sábado, 9 de agosto de 2008

Herança gaúcha (Sebastião Nery - Tribuna da Imprensa)

Antonio Carlos de Andrada, presidente (governador) de Minas em 1930, juntou-se ao Rio Grande do Sul, na Aliança Liberal, para derrubar o paulista Washington Luís e entronizar o gaúcho Getulio Vargas. Pedro Aleixo, correligionário de Antonio Carlos, desconfiava da jogada:

- Por que o senhor está se unindo aos gaúchos?
- Na vida, a gente tem que saber escolher as companhias na hora certa. Para brigar num bar, chamo os filhos do Mendes Pimentel. Para ir ao teatro, vou com o Ataulfo de Paiva. Para tomar o poder, tomo com os gaúchos.

(Esse Mendes Pimentel, de filhos valentes, foi um ilustre e também valente jurista de Minas. Quando Getulio deu o golpe de novembro de 37, Mendes Pimentel era diretor da Faculdade de Direito de Minas. Telegrafou a Francisco Campos, mineiro e ministro da Justiça, propondo que, em lugar da Polaca, a Constituição por ele fabricada à semelhança da Constituição fascista polonesa, bastava Getulio assinar um decreto de dois artigos:

Art. 1º - Fica revogada a lei que aboliu a escravatura no Brasil.
Art. 2º - Os brancos passam a ser também escravos.)
Antidemocracia

Os gaúchos que me perdoem, até porque são tantas as exceções, como o nunca assaz louvado senador Pedro Simon. Mas o currículo da maioria dos líderes e dirigentes políticos do Rio Grande do Sul, no último século, nada tem a ver com democracia. Pelo contrário. Consideram-na incômoda, descartavel e às vezes até desprezível. Não preciso citar muitos:

1 - Julio de Castilhos, fundador, em 1879, do Partido Republicano Riograndense, com Assis Brasil e Pinheiro Machado. Positivista, militarista e florianista, proclamada a República, redigiu o projeto da Constituição gaúcha e "instaurou no Estado um Executivo forte, em detrimento do Legislativo, que tinha sua ação limitada ao setor orçamentário".
De Castilhos a Brizola

2 - Pinheiro Machado, discípulo, aliado e braço direito de Julio de Castilhos, foi senador durante décadas, comandando do Rio o Rio Grande.

3 - Borges de Medeiros sucedeu Julio de Castilhos no governo gaúcho, onde ficou 30 anos, de 1898 a 1928, com pequenas interrupções.

4 - Getulio Vargas todo mundo sabe. Foi 15 anos ditador.

5 - João Goulart acabou contribuindo para o golpe de 64, querendo sabotar as eleições de 1965, com medo de que Carlos Lacerda vencesse:

- Ao Lacerda não passo o governo. Não vou trair o velho Getulio.

6 - Discípulo de Vargas, Brizola era contra a existência do Congresso:

- Basta uma Comissão Legislativa, com 10% deles. Nenhum deles foi um democrata. Pagaram ou o País pagou por isso.
Tarso Genro

Muita leviandade de Lula pôr, logo no Ministério da Justiça, o ministério da ordem, da lei e das instituições, o Tarso Genro, um ministro da desordem, visceralmente antidemocrata e, disfarçado atrás de uma linguagem pedante, tortuosa, defendendo seu "fascismo de esquerda".

Ministro da Justiça, cuja tarefa fundamental é dar segurança jurídica e política ao governo, é exatamente Tarso Genro quem provoca, a toda hora, turbulências institucionais, com suas teses esdrúxulas e mal formuladas. O País acabou com saudades do mestre Marcio Thomaz Bastos.
"El caudillo"

Ainda não vi nem li. Mas tem boa, ótima origem. Leite Filho é um veterano jornalista cearense, há décadas em Brasília. Sério, estudioso, competente, conhece muito bem a alma da República. E dos homens.

O título do livro que escreveu e o PDT do Rio lançou esta semana no Museu da República, onde foi o Palácio do Catete, diz tudo: "El caudillo". Uma biografia de Leonel Brizola, "caudilho" como "caudilho" foram seus mestres, da mesma linhagem, todos filhos e netos de Julio de Castilhos.

De 45, ajudando a fundar o PTB na Ala Moça do partido, e 47, já eleito para a Constituinte gaúcha, depois deputado federal, prefeito de Porto Alegre, governador do Rio Grande do Sul, comandante da Cadeia da Legalidade e da resistência à tentativa de golpe de 61, deputado pela Guanabara, até a pregação das reformas sociais em 63, exilado pelo golpe de 64, a volta para o Rio, a derrota para a presidência da República pelo sistemático isolamento político, é toda a história da vida pública de Brizola.
Cacau de Brito

No momento em o PDT lança a biografia de seu saudoso líder e o País pede, exige, candidatos de biografia e ficha limpa, o partido do Rio teve a bela idéia de lançar, esta semana, presentes centenas de pessoas na Estrela do Sul, na Tijuca, uma grande candidatura a vereador, que já chega trazendo extensa bagagem de ações profissionais, políticas e sociais: o advogado e presidente do Movimento "O Rio Pede Paz", Cacau de Brito.

Experiente líder das lutas sociais da Igreja Metodista há mais de 20 anos, ex-dirigente da OAB do Rio, advogado, defensor, líder e pioneiro em numerosas ações sociais diretas com a população, nas áreas de saúde, educação, habitação, saneamento, segurança pública, o candidato traz antigas propostas que agora pretende implantar na Câmara de Vereadores, como abertura e disponibilidade pública, através da internet, dos sigilos fiscal, bancário e telefônico do prefeito e vereadores, em todo o mandato.

Seu programa de trabalho na Câmara foi preparado em dois anos de debates com sindicatos, associações, bairros, comunidades, favelas, comércio de rua, camelôs, sacoleiros. Como transformar os Cieps em centros de esporte e lazer nos fins de semana. Um vereador ficha-limpa.
Sebastião Nery

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