quarta-feira, 16 de abril de 2014

CPIs fizeram do Congresso puxadinho do STF
(Josias de Souza)

Divulgação
A política é uma sucessão de poses. O político começa a fazer pose defronte do espelho, ao escovar os dentes de manhã. E só para na hora de se enfiar sob os cobertores, à noite. Tome-se o caso do presidente do Congresso. No momento, Renan põe seus melhores ternos, suas mais elegantes gravatas e suas melhores virtudes para demonstrar que não se considera o Calheiros que todos conhecem, mas um reles subordinado das togas do STF.
Renan tem sobre a mesa quatro pedidos de CPI. Duas só do Senado. Duas mistas, incluindo a Câmara. Duas só da Petrobras. Duas mais amplas, misturando a Petrobras com o metrô de São Paulo e o porto pernambucano de Suape, temas que incomodam a oposição. Com poderes para optar por qualquer uma, Renan decidiu não decidir. Pose.
Oposição e governo foram bater na porta do STF. Renan achou ótimo. Pose. Acionada, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado passou o trator sobre a minoria, aprovando a CPI ampliada. Renan aplaudiu. Disse que o melhor é investigar tudo. Pose.
Os líderes partidários informaram que preferem a CPI mista em vez da comissão exclusiva do Senado. Renan assentiu gostosamente. Pose. Na semana passada, ele prometera encerrar a novela na noite desta terça-feira. Pose.
Velho crítico da judicialização da política, Renan agora prega a submissão do Congresso Nacional à deliberação do Supremo Tribunal Federal. “O importante, primeiro, é que nós tenhamos a decisão do Supremo sobre o que é que podemos fazer em relação à criação de comissões parlamentares de inquérito quando há vários requerimentos. A prudência recomenda que nós esperemos”, disse Renan. Pose.
Renan atribui o impasse ao ineditismo do enredo. O Congresso jamais lidara com pedidos similares de CPIs, ele alega. Pose. Antes mesmo da deliberação do STF, Renan aventa a hipótese de o Congresso aprovar um projeto capaz de disciplinar os surtos investigatórios dos congressistas. Pose.
A plateia, em sua densa ingenuidade, talvez não imagine como Renan precisa de poses nesse instante. Articulador de patrióticas nomeações na Petrobras, cada movimento, cada frase, cada olhar de Renan é uma pose. Juntas, elas compõem um quadro plástico.
Todo mundo sabe que o Renan dos últimos dias é uma representação do velho Calheiros de sempre. Mas em vez de transformar cada discurso num comício, os incomodados, Aécio Neves à frente, preferem visitar a ministra Rosa Weber, do STF. Rogam-lhe que obrigue o Parlamento a fazer por pressão o que não é capaz de fazer por obrigação. Poses coletivas.
O Congresso virou um teatro. Se Dante fosse deputado ou senador no Brasil de hoje, estaria dispensado de fazer a Divina Comédia. Bastaria que protocolasse no STF um mandado de segurança. E Dante viraria um escritor por liminar. Em Brasília, a comédia já vem pronta. É 100% feita de poses.

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