BRASÍLIA - Depois das incursões obrigatórias e meio constrangedoras de sábado, em São Paulo, e domingo em São Bernardo, recolhe-se o presidente Lula em Brasília às questões administrativas e econômicas, que não são poucas. Fez o dever de casa, mesmo arriscado a não passar de ano, em especial no caso de Marta Suplicy.
Mais do que nunca, as eleições municipais em sua reta final demonstram que votos não se transferem, mesmo diante dos apelos do cidadão, mas popular do país. Pelo contrário, podem evaporar.
A grande preocupação do presidente, fora a crise econômica, desdobra-se até 2010. Terá sido a melhor estratégica haver lançado prematuramente Dilma Rousseff como a herdeira do trono? Muita gente começa a duvidar, em especial no PT. Porque perder o poder por antecipação não figura nos planos dos companheiros.
Para não imitar o Joãozinho, aquele menino que só pensava naquilo, vamos deixar para outro dia referências ao terceiro mandato, solução miraculosas mas golpistas para as forças políticas governistas permanecerem onde estão.
Vale inverter a equação e tentar iluminar o outro lado. Conseguirá o governador José Serra manter-se na pole-position para as próximas eleições presidências? Por enquanto, é o que revelam as pesquisas, mas as pesquisas, convenhamos, andam na baixa. Mais um vexame, domingo, igual aos vários verificados no primeiro turno, e mesmo injustamente em alguns casos os institutos sairão todos pelo ralo.
José Serra, por coincidência ou paranóia, anda sob fogo batido. Não se fala apenas do conflito entre as polícias civil e militar d São Paulo, ou da lambança que levou a polícia militar a perder preciosos segundos na tentativa de derrubar uma porta, ensejando ao animal de Santo André alvejar suas duas reféns.
Essas coisas prejudicam a imagem do responsável maior pela segurança pública paulista, mas parecem longe de ser únicos fatores de desgaste do governador. É preciso notar que sua administração, até agora, não revelou aquilo que, certo ou errado, faz a popularidade dos administradores: qual o programa, a obra, a realização capaz de destacar Serra? O feijão com arroz é servido com regularidade pela cozinha do palácio dos Bandeirantes, mas aquele algo mais tão a gosto do apetite do eleitor ainda não apareceu.
Em contrapartida, permanece nas preliminares da sucessão presidencial aquela pimenta picante e incômoda de que todas as decisões, faz tempo, tomam-se em São Paulo. Ressente-se o restante do Brasil de participação maior, porque tucanos, companheiros e até peemedebistas, os caciques são todos paulistas. Nada contra o maior estado da federação, o mais rico, o mais desenvolvido e o mais atuante, mas não há que ignorar a federação.
A sorte de Serra é que o governador de Minas anda na baixa. Perdeu ao apoiar Geraldo Alckimin para a prefeitura paulistana e perde mais ainda com a derrota anunciada de Márcio Lacerda para a prefeitura de Belo Horizonte. Mesmo assim, seria bom que o PSDB ampliasse o plano de vôo de seus tucanos para fora dos limites de São Paulo, quando nada para efeito pirotécnico. Bairrismo funciona para um lado e para outro.
O próximo ano será crucial para a candidatura José Serra, primeiro para demonstrar não haver trabalhado em silêncio, depois para verificar que se a locomotiva continua a pleno vapor, nem por isso os demais estados podem considerar-se vagões vazios...
A origem do dinheiro
Não demora muito e a equipe econômica terá liberado 100 bilhões de reais para não deixar falir o sistema financeiro. Ajuda aos bancos compra de dólares, injeções de recursos para manter o crédito, tratamento privilegiado aos exportadores. Tudo bem, parece não existir outra solução, aliás, adotada no mundo inteiro.
Só que tem um problema: qual a fonte desses recursos, responsáveis pelo Brasil haver amelhado perto de 200 bilhões de dólares em reservas lá fora e agora utilizados?
A resposta é uma só: o dinheiro é do contribuinte, do cidadão comum que paga impostos e trabalha sacrificado por baixos salários e vencimentos incompatíveis com a riqueza acumulada pela cautela e pela avidez do governo.
Se for para evitar o caos, mesmo beneficiando os especuladores de sempre, paciência, mas se para os bancos e grandes empresas fluem centenas de milhões, não estaria na hora de cuidar do indivíduo isolado, aquele que no fim do mês não conseguiu saldar suas contas, cortou refeições, individou-se cada vez mais e precisou vender o carro velho e tirar o filho da escola para fazê-lo trabalhar.
Afinal, o dinheiro agora despejado pelo Banco Central é tanto dele, ou mais, do que do diretor do banco que especulou mal e agora recebe ajuda direta, sem precisar preocupar-se com a vida milionária que continua levando.
Embolou o meio campo
O PT mandou avisar: caso a maioria do PMDB vete Tião Viana para presidente do Senado, ninguém precisa contar com o voto dos companheiros para eleger Michel Temer presidente da Câmara. Por conta disso Ciro Nogueira amplia sua campanha entre os deputados, ao tempo em que os adeptos de José Sarney, no Senado, aferram-se ao conceito de que o ex-presidente está acima dos partidos, não se constituindo propriamente numa opção do PMDB. Não dá para acreditar muito, talvez por isso Sarney resista à hipótese, mas a maioria de seus companheiros espera convencê-lo ainda a tempo.
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