Uma tarde de 1970, o governador do Paraná, Paulo Pimentel, conversou longamente com o deputado da Arena, Haroldo Leon Peres, no escritório da representação do Estado, na esquina da Rua da Assembléia com a Avenida Rio Branco, no Rio. Saiu Peres, Pimentel estava furioso:
- Nery, esse Haroldo é um idiota. Imagina que veio aqui me dizer que vai ser o próximo governador. Já está escolhido, mas gostaria de ter o meu apoio. Em troca, assegura para mim o Ministério da Agricultura. Mal conseguiu eleger-se deputado, não tem prestígio, eu não o quero, o Ney não o aceita, como é que ele vai ser governador e negociando ministério?
Uma semana depois, ao fim de um jantar, em Brasília, o general presidente Médici dizia à mulher do deputado Haroldo Leon Peres:
- A senhora está de parabéns. Amanhã, saberá.
Leon Peres
No dia seguinte o governador Paulo Pimentel e o senador Ney Braga foram chamados ao Palácio do Planalto pelo presidente Médici:
- Quero comunicar aos senhores que o próximo governador do Paraná vai ser o deputado Leopoldo Peres.
Ney, pálido, baixou os olhos e suou frio. Pimentel sorriu amarelo:
- Mas, presidente, o deputado Leopoldo Peres, secretário-geral da Arena, é do Amazonas. Não tem nada a ver com o Paraná.
- Não é esse não. É o outro, de Maringá, no Paraná, o Haroldo Peres. Paulo saiu do palácio para o aeroporto. Ney, para uma casa de saúde. Leon Peres foi nomeado. Um ano depois, foi demitido por corrupção demais.
Londrina
Cada país tem a Disney que merece. Os Estados Unidos têm duas: a Disneylândia, em Orange, na Califórnia, e a Disneyworld, em Orlando, na Flórida. A França tem a Eurodisney, perto de Paris. O Brasil tem a Justiça Eleitoral. É o maior parque de diversões do País. Uma terapia ocupacional:
1 - "O Tribunal Superior Eleitoral anulou a vitória de Antonio Belinati, do PP, no segundo turno, com 51,735% dos votos válidos. Teve a candidatura impugnada pela rejeição de suas contas no Tribunal de Contas da União em 1999 (há nove anos!), quando cumpria seu terceiro mandato".
2 - "Em 2000, Belinati teve o mandato cassado pela Câmara Municipal de Londrina, sob a acusação de desviar R$ 100 milhões dos cofres públicos e de usar indevidamente recursos públicos para sua promoção pessoal" (A Polícia Federal o indiciou, o Ministério Público Federal o denunciou, a Justiça o condenou e ele foi preso.) "Mesmo assim, Belinati conseguiu anular na Justiça Eleitoral a suspensão de seus direitos políticos e disputou a Prefeitura de Londrina em 2004" ("Folha").
Belinati
3 - "O Ministério Público pediu a impugnação da candidatura dele porque as contas da época em que foi prefeito, de 97 a 2000, foram rejeitadas pelo Tribunal de Contas. O Tribunal Regional Eleitoral atendeu ao pedido do Ministério Público, mas Belinati recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral e ganhou (sic) liminar do ministro Marcelo Ribeiro. Quarta, por 5 votos a 2, o TSE cassou a liminar e o registro" (Mas Belinati já havia disputado o primeiro turno e o segundo turno e sido eleito) ("O Globo").
4 - "Cabe agora à Justiça Eleitoral de Londrina decidir se haverá nova eleição, se será empossado o segundo colocado - Luiz Carlos Hauly, do PSDB - ou se haverá novo segundo turno entre o segundo e o terceiro colocados. A Justiça ainda não se manifestou" ("Folha").
Quando a Justiça Eleitoral de Londrina "se manifestar", haverá recurso para o Tribunal Regional Eleitoral. Quando o Tribunal Regional Eleitoral decidir, haverá recurso para o Tribunal Superior Eleitoral. Quando o Tribunal Superior Eleitoral decidir, haverá recurso para o Supremo Tribunal Federal.
Justiça Eleitoral
Como se passaram 10 anos desde a cassação e prisão dele, no mínimo serão necessários mais dez anos para a decisão final da Justiça Eleitoral. Ninguém sabe se Belinati ainda estará vivo e sobretudo se a maioria dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral já terá morrido.
E Londrina, com 500 mil habitantes, a segunda maior cidade do Paraná, ficará mais 10 anos com seu prefeito corrupto "sub judice", sua prefeitura "sub judice", seu povo "sub judice" e os alegres ministros do Tribunal Superior Eleitoral "doando" liminares na Disney Eleitoral.
Diz "O Globo" que há "um mistério" nisso tudo. Por que o Tribunal Superior Eleitoral deixou para decidir só depois do segundo turno, se esta semana cassou a liminar, cassou o registro e cassou a eleição por 5 a 2%?
É a terapia ocupacional. É a Disney Eleitoral. Querem é se divertir.
Mídia da paz
Na internet, leio um texto primoroso de meu velho companheiro de Rádio Mundial, Paiva Neto, presidente da LBV (Legião da Boa Vontade), a única ONG brasileira que faz parte do Conselho de Assistência Social da ONU. Analisando a tragédia da jovem e bela Eloá de Santo André, ele cita o presidente do Conselho Nacional de Propaganda, Hiran Castello Branco:
"A mídia hoje se constitui no espaço público no qual a sociedade discute os seus problemas e tem uma grande influência na formação das crianças e dos jovens. E lamentavelmente a violência é talvez um dos produtos mais promovidos desde a Segunda Guerra Mundial até os dias atuais. É possível obter grandes audiências construindo a cultura da paz".
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