segunda-feira, 21 de maio de 2012

Cronos ou a renovação das lideranças, por Elton Simões (Do Blog do Noblat)


Não é possível saber por quê. Como frequentemente acontece com as historias dos mitos, os motivos de Cronos são incertos. Nem se sabe se ele sempre foi daquela maneira, ou se ficou assim com o tempo. O certo é que Cronos amava o poder. Para conquistá-lo, castrou o pai. Para mantê-lo, devorava os filhos.

Foi assim que ele devorou cinco de seus seis filhos. O sexto, Zeus, foi salvo por sua mãe, Régia. Ela enganou Cronos, enrolou uma pedra em um pano e ofereceu-a a ele em lugar de Zeus.
Cronos engoliu a pedra sem perceber a troca. Posteriormente, Zeus destronaria Cronos e se tornaria senhor do céu e divindade suprema da terceira geração de deuses da Mitologia Grega. Prendeu o pai com correntes no mundo subterrâneo.
Para Cronos, manter o poder implicava eliminar qualquer possibilidade de sucessão. A renovação era o inimigo a ser combatido. Por isso, eliminar os descendentes era uma necessidade.
Cronos poderia ser o símbolo do corporativismo; do combate à renovação; do esforço de manutenção do poder pela eliminação das alternativas a ele; e da manutenção do “status quo”.
Cronos é a personificação mitológica da proteção dos interesses de uma minoria em detrimento da maioria. Se corporativismo fosse uma categoria profissional, Cronos poderia ser seu símbolo.
De certa maneira, resistir à renovação é compreensível. Faz parte da tensão eterna entre a necessidade do novo e a busca pela estabilidade.
Entretanto, quando exagerada, a resistência à renovação causa grandes prejuízos à sociedade. Ela impede que novos lideres apareçam, novas ideias prosperem, evitando mudanças de direção, na tentativa de eternizar no poder um determinado grupo.
Os melhores sistemas políticos parecem ser aqueles que conseguem promover a renovação e a troca de lideranças sem traumas ou ruptura. Renovar faz parte do DNA desses sistemas e, por isso, o corporativismo fica minimizado.
Um bom sistema politico reconhece que a renovação de lideranças e alternância no poder trazem grandes benefícios. Novas ideias, conceitos e direções são adotados e testados. Se mudarem as circunstancias, novas ações e crenças podem ser adotadas. E estas novas ideias podem ser implantadas por novos lideres. Aumenta a chance de se aproveitar o melhor de cada ideia, pessoa, ou grupo.
Em ultimo caso, quando o sistema politico não ajuda, resta o tempo. O tempo garante a renovação. No limite, a renovação é biológica. Seja por briga, ódio, tedio, amor, veneno, ou remédio, avançar é inevitável. O novo sempre vem. Cronos que o diga.

Elton Simões mora no Canadá há 2 anos. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria). Email: esimoes@uvic.ca. Escreve aqui às segundas-feiras.

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