Marina não é escolha automática do PSB, diz professor
Lançar candidatura da ex-senadora seria a atitude mais racional, mas deve render muitas negociações dentro do partido, segundo Roberto Romano, professor Unicamp
São Paulo – Dez dias é o prazo que a coligação liderada pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro) tem para definir o nome de quem assumirá o posto de Eduardo Campos na corrida eleitoral pelo Planalto. O candidato morreu na manhã desta quarta-feira em um acidente de aéreo.
Marina Silva,
candidata à vice na chapa, é o nome mais óbvio. No entanto, segundo
Roberto Romano, professor de Filosofia Política da Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp), a ex-senadora não é unanimidade dentro do
partido de Campos. “O lançamento da candidatura dela será produto de
muita negociação interna”, afirma.
Apesar de não ser automática, a escolha pela ex-senadora seria a opção mais racional para o partido. Marina foi a principal revelação das eleições presidenciais de 2010. Pelo Partido Verde (PV), do qual fazia parte na época, ela abocanhou 19,2% dos votos no primeiro turno – o que representa 20 milhões de eleitores.
O desempenho diante do eleitorado não seria a única questão.“Se a candidatura de Marina for lançada, questiona-se até que ponto ela continuaria com a paz interna com o PSB dada a diversidade de culturas. Se lançar outro nome, certamente o partido continuará pequeno", afirma o professor. Confira trechos da entrevista que ele concedeu à EXAME.com:
EXAME.com: A Marina Silva é, realmente, a candidata natural do PSB neste momento?
Roberto Romano: Certamente ela é a candidata que mais pode amealhar votos para o PSB e aliados, só que isso não quer dizer que ela seja automaticamente candidata à presidente.
Depois que o Rede Solidariedade não conseguiu concorrer às eleições, a Marina Silva foi recebida pelo PSB justamente para potencializar a candidatura de Campos. Ela não é velha militante do partido e não é unanimidade.
Mas é a candidata mais racional, a que renderia o maior contingente de votos. O lançamento da candidatura dela será produto de muita negociação interna.
EXAME.com: Se não for ela, quem poderia ser lançado candidato neste momento?
Roberto Romano: Como em quase todos os partidos políticos, o PSB não tem nomes que atraiam multidões. A Luisa Erundina é conhecida, mas não é unanimidade dentro do partido. O Cristóvão Buarque é pernambucano e tem um eleitorado em Goiás e Distrito Federal, mas não tem, por enquanto, a dimensão de liderança que o Campos tinha.
O que mais me deixa preocupado é que a candidatura do Eduardo trazia uma oxigenação ao ambiente político brasileiro. Ele não era a grande solução, mas a novidade estava na pluralidade que ele representava. Estamos há 20 anos na bipolaridade entre PT e PSDB. Passado o luto, a guerra entre tucanos e petistas vai voltar.
EXAME.com: A Marina tem condições de assumir este papel - como ela fez em 2010?
Roberto Romano: Como a formação de Marina e do PSB, às vezes, são antagônicas, é muito difícil. Tanto do ponto de vista programático, quanto do ponto de vista prático.
Em 2010, ela conseguiu muito apoio porque não estava dentro de um partido político tradicional. Mesmo assim, ela já teve dificuldade para arrecadar fundos. Agora, com o Aécio tendo o apoio maciço do empresariado, ela vai ter muita dificuldade.
EXAME.com: Muitos têm falado que, internamente, a união do PSB com o Rede, de Marina, seria parecida com a fusão de duas empresas com culturas diferentes. O senhor concorda?
Roberto Romano: O Rede surgiu de um movimento posterior ao socialismo e tem o traço muito forte de luta pela ecologia, contra a corrosão da natureza pelo desenvolvimento industrial. Já o PSB é o socialista democrático clássico. Para um partido assim, é muito difícil incluir estes elementos.
EXAME.com: Qual deve ser o tom das negociações daqui para frente? O que está em jogo?
Roberto Romano: O PSB só tinha a ganhar com esta eleição. Mesmo que fosse derrotado, sairia fortalecido e poderia deixar de ser pequeno. Se a candidatura de Marina for lançada, questiona-se até que ponto ela continuaria com a paz interna com o PSB dada a diversidade de culturas. Se lançarem com outro nome, certamente vão continuar pequenos.
Trocar a roda com a caminhonete andando é muito difícil. O tempo é um elemento essencial da política: você gasta tempo para ganhá-lo. O PSB não tem tempo para gastar. Ele foi tolhido pela tragédia.
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Apesar de não ser automática, a escolha pela ex-senadora seria a opção mais racional para o partido. Marina foi a principal revelação das eleições presidenciais de 2010. Pelo Partido Verde (PV), do qual fazia parte na época, ela abocanhou 19,2% dos votos no primeiro turno – o que representa 20 milhões de eleitores.
O desempenho diante do eleitorado não seria a única questão.“Se a candidatura de Marina for lançada, questiona-se até que ponto ela continuaria com a paz interna com o PSB dada a diversidade de culturas. Se lançar outro nome, certamente o partido continuará pequeno", afirma o professor. Confira trechos da entrevista que ele concedeu à EXAME.com:
EXAME.com: A Marina Silva é, realmente, a candidata natural do PSB neste momento?
Roberto Romano: Certamente ela é a candidata que mais pode amealhar votos para o PSB e aliados, só que isso não quer dizer que ela seja automaticamente candidata à presidente.
Depois que o Rede Solidariedade não conseguiu concorrer às eleições, a Marina Silva foi recebida pelo PSB justamente para potencializar a candidatura de Campos. Ela não é velha militante do partido e não é unanimidade.
Mas é a candidata mais racional, a que renderia o maior contingente de votos. O lançamento da candidatura dela será produto de muita negociação interna.
EXAME.com: Se não for ela, quem poderia ser lançado candidato neste momento?
Roberto Romano: Como em quase todos os partidos políticos, o PSB não tem nomes que atraiam multidões. A Luisa Erundina é conhecida, mas não é unanimidade dentro do partido. O Cristóvão Buarque é pernambucano e tem um eleitorado em Goiás e Distrito Federal, mas não tem, por enquanto, a dimensão de liderança que o Campos tinha.
O que mais me deixa preocupado é que a candidatura do Eduardo trazia uma oxigenação ao ambiente político brasileiro. Ele não era a grande solução, mas a novidade estava na pluralidade que ele representava. Estamos há 20 anos na bipolaridade entre PT e PSDB. Passado o luto, a guerra entre tucanos e petistas vai voltar.
EXAME.com: A Marina tem condições de assumir este papel - como ela fez em 2010?
Roberto Romano: Como a formação de Marina e do PSB, às vezes, são antagônicas, é muito difícil. Tanto do ponto de vista programático, quanto do ponto de vista prático.
Em 2010, ela conseguiu muito apoio porque não estava dentro de um partido político tradicional. Mesmo assim, ela já teve dificuldade para arrecadar fundos. Agora, com o Aécio tendo o apoio maciço do empresariado, ela vai ter muita dificuldade.
EXAME.com: Muitos têm falado que, internamente, a união do PSB com o Rede, de Marina, seria parecida com a fusão de duas empresas com culturas diferentes. O senhor concorda?
Roberto Romano: O Rede surgiu de um movimento posterior ao socialismo e tem o traço muito forte de luta pela ecologia, contra a corrosão da natureza pelo desenvolvimento industrial. Já o PSB é o socialista democrático clássico. Para um partido assim, é muito difícil incluir estes elementos.
EXAME.com: Qual deve ser o tom das negociações daqui para frente? O que está em jogo?
Roberto Romano: O PSB só tinha a ganhar com esta eleição. Mesmo que fosse derrotado, sairia fortalecido e poderia deixar de ser pequeno. Se a candidatura de Marina for lançada, questiona-se até que ponto ela continuaria com a paz interna com o PSB dada a diversidade de culturas. Se lançarem com outro nome, certamente vão continuar pequenos.
Trocar a roda com a caminhonete andando é muito difícil. O tempo é um elemento essencial da política: você gasta tempo para ganhá-lo. O PSB não tem tempo para gastar. Ele foi tolhido pela tragédia.
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