Forçando demais a mão junto ao presidente Lula e conduzindo seu candidato para que fosse fotografado ao lado dele, em São Paulo, o governador Sergio Cabral na realidade passou um atestado púbico da fraqueza de Eduardo Paes na disputa pela Prefeitura do Rio. É flagrante isso. Não pode haver outra interpretação e certamente as próximas pesquisas do Ibope e Datafolha vão revelar. Fernando Gabeira está em ascensão.
Sente-se nas ruas. E se Sergio Cabral precisou ir buscar o apoio aparente de Luis Inácio da Silva é porque reconhece que, sozinho, seu candidato não tem condições de enfrentar o da coligação PV-PSDB-PPS. Precisa proteção além daquela que a máquina estatal no RJ pode proporcionar. O presidente Lula estava na véspera da viagem à Espanha. Cabral ficou mal no episódio. Eduardo Paes pior ainda. Pois caiu numa contradição total. Vejam só.
De um lado, como "O Globo" publicou sábado em matéria assinada por Flávio Tabak e Maia Menezes, pediu desculpas a Lula pelas acusações que desfechou contra ele na CPI dos Correios e do Mensalão. Mas de outro afirmou que não se arrepende de nada. Como? Impossível entender a dualidade. Das duas uma. Ou se arrepende e se desculpa, ou não se arrepende e portanto não há motivo para se desculpar. Muito menos através de carta. Como Sérgio Cabral não percebeu isso? A situação ficou marcada por absoluto ridículo.
O apoio de Lula fortalece Paes? Não creio. Não está fortalecendo Marta Suplicy em São Paulo. Além do mais, como dizia o presidente Juscelino, apoio não se pede. Recebe-se. Na política e na vida: ninguém pode sair correndo atrás de um favor. No campo eleitoral, forçar a barra não adianta nada.
Os eleitores sentem o processo oculto na sombra da atitude e não se deixam levar. Não se iludem com aparências. Além disso, como digo sempre, transferir votos é algo raríssimo em política. De 1945 até hoje, os exemplos contam-se nos dedos da mão. E olhem que se trata de um espaço de tempo de 63 anos. Naquele 2 de dezembro que sucedeu apenas cinco semanas a derrubada da ditadura, Vargas de fato transferiu votos e assegurou a eleição do general Dutra.
A passagem foi total. Porém, dois anos depois, Getúlio foi a São Paulo apoiar Hugo Borghi contra Ademar de Barros na disputa pelo governo estadual e perdeu. Nas eleições de 50, quando Vargas retornou ao Palácio do Catete, onde morreria em 54, Ademar de Barros transferiu votos para ele e paralelamente garantiu a vitória de Lucas Nogueira para sucedê-lo no governo do estado.
Um terceiro exemplo de transferência foi de Lacerda, em 58, garantindo a eleição de Afonso Arinos de Melo Franco para senador pelo Rio, então Distrito Federal. É verdade, deve-se lembrar que enfrentou um adversário fraco: Lutero Vargas, filho de Getúlio, mas destituído de vocação política. Em 58, também, Jânio assegurou a eleição de Carvalho Pinto para sucedê-lo no governo de São Paulo, derrotando Ademar. Mas neste caso entrou também a máquina administrativa estadual.
O governo Jânio era bem avaliado. Ademar era arquiinimigo de Jânio. Mais quatro exemplos de transferência de votos. Brizola elegeu no Rio Aurélio Viana senador em 63, Saturnino prefeito em 85, Marcelo Alencar, também para a prefeitura em 88. Nem sempre a transferência de votos conduz à vitória. Em 65, Lacerda no governo da Guanabara passou integralmente todos os votos que comandava para Flexa Ribeiro e ele perdeu para Negrão de Lima por 51 a 38 pontos.
Negrão saiu do governo sob intensa consagração. Mas em 74 apoiou Gama Filho para o Senado contra Danton Jobim e este venceu atingindo 54 por cento dos votos. JK, aclamado em 60, apoiou Tancredo para governador de Minas e Magalhães Pinto venceu a eleição.
Os exemplos param por aí. Falo de mais de seis décadas. Não é pouco tempo. É dificílimo efetuar-se a transferência de prestígio em matéria de voto na urna. Inclusive porque o êxito do apoio não depende apenas de quem o destina, mas, sobretudo de quem o recebe. Um enigma. E se apoios oficiais garantissem a vitória de candidatos, o poder não perderia eleição no mundo. Na grande maioria dos casos - esta é a verdade - acontece o contrário. Graças a Deus é assim. Não fosse isso, seríamos todos escravos das máquinas ou da corrupção eleitoral. Ou das duas coisas combinadas.
E se não se pode processar a cidade, como no famoso filme italiano de Alberto Latuada, tampouco se pode comprá-la, adquirindo votos como se os eleitores estivessem num mercado da ilusão e da fantasia. Eduardo Paes é um candidato fraco. Não depende de si. Depende dos outros. Ele, inclusive, aceita tacitamente condicionar seu destino a forças a seu redor. Não tem vôo próprio.
Enquanto isso, Fernando Gabeira afirma-se por si. Não se empenha em obter apoio de ninguém. Isso de um lado. De outro, é alguém de nível muito superior ao de Paes. Hoje, creio que ampliou sua vantagem na reta de chegada. Vamos ver o que dizem o Datafolha e o Ibope.
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