domingo, 22 de dezembro de 2013

PAULO COÊLHO NO PAINEL DO PAIM

 

Dos que tocam


dom, 22/12/13
por Paulo Coelho |
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Um amigo vem até o apartamento onde estou passando uma tempo­rada em New York, mostrar um documentário que está fazendo sobre a busca espiritual do ser humano. Ficamos assistindo o vídeo por meia hora; depois, abrimos uma garrafa de vinho, e ele começa a me contar todas as dificuldades pelas quais está passando para conseguir o financiamento do filme.
Os problemas parecem tão insuperáveis que, a certa altura, pergunto porque não desistiu de tudo nos primeiros seis meses – quando ainda não havia gasto tanto tempo e dinheiro no projeto.
“Porque esta foi a maneira que escolhi para aprender”, diz ele. “Existe um velho ditado na Kaballah: aqueles que tentam ilumi­nar terminam sendo iluminados”.

Do sagrado


sáb, 21/12/13
por Paulo Coelho |
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Tudo que fazemos é sagrado. A arte é uma das muitas maneiras de permitir que esta bênção chegue a todo mundo, e interfira na vida de muitas pessoas. Cabe ao artista a responsabilidade de entender a mensagem da qual é instrumento – e procurar, sempre que possível – dividi-la com os outros.
Todos nós somos artistas. Não importa se pintamos, escrevemos num jornal, dirigimos um ônibus, trabalhamos num banco, servimos a mesa, cuidamos dos filhos. Em nossa vida, e em nossas atitudes, a mensagem de Deus está presente. Mesmo sem entender direito qual é esta mensagem, cabe a nós dar um sentido sagrado a tudo que fazemos.
Seremos capazes de melhorar nossa própria vida – e consequentemente, contribuir para um mundo mais feliz – se tivermos sempre em mente que cada gesto nosso interfere em todo o universo.

Dos querubins


sex, 20/12/13
por Paulo Coelho |
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Trecho de Joseph Campbell (“O poder do mito”)
“Quando expulsou o homem do paraíso, Jeová colocou dois querubins na entrada, com uma espada de fogo. O mesmo acontece na tradição budista: há dois soldados na frente da árvore da vida. O que significam?”
“Eles são o medo e o desejo – um par de opostos. Quando você se aproxima de seu sonho, estas figuras parecem reais e ameaçadoras. Há um medo constante em relação ao desconhecido, e um desejo imenso de continuar vivendo da maneira que se está acostumado”.
“As duas figuras podem nos ameaçar, mas não nos causam qualquer mal. Enquanto não as enfrentarmos, permaneceremos fora do paraíso, por nossa própria vontade”.
“Não podemos culpar ninguém. Afinal, a decisão de ficar na porta é nossa responsabilidade”.

Do Tao II


qui, 19/12/13
por Paulo Coelho |
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Tradução livre de um trecho do “Tao Te King”:
Há algo inerente e natural
que já existia antes do céu e da terra,
e continua presente, sem mover-se,
sem poder ser medido, sem mudar de forma.
Faz parte de tudo que foi criado,
e nunca se cansa de estar presente.
Poderei chamá-lo de Mãe do Universo
embora não saiba seu nome.
Sua virtude é suprema, e sempre segue adiante.
Seguir adiante significa: ir longe.
Ir longe significa: retornar.

Da negação


qua, 18/12/13
por Paulo Coelho |
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Todos nós somos capazes de atitudes sombrias. Erros graves, que afetam vidas de outros, com conseqüências terríveis.
Na Última Ceia Jesus acusou, com a mesma gravidade – e na mesma frase – dois de seus apóstolos. Ambos cometeram os crimes previstos por Jesus. Judas Iscariotes caiu em si, e condenou a si mesmo.  Pedro também caiu em si, depois de negar por três vezes tudo aquilo em que acreditava.
Mas, no momento decisivo, Pedro entendeu o verdadeiro significado do Amor. Pediu perdão, e seguiu em frente, mesmo humilhado.
Ele também podia ter escolhido o suicídio. Ao invés disso, encarou o Senhor e seus apóstolos, e deve ter dito: “OK, falem do meu erro enquanto durar a raça humana. Mas deixem-me corrigi-lo”.
Pedro entendeu que o Amor perdoa. Judas não entendeu nada.

Do amor VI


ter, 17/12/13
por Paulo Coelho |
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Todos nós precisamos de amor. Faz parte da natureza humana – tanto quanto comer, beber, e dormir. Muitas vezes nos sentamos diante de um belo pôr do sol, completamente sós, e pensamos: “nada disto tem importância, porque não posso compartilhar toda esta beleza com alguém”.
Nestes momentos, vale a pena perguntar: quantas vezes nos pedi­ram amor, e nós simplesmente viramos nosso rosto para o outro lado? Quantas vezes tivemos medo de nos aproximar de alguém e dizer, com todas as letras, que estávamos apaixonados?
Cuidado com a solidão. Ela vicia tanto quanto as drogas mais perigosas. Se o pôr do sol parece não ter mais sentido para você, seja humilde e parta em busca de amor. Saiba que – assim como outros bens espirituais – quanto mais você estiver disposto a dar, mais receberá em troca.
 

Dos encontros


seg, 16/12/13
por Paulo Coelho |
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Todos nós já pudemos perceber que existem determinadas forças que nos aproximam de certas pessoas. Geralmente são pessoas com quem necessitamos dividir algo importante. Entretanto, para permitir que estas forças atuem, é preciso controlar a ansiedade.
Um exemplo recente: eu sabia que o músico e compositor Wagner Tyso estava em Madrid, queria me encontrar com ele, mas parecia impossível.
Eu deixava recado na secretária eletrônica, ele deixava recado no meu hotel, e nunca conseguíamos nos falar.
Um belo dia precisei ir à França de carro. Na volta, cansado de dirigir por mais de 8 horas, parei num bar perdido na estrada, no meio de lugar nenhum. Quando entrei para tomar um café, quem estava lá, também tomando um café, também parando para descansar um pouco? Vocês adivinharam: Wagner Tyso!

Do sono


dom, 15/12/13
por Paulo Coelho |
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“Todos nós conhecemos uma doença na África Central chamada de doença do sono. O que precisamos saber é que existe uma doença semelhante que ataca a alma, que é muito perigosa, porque se instala sem ser percebida. Quando você notar o menor sinal de indiferença e de falta de entusiasmo, fique alerta!”
“A única maneira de se prevenir contra esta doença é entendendo que a alma sofre, e sofre muito, quando a obrigamos a viver superficialmente. A alma gosta de coisas belas e profundas. Dê a ela pelo menos o silêncio dos dias de domingo – quando você pode escutá-la sem ser perturbado pelo barulho da vida diária”.
O conselho – importantíssimo – vem de Albert Schweitzer, médi­co e missionário, que recebeu o prêmio Nobel da Paz em 1952.

Dos sapatos


sáb, 14/12/13
por Paulo Coelho |
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Toda a nossa caminhada neste mundo irá depender de como olhamos os desafios que estão adiante. Conhecemos bem a história do otimista e do pessimista diante de um copo com água pela metade: o primeiro acha que está meio cheio, o segundo afirma que está meio vazio. T. Farias conta outra versão do mesmo tema:
Uma empresa americana de calçados manda dois representantes a um determinado país da África, para estudar a possibilidade de construir uma fábrica ali. E recebe os dois relatórios:
“Aqui ninguém usa sapatos”, escreve o primeiro representante. “Se instalarmos uma fábrica, teremos prejuízo”.
“Aqui ninguém tem sapatos”, escreve o segundo. “Se instalarmos uma fábrica, venderemos tudo”.

Do deserto

sex, 13/12/13
por Paulo Coelho |
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Do deserto
 sex, 13/12/13
por Paulo Coelho |
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Texto do poeta americano L. Eisley (1907-1977):
“Por quantas dimensões a vida precisa passar?
“Por quantas estradas o homem precisa caminhar buscando o grande segredo da existência? A tarefa é difícil, gigantesca, muitas vezes impossível, mas nenhum destes argumentos é capaz de nos impedir de seguir adiante.
“Não podemos saber o que aconteceu no passado e que levou as coisas a serem como são. Não podemos saber o que nos espera adiante. Em determinado momento, Deus nos chamou para tomar parte da caravana da vida, e estamos cheios de dúvidas.
“Mas devemos tentar ir o mais longe possível.
“Mesmo no meio do deserto é importante tentar descobrir as maravilhas enterradas na areia”.

 

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