais, sem crise. Quando tudo é transformado em cassino, os governos são obrigados a usar terminologia falsa e dizer: estamos ESTATIZANDO ou NACIONALIZANDO tudo. "Menas" verdade.

Ontem, a jogatina começou fulgurante. Com 5 minutos de pregão, lá na matriz e aqui na filial, o dólar bem alto, as bolsas bem baixas.

Dólar a 2,45, mais 6%. Bovespa menos 3,66, na casa dos 38 mil. O Dow já em queda de quase 3%, querendo descer dos 9 mil.

Com meia hora de jogatina, o pano verde mostrava a Bovespa com queda de 5,68, já abaixo de 38 mil. O Dow melhorava, caía 2%.

Ao meio-dia, o Banco Central já havia feito "intervenção direta" no mercado de dólar, por três vezes seguidas. O que é isso? Simples.

O BC vendeu dólares papel e não como antes, dólar "swap", ou empréstimo. Agora o BC participou da jogatina com DÓLAR DA RESERVA, IMPORTANTE.

Também vai comprar créditos de bancos pequenos, o que é medida acertada, mas agora, depois de não fiscalizar o FUNCIONAMENTO DOS CASSINOS.

13,44: o BC já colocara 2 BILHÕES de dólares papel de verdade. E não o dólar emprestado para ser devolvido a prazo certo. A Bovespa melhorou um pouco. Da queda de 5,68% na abertura, passara para menos 3,55%. Às 15,38 o dólar, que abrira com mais 6% em 2,45, vinha para 2,24, em menos 0,3%. Conclusão: o BC VENDEU dólares a 5 e 6 reais, a moeda estava quase inalterada. Valeu o prejuízo ou a venda? Às 16 horas, o Dow, que chegara a cair 3%, subia 1,20%, mas já subira 2%. A Bovespa passava de 40 mil pontos.

PS - O mercado é de OFERTA e de PROCURA. VENDEM, cai. COMPRAM, sobe. Precisa fiscalização, é muito dinheiro em dólar e ações. Nos últimos 30 minutos, o cassino abriu outra vez, reviravolta. O Dow, que subia 2%, fechou com queda de 2,20%. O dólar voltou a ficar acima de 2,30. A Bovespa caiu para 39 mil. JOGO, tudo é JOGO.

Alcaide-debilóide-factóide
Disse que apoiará o Gabeira. Não devia ter falado nada. Pelo menos, que não apareça perto dele.

Muitos prefeitos, principalmente os reeeleitos, já se lançam ou são lançados para governador em 2010. É o caso de Porto Alegre, com José Fogaça. Senador importante, foi prefeito, agora praticamente reeeleito. Pedro Simon e Germano Rigoto já articulam para que isso aconteça. Ganhar de Dona Crusius, facílimo. Rigoto ficará com uma das vagas para o Senado, Pedro Simon é senador por mais 6 anos. Para felicidade geral do Rio Grande do Sul.

Edson Lobão ficou assombrado, ao receber a informação: "A hidrelétrica de Belo Monte pode ficar pronta 4 meses mais cedo".
O assombro não foi com o tempo mas com o preço: 7 BILHÕES. Tudo na mão dele. E do "Edinho 30", filho querido e serpente, perdão, suplente.

Ontem, o presidente Lula jantou com muitos senadores do PMDB. Não convidou Edson Lobão. Se o jantar fosse em janeiro ou fevereiro poderia convidá-lo. Seu prestígio caiu no Senado e no Planalto.
Heloisa Helena disputará um cargo em 2010. Foi vereadora para não ficar 2 anos sem mandato. Pode ser presidente da Câmara Municipal. Aconteceu com Suplicy em 1996. Perdeu para governador em 1994, foi vereador 2 anos depois. E presidente da Câmara, mesmo minoritário.

Paulo Ramos do PDT, que foi candidato a prefeito, fez discurso na Alerj, duríssimo, dizendo, "a eleição devia ser anulada". Agora, o PDT apóia Eduardo Paes, Paulo Ramos mais para Gabeira.
Ele tem mais votos do que o partido, com a exclusão de Cidinha Campos e Wagner Montes. Cidinha quase foi prefeita, Wagner não quis ser candidato.

Jarbas Vasconcellos, que pretendia ser governador, foi derrotadíssimo. Ainda é senador até 2014, espera Serra convidá-lo para vice.
A "família" Tasso (Ciro, Arruda, Patricia Saboya, Cid governador) preocupadíssima com Luizianne: querem lançá-la ao governo.

Assim que Beto Richa foi reeeleito com 77% dos votos, o repórter, cumprindo sua obrigação, perguntou: "O senhor é candidato a governador em 2010 ou ficará o mandato inteiro na prefeitura?".
Beto Richa desconversou, não podia afirmar nada. Ele precisa conversar com Alvaro Dias do seu PSDB, senador até 2014. E com o irmão dele, Osmar, senador até 2010. Complicado, como resolver?

Na verdade o mandato de prefeito, principalmente o segundo, agora é apenas de 15 meses. O de José Serra foi de 15 meses, logo no primeiro. O problema de Beto Richa não é eleitoral, é político.
Dona Jandira está em posição complicadíssima. O PC do B quer apoiar Eduardo Paes. É lógico que aqui o PC do B é ela. Tendo vida política e eleitoral enorme, sabe que resolverá. Mas como?

Luiz Carlos Barreto está procurando alguém para fazer o presidente Lula num filme sobre o presidente Lula. Poderia deixar de perder tempo, e dentro de 2 anos teria o "protagonista" ideal. Estaria sem fazer nada, morando em São Bernardo. Aceitaria, sucesso garantido.
Dizer que a Constituição de 1988 é ruim por ser "estatista, nacionalista e protecionista" é burrice e principalmente contradição.

A Constituição de 1988 sobreviveu por ser estatista, nacionalista e protecionalista. Estaria completíssima se fosse parlamentarista.
Aécio não ficará nem um pouco aborrecido se Leonardo Quintão for prefeito de BH. Ele fez campanha, dizendo, "votarei Aécio para presidente". Quem disse isso de Serra? Nem o prefeito Kassab.

Ontem, num compreensível erro de digitação, saiu aqui: o sábio e santo Agostinho, no Século X, combateu os milagres. Antes que me bombardeiem (com toda a razão), a retificação: foi no Século V.
Mais um debate inútil, monótono, cansativo e nada decisivo, entre Obama e McCain. Lógico, é eleitoreiro, precisam agradar os que votarão em 4 de novembro. Só que os analistas, perguntadores, comentaristas, mais desastrados. Foi o debate (?) com menor audiência.

Terminado, já na madrugada de quarta, todos queriam saber quem foi o "vencedor". Deviam avaliar quem apresentou propostas mais consistentes e construtivas para a coletividade.
Isso não aconteceu, podiam cancelar o último, dia 15. Perda de tempo. Nem Obama nem McCain perceberam que os EUA já não dominam o mundo, deram uma aula de geografia e não de esperança.

Não adianta contar números se os eleitores, perplexos e confusos, ainda não decidiram, não sabem o que fazer.
Colocar diante de cidadãos puritanos, preconceituosos e racistas um negro e um conservador sem nada a dizer, exercício de inutilidade. Nenhuma pesquisa vai apresentar resultados antes de 4 de novembro. E o depois pode estar na História americana.
XXX

Nos subterrâneos de um hotel em Copacabana, Nuzman foi eleito (?) para completar 17 anos como presidente do COB. Tudo "legítimo", foi apoiado por esportes de prestígio e grande repercussão.

1 - Tênis de Mesa

2 - Canoagem

3 - Tiro Esportivo

4 - Vela e Motor. (Não tem presidente e sim interventor, nomeado pelo próprio Nuzman).

5 - Atletismo. (O presidente, viajando, não sabia nem de eleição, respondeu "voto no Nuzman").

Ficar contra Nuzman é falta de esportividade, mas Ricardo Teixeira impoluto (que rima com corrupto) ficou. A CBF não se fez representar e quer anular a escolha de Nuzman para mais 4 anos.

Ricardo Teixeira, no ano passado, PRORROGOU seu mandato que terminava em 2012 para 2015. Não parou em 2011 nem para reabastecimento. E criou agora uma comissão para "dirigir" a Copa do Mundo de 2014, só com família e apaniguados.

Teixeira está pedindo (mas não na Justiça, tem horror de se aproximar dela) a anulação do novo "mandato" de Nuzman. O seu, "de mais 8 anos", garantidíssimo.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Lembrai-vos do JK-65... (Carlos Chagas)

BRASÍLIA - É bom esperar pelo segundo turno, em especial porque nada foi decidido em capitais importantes como Rio, São Paulo, Porto Alegre, Salvador e outras. De qualquer forma, com o pronunciamento de 130 milhões de eleitores, foi dada a partida oficial para a sucessão de 2010.

Lula, de um lado, e José Serra, de outro, vão desdobrar-se nas próximas três semanas para consolidar nas capitais e grandes cidades a vitória de seus candidatos no primeiro turno ou, com maior preocupação, tentar virar o jogo da votação incompleta de domingo. Um terceiro personagem também não perderá tempo. No caso, Aécio Neves.

O problema é que a eleição presidencial não se realizará entre o presidente da República e os governadores de São Paulo e de Minas. Do lado do Palácio do Planalto, contra Serra ou Aécio, ou contra os dois, tudo indica estará a ministra Dilma Rousseff. As eleições de anteontem demonstraram a dificuldade de transferência de votos, apesar da imensa popularidade do presidente da República. Fosse ele o candidato e conquistaria facilmente o terceiro mandato, mas indicada a sua chefe da Casa Civil ou outro companheiro qualquer, o processo muda de figura.

Alguns números ainda estão em aberto, como saber o número exato de prefeituras conquistadas pelos partidos, em 5.563 eleições. Até agora o PMDB liderava, dada sua força nos grotões. Detém 1.059 prefeituras, contra 790 do DEM, 620 do PSDB, 620, também, do Partido Socialista, 551 do PP, 436 do PR, 427 do PTB e 411 do PT. É claro que os resultados se invertem quando calculados os votos dados a cada legenda em função do eleitorado muito maior de grandes capitais e cidades maiores.

De qualquer forma, para a sucessão de 2010 voltam-se as atenções, com todas as variáveis imaginadas ou desconhecidas. Se por hipótese chegarmos ao final do primeiro semestre do ano que vem sem que Dilma Rousseff tenha decolado, estariam os atuais detentores do poder dispostos a, com todo o respeito, entregar o ouro ao bandido? Buscariam outro candidato, mesmo fora dos quadros do PT?

Os companheiros aceitariam? Ou colocariam na rua a procissão continuísta que o presidente Lula rejeita, mas contra a qual carecerá de forças para enfrentar? Soa como bobagem essa história de dizer que ele se prepara para daqui a dois anos ser sucedido por um adversário, visando voltar em 2014. No Brasil, já são precários os planos formulados para daqui a quinze minutos, quanto mais para daqui seis anos. Lembrai-vos do imbatível "JK-65"...
À hora do soco

Nem só de eleições vive um governo. A hora do soco na mesa já passou, ignorando-se tenha ou não sido dado em Manaus, dias atrás, quando o presidente Lula recepcionou o presidente do Equador, Rafael Correa. A oportunidade era para o Brasil deixar claro não haver gostado das bravatas do nosso hermano ao ocupar com força militar uma empresa privada brasileira, em seu território e mandando prender quatro de seus diretores. Tudo poderia ter sido resolvido pacificamente, mas Correa enfrentava crise interna e necessitava criar um inimigo externo para vencer um plebiscito.

Pois não é que fez mais, o histriônico aprendiz de Evo Morales? Ameaçou, no fim de semana, expulsar também a Petrobras, que para ele custa a cumprir acordos referentes a investimentos brasileiros em seu país. Exasperado, afirmou que o Equador não está pedindo esmolas.

Permanecerá o presidente Lula de braços cruzados e garganta fechada, como de vezes anteriores? Afinal, agora, não se trata de uma empresa privada, mas da Petrobras. Nossos vizinhos continuam abusando, o Paraguai e a Bolívia já começaram a invadir propriedades de brasileiros em seus territórios. Acusam-nos de imperialistas, mas a verdade é que permitiram que nossos agricultores e pecuaristas se instalassem lá, produzindo e pagando impostos. Se o gigante continuar dormindo em berço esplêndido, logo pagará o preço da desmoralização frente aos anões...
Razão ele teve, mas...

O presidente Lula até teve razão quando lavou as mãos e criticou empresas brasileiras que enfrentaram prejuízos de mais de um bilhão de reais com a recente crise gerada nos Estados Unidos. Conforme suas declarações, a Aracruz e a Sadia especularam contra o real, por ganância, devendo agora resolver seus problemas.

Só que não foi bem assim. A uma dessas empresas o Banco do Brasil, em setembro, liberou 900 milhões de reais a juros subsidiados.

Quanto à crise, o Lula também falou demais. Disse que o tsunami americano está chegando ao Brasil "como uma marolinha". Será? O dólar ultrapassou dois reais, a Bovespa despencou mais do que a Bolsa de Nova York e a equipe econômica vem injetando centenas de milhões no crédito para empresas exportadoras. Mesmo assim, as exportações continuam caindo e as importações tornando-se cada dia mais dispendiosas. Marolinha safada, essa, que já ultrapassou o litoral e aproxima-se de Brasília.
Mudaram os algozes

Duro mas monumental diagnóstico foi feito por mestre Saulo Ramos em artigo referente às perdas e aos ganhos da Constituição de 88. Para ele, aquilo que se via na ditadura, com militares instalados em funções civis, acontece agora com ex-sindicalistas, falsos líderes de comunidades urbanas e invasores de áreas rurais, "desde que assegurem dividendos eleitorais". São origens diferentes, mas iguais no despreparo técnico e na arrogância.

Saulo Ramos lembra que o Executivo voltou a dominar o Congresso exatamente como no tempo da ditadura. Não se utiliza da força ou da cassação de mandatos, mas obtém o mesmo efeito através de persuasões inconfessáveis como mensalão, cargos, diretorias de estatais, criação de ministérios com um número imensurável de empregos e sinecuras.