A coluna Panorama Político (24/05) do jornal O Globo (Ilimar Franco)
A palavra
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), vai passar por uma prova de fogo. As MPs 601 (desoneração da folha) e 605 (redução tarifa de energia), ainda não votadas na Câmara, chegarão ao Senado com prazo inferior a sete dias para caducarem. Renan não fará nem a leitura das MPs. Renan garante: “Esta é uma decisão tomada pelo plenário. A regra não é do Renan é da Casa”.
STF e partidos de “mentirinha”
O presidente do STF, Joaquim Barbosa, não votou na sessão, em 2006, em que foi assegurada a sobrevivência de 29 partidos. Na época, sobre a cláusula de barreira, que fulminaria partidos com menos de 5% dos votos para a Câmara, disseram: “exdrúxula, extravagante e incongruente” (Marco Aurélio Melo), “inaceitável instrumento de exclusão das minorias” (Celso de Mello), “sacrifício radical das minorias” (Gilmar Mendes) e “fere de morte o pluralismo político” (Ricardo Lewandowski). Càrmen Lúcia sustentou que “a minoria de hoje tem que ter espaço para ser maioria amanhã”. Esta é a posição do STF que, agora, está sendo atacada por seu presidente.
“Sou da base. O PMDB tem o vice-presidente. Sempre defendi a redução dos ministérios. Daqui a pouco, se tivermos 50 partidos, vamos ter 50 pastas”
Valdir Raupp
Presidente do PMDB, no exercício, e senador (RO)
PT do Rio chuta o balde
O vice-presidente nacional do PT, Alberto Cantalice, reage ao governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ): “O PT do Rio não aceita chave de galão de ninguém. O processo político tem que ser feito com diálogo e não com pressão”.
Na berlinda
Governistas, tanto petistas quanto aliados, debitam ao ministro Guido Mantega (Fazenda) o naufrágio de acordo para aprovar a reforma do ICMs. Ele rejeitou o que havia sido negociado pelo demissionário secretário-executivo Nelson Barbosa. No fim, a ministra Ideli Salvatti foi acionada, mas já era tarde para o salvamento.
Tesoura no PMDB
Irritação com o corte no Orçamento das pastas geridas pelo partido. O Turismo perdeu mais de 70% da verba. O Desenvolvimento Agrário, petista, ficou com mais recursos (R$ 2,9 bi) que a peemedebista Agricultura (R$ 1,6 bi).
Os novos piratas
A Amazon, empresa americana de comércio na internet, quer ficar dona da palavra “Amazônia”. O pleito foi criticado ontem, no Senado, por Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). Esta não é a primeira vez que tal apropriação indevida é tentada. No passado, o Itamaraty derrotou empresa japonesa que queria ter a exclusividade no uso das palavras “cupuaçu” e “açai”.
Empurrando a máquina
Uma autoridade do PMDB diz que não ouviu a governadora Roseana Sarney (MA) criticar o vice Michel Temer, no Jaburu. Relatou que ela pediu e Temer vai cobrar, do BNDES, o prometido crédito de R$ 1 bi para o Programa Viva Maranhão.
A volta do soldado do passo certo
O presidente Lula, a exemplo do governo Dilma, também tinha seu analista de mídia. O assessor Bernardo Kucinski, enquanto esteve no governo, exercia o papel. Ele escrevia, todo dia, a “Carta Crítica” que "elogiava e espinafrava" jornalistas. (A íntegra de texto tratando do tema na coluna Panorama Político)
Pequenos produtores, que não usam o Pronaf, ficaram de fora de projeto, votado na Câmara, que renegocia as dívidas de quem perdeu a safra.
COLUNA PANORAMA POLÍTICO DE 11 DE JANEIRO DE 2006
"O soldado do passo certo
A imprensa nunca foi tão criticada, pelo governo e pela oposição, como durante o mandato do presidente Lula. Dependendo da vontade do freguês, a imprensa ora é tachada de governista ora é tratada como militante da oposição. Nunca houve no país tantos analistas de mídia como agora.
A esta atividade se entregou o assessor especial do presidente Lula Bernardo Kucinski, em entrevista para a Agência Repórter Social. Kucinski não costuma ser notícia de jornal, mas escreve diariamente um documento de duas páginas, o “Carta Crítica”, onde elogia e espinafra a imprensa e o governo. O presidente Lula e um grupo restrito de sete pessoas, ministros e assessores, recebem e lêem seus textos todas as manhãs.
Na entrevista, cuja íntegra está na página www.reportersocial.com.br, Kucinski não deixa pedra sobre pedra na área de comunicação do governo. Acadêmico, ele é professor da USP, não poupa ninguém de suas críticas, nem o PT nem o governo, e quando fala da imprensa, de colunistas e de repórteres, é ácido.
1. O erro do presidente Lula: “O presidente tem por obrigação receber a imprensa. É uma obrigação institucional. O presidente tem que falar com a imprensa e, através dela, falar com a nação. Eu acho que faltou ao Lula e ao governo a percepção dessa obrigação”.
2. Sobre a assessoria de imprensa do presidente: “Ele (Lula) passou a se comunicar diretamente (com a sociedade)... O governo até poderia ter feito isso se, ao mesmo tempo, estabelecesse um rito de (entrevista) coletiva, como todos os governos de países importantes fazem”.
3. O ex-secretário de Comunicação Luiz Gushiken: “Ele não era do ramo”.
4. O publicitário Duda Mendonça: “... a presença do Duda Mendonça foi perturbadora. Ele não podia ao mesmo tempo ser palpiteiro do governo e quem ia fazer ações... O Duda ficava dos dois lados do balcão”.
5. Sobre o PT: “Ele tem propostas de políticas públicas para várias áreas... mas para comunicação não tem... transferiu-se da vida política do PT um padrão de comunicação que é típico do político, que é a comunicação privilegiada”.
6. Sobre o que falta para os repórteres: “Está faltando tudo. Falta conhecer história e falta a preocupação em conhecer. Falta operosidade. Eles não trabalham a sério as questões, não vão a fundo”.
7. Sobre os colunistas da imprensa: “Todos eles defendem a política econômica do Palocci, do Banco Central, defendem corte do gasto público, o Estado mínimo. Por isso, eles são premiados com espaços nobres... Estão em todos os espaços ao mesmo tempo, porque eles estão falando aquilo que o poder quer que eles falem”.
8. Sobre a relação da imprensa com o governo Lula: “Ele sempre foi muito maltratado pela imprensa... Os jornalistas não têm respeito com a pessoa do Lula... Há sempre um pressuposto de que ele vai falar besteira, vai errar, de que ele não conhece as coisas... A palavra de ordem é acusar e linchar. Acho que o governo Lula tem muita coisa boa... A mídia não está cuidando disso, porque está obcecada pela denúncia”.
9. Sobre a cobertura da crise política pelos jornalistas: “Eles se sentem cruzados de uma cruzada moral... Eles acreditam que estão fazendo o bem. Eles estão percebendo a superfície das coisas e não os fundamentos. Eles não percebem que todos os que estão acusando o PT sempre foram corruptos. Eles estão discriminando. Acusam o PT e não os outros”.
10. Sobre o governo do presidente Lula: “... o nosso governo não foi capaz de mudar o país como ele prometeu... Nós fomos... absolutamente conservadores, retrógrados e eu diria até burros na política econômica... Nós enterramos o nosso próprio discurso de mudança”.
Mas ele também elogia.
11. Bernardo Kucinski por Bernardo Kucinski: “Ninguém tem coragem para dizer a verdade para o presidente claramente e eu digo todos os dias de manhã. Eu não estou lá para puxar o saco, elogiar. Eu também não estou lá para infernizar”.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), vai passar por uma prova de fogo. As MPs 601 (desoneração da folha) e 605 (redução tarifa de energia), ainda não votadas na Câmara, chegarão ao Senado com prazo inferior a sete dias para caducarem. Renan não fará nem a leitura das MPs. Renan garante: “Esta é uma decisão tomada pelo plenário. A regra não é do Renan é da Casa”.
STF e partidos de “mentirinha”
O presidente do STF, Joaquim Barbosa, não votou na sessão, em 2006, em que foi assegurada a sobrevivência de 29 partidos. Na época, sobre a cláusula de barreira, que fulminaria partidos com menos de 5% dos votos para a Câmara, disseram: “exdrúxula, extravagante e incongruente” (Marco Aurélio Melo), “inaceitável instrumento de exclusão das minorias” (Celso de Mello), “sacrifício radical das minorias” (Gilmar Mendes) e “fere de morte o pluralismo político” (Ricardo Lewandowski). Càrmen Lúcia sustentou que “a minoria de hoje tem que ter espaço para ser maioria amanhã”. Esta é a posição do STF que, agora, está sendo atacada por seu presidente.
“Sou da base. O PMDB tem o vice-presidente. Sempre defendi a redução dos ministérios. Daqui a pouco, se tivermos 50 partidos, vamos ter 50 pastas”
Valdir Raupp
Presidente do PMDB, no exercício, e senador (RO)
PT do Rio chuta o balde
O vice-presidente nacional do PT, Alberto Cantalice, reage ao governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ): “O PT do Rio não aceita chave de galão de ninguém. O processo político tem que ser feito com diálogo e não com pressão”.
Na berlinda
Governistas, tanto petistas quanto aliados, debitam ao ministro Guido Mantega (Fazenda) o naufrágio de acordo para aprovar a reforma do ICMs. Ele rejeitou o que havia sido negociado pelo demissionário secretário-executivo Nelson Barbosa. No fim, a ministra Ideli Salvatti foi acionada, mas já era tarde para o salvamento.
Tesoura no PMDB
Irritação com o corte no Orçamento das pastas geridas pelo partido. O Turismo perdeu mais de 70% da verba. O Desenvolvimento Agrário, petista, ficou com mais recursos (R$ 2,9 bi) que a peemedebista Agricultura (R$ 1,6 bi).
Os novos piratas
A Amazon, empresa americana de comércio na internet, quer ficar dona da palavra “Amazônia”. O pleito foi criticado ontem, no Senado, por Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). Esta não é a primeira vez que tal apropriação indevida é tentada. No passado, o Itamaraty derrotou empresa japonesa que queria ter a exclusividade no uso das palavras “cupuaçu” e “açai”.
Empurrando a máquina
Uma autoridade do PMDB diz que não ouviu a governadora Roseana Sarney (MA) criticar o vice Michel Temer, no Jaburu. Relatou que ela pediu e Temer vai cobrar, do BNDES, o prometido crédito de R$ 1 bi para o Programa Viva Maranhão.
A volta do soldado do passo certo
O presidente Lula, a exemplo do governo Dilma, também tinha seu analista de mídia. O assessor Bernardo Kucinski, enquanto esteve no governo, exercia o papel. Ele escrevia, todo dia, a “Carta Crítica” que "elogiava e espinafrava" jornalistas. (A íntegra de texto tratando do tema na coluna Panorama Político)
Pequenos produtores, que não usam o Pronaf, ficaram de fora de projeto, votado na Câmara, que renegocia as dívidas de quem perdeu a safra.
COLUNA PANORAMA POLÍTICO DE 11 DE JANEIRO DE 2006
"O soldado do passo certo
A imprensa nunca foi tão criticada, pelo governo e pela oposição, como durante o mandato do presidente Lula. Dependendo da vontade do freguês, a imprensa ora é tachada de governista ora é tratada como militante da oposição. Nunca houve no país tantos analistas de mídia como agora.
A esta atividade se entregou o assessor especial do presidente Lula Bernardo Kucinski, em entrevista para a Agência Repórter Social. Kucinski não costuma ser notícia de jornal, mas escreve diariamente um documento de duas páginas, o “Carta Crítica”, onde elogia e espinafra a imprensa e o governo. O presidente Lula e um grupo restrito de sete pessoas, ministros e assessores, recebem e lêem seus textos todas as manhãs.
Na entrevista, cuja íntegra está na página www.reportersocial.com.br, Kucinski não deixa pedra sobre pedra na área de comunicação do governo. Acadêmico, ele é professor da USP, não poupa ninguém de suas críticas, nem o PT nem o governo, e quando fala da imprensa, de colunistas e de repórteres, é ácido.
1. O erro do presidente Lula: “O presidente tem por obrigação receber a imprensa. É uma obrigação institucional. O presidente tem que falar com a imprensa e, através dela, falar com a nação. Eu acho que faltou ao Lula e ao governo a percepção dessa obrigação”.
2. Sobre a assessoria de imprensa do presidente: “Ele (Lula) passou a se comunicar diretamente (com a sociedade)... O governo até poderia ter feito isso se, ao mesmo tempo, estabelecesse um rito de (entrevista) coletiva, como todos os governos de países importantes fazem”.
3. O ex-secretário de Comunicação Luiz Gushiken: “Ele não era do ramo”.
4. O publicitário Duda Mendonça: “... a presença do Duda Mendonça foi perturbadora. Ele não podia ao mesmo tempo ser palpiteiro do governo e quem ia fazer ações... O Duda ficava dos dois lados do balcão”.
5. Sobre o PT: “Ele tem propostas de políticas públicas para várias áreas... mas para comunicação não tem... transferiu-se da vida política do PT um padrão de comunicação que é típico do político, que é a comunicação privilegiada”.
6. Sobre o que falta para os repórteres: “Está faltando tudo. Falta conhecer história e falta a preocupação em conhecer. Falta operosidade. Eles não trabalham a sério as questões, não vão a fundo”.
7. Sobre os colunistas da imprensa: “Todos eles defendem a política econômica do Palocci, do Banco Central, defendem corte do gasto público, o Estado mínimo. Por isso, eles são premiados com espaços nobres... Estão em todos os espaços ao mesmo tempo, porque eles estão falando aquilo que o poder quer que eles falem”.
8. Sobre a relação da imprensa com o governo Lula: “Ele sempre foi muito maltratado pela imprensa... Os jornalistas não têm respeito com a pessoa do Lula... Há sempre um pressuposto de que ele vai falar besteira, vai errar, de que ele não conhece as coisas... A palavra de ordem é acusar e linchar. Acho que o governo Lula tem muita coisa boa... A mídia não está cuidando disso, porque está obcecada pela denúncia”.
9. Sobre a cobertura da crise política pelos jornalistas: “Eles se sentem cruzados de uma cruzada moral... Eles acreditam que estão fazendo o bem. Eles estão percebendo a superfície das coisas e não os fundamentos. Eles não percebem que todos os que estão acusando o PT sempre foram corruptos. Eles estão discriminando. Acusam o PT e não os outros”.
10. Sobre o governo do presidente Lula: “... o nosso governo não foi capaz de mudar o país como ele prometeu... Nós fomos... absolutamente conservadores, retrógrados e eu diria até burros na política econômica... Nós enterramos o nosso próprio discurso de mudança”.
Mas ele também elogia.
11. Bernardo Kucinski por Bernardo Kucinski: “Ninguém tem coragem para dizer a verdade para o presidente claramente e eu digo todos os dias de manhã. Eu não estou lá para puxar o saco, elogiar. Eu também não estou lá para infernizar”.
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