quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O PT poderá reagir (Carlos Chagas - Tribuna da Imprensa)

BRASÍLIA - Como regra, o PT costuma tomar decisões através de sua Executiva Nacional, em São Paulo. Quinze ou dezesseis pessoas, como rotina. Claro que quase sempre de comum acordo com o presidente Lula. Como está marcada para sexta-feira, em Brasília, reunião do Diretório Nacional do partido, com mais de cem companheiros, a pergunta que se faz é se anda acontecendo coisa grave ou, mesmo, explosiva, nos corredores petistas.

Divulga-se que no encontro será examinada e quem sabe decidida à questão das presidências da Câmara e do Senado. Porque o acordo anterior entre PT e PMDB era para a alternância nas presidências das casas do Congresso. Arlindo Chinaglia, do PT, seria sucedido por Michel Temer, do PMDB, na Câmara, enquanto no Senado Garibaldi Alves, do PMDB, cederia o lugar a Tião Viana, do PT.

Menos pela vitória nas eleições municipais, mais pela observação das preliminares da sucessão presidencial de 2010, senadores do PMDB decidiram-se fazer valer o regimento interno do Senado, estabelecendo a presidência para a maior bancada. O PMDB dispõe de vinte senadores, o PT de treze, mantida proporção parecida na Câmara.

Em pé-de-guerra, propriamente, o PT não está, mas as escaramuças começaram. Se os peemedebistas não cumprem o acordo no Senado, os petistas sentem-se desobrigados de cumpri-lo na Câmara. Em vez de votar no deputado Michel Temer, votariam no deputado Ciro Nogueira, avulso, ou em outro nome a aparecer. Seria a réplica pelo fato de o PMDB não escolher Tião Viana e lançar um dos seus, quem sabe até José Sarney.

No começo o presidente Lula procurou obter o compromisso dos peemedebistas, depois vacilou um pouco, não querendo briga com o partido fundamental para a preservação do poder em 2010. Parece que de segunda-feira para cá, o chefe do governo engrossou de novo, exigindo a alternância. Poderá oscilar outra vez, até sexta-feira, tudo dependendo da capacidade de resistência do PMDB, ao qual também não interessam entreveros com o palácio do Planalto. Afinal, o partido tem seis ministros e montes de dirigentes de estatais e sucedâneos.

A solução poderá estar na convocação do Diretório Nacional do PT, pretensamente quem dá a última palavra. Se foram apenas os dirigentes petistas a programá-la, sem participação do presidente Lula, será sinal de turbulências no relacionamento entre eles. Como o presidente não é ingênuo, quem sabe partiu dele a iniciativa, mesmo encoberta, de reunir o dito órgão máximo das decisões?

Um fechamento de questão pela alternância no Senado, tendo como reação o abandono do acordo na Câmara, levaria a iniciativa ao PMDB. Como reagiriam seus caciques? Mesmo sabendo que Lula não rasga dinheiro e não demitirá os ministros do maior partido nacional, um curto-circuito faria mal a todos. Estaria nessa pressão a chave para a vitória de Tião Viana?

O que nos leva à última consideração: os motivos para os senadores do PMDB reivindicarem a presidência da casa transcendem questões regimentais e até a idiossincrasia verificada entre Tião Viana e o ex-presidente Renan Calheiros. Atingem diretamente a sucessão presidencial de 2010. Dispondo das duas presidências do Congresso, o partido balizaria a disputa.

Primeiro, evitando manobras para a mudança nas regras do jogo, ou seja, impedindo a votação de emendas constitucionais capazes de gerar o terceiro mandato ou a prorrogação por dois anos. Como, também, obrigando o presidente a desistir da candidatura de Dilma Rousseff, se a chefe da Casa Civil não decolar.

Dirigindo os trabalhos na Câmara e no Senado, tudo favorecerá os interesses do PMDB. Só que esses formam um arco-íris: apoiar Dilma, se ela emplacar, indicando o candidato a vice-presidente; forçar o presidente Lula a aceitar Aécio Neves, se ele ingressar no partido, ou bandear-se para José Serra. São complicados os desígnios do PMDB...
Logo no estado natal de Lula

Divulgou-se esta semana a primeira pesquisa, mesmo restrita a Pernambuco, a respeito da sucessão presidencial. Senão um espectro das tendências nacionais, a consulta confirmou velhos números, conhecidos antes da campanha pelas eleições municipais. Deu José Serra na frente, seguido por Ciro Gomes, Aécio Neves e Heloísa Helena. Fechando a raia ficou Dilma Rousseff, com minguados 4%.

Com o maior respeito, fica evidente que Pernambuco não é o Brasil, mas se sinais idênticos começarem a ser colhidos em outros estados e outras regiões estará aceso o sinal amarelo no semáforo postado defronte ao palácio do Planalto. Contaria o presidente Lula com outras opções petistas? Dificilmente, pelo menos analisando o quadro com os fatores de hoje. Para ele, será insistir na chefe da Casa Civil através de mecanismos bem superiores aos adotados até agora ou...

Ou curvar-se ao abominável apelo que se faz sentir cada vez mais forte no PT e adjacências: o terceiro mandato ou a prorrogação por dois anos. Aliás, a esse respeito, é bom esclarecer que por falar de bruxas a gente tem que entrar no caldeirão. Pelo contrário, levantando com freqüência essa hipótese execrável porque golpista, estamos alertando, jamais estimulando. O esclarecimento vai para o leitor e ouvinte Ari Marques, de São Paulo, capital.
Alckmin não recua

Desabafo de Geraldo Alckmin, ouvido por quem esteve com ele faz pouco: "Eu sou feito o Zagalo. Vão ter que me engolir...".

O ex-governador e candidato derrotado à prefeitura paulistana mantêm duas disposições paralelas: não sair do PMDB e colocar-se como candidato à sucessão de José Serra.

Alckmin sabe não contar com a menor simpatia do atual governador, com quem, aliás, ainda não se encontrou desde o domingo 5 de outubro, quando da realização do primeiro turno das eleições municipais. Mas sabe, também, que um PSDB rachado em São Paulo não constituirá propriamente uma boa rampa de lançamento para a candidatura de Serra à presidência da República.

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