segunda-feira, 15 de abril de 2013

‘Investimento vai bombar em 2014’, diz Mantega
 

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Na primeira reunião dos ministros de Dilma, em 2011, Mantega previra PIB médio de 5,9% até 2014
mirador da ideia de que é possível tratar o imponderável com precisão, o ministro Guido Mantega (Fazenda) aproveita a atmosfera de dúvida que a inflação propicia para prever, com extraordinária dose de certeza, dias muito promissores. “A economia está num momento de transição”, diz ele. “Um programa de infraestrutura, como o que lançamos em 2012, demora a ter efeito. O investimento vai começar a bombar mesmo em 2014.”
Mantega propagou seu otimismo em relação ao ano eleitoral numa entrevista aos repórteres Raquel Landim e João Villaverde. Está disponível aqui. Insinuou que a carestia dos alimentos e dos serviços não é o bicho-papão que muitos pintam. “O que está na boca do povo é o tomate, não a inflação”, afirma. Para ele, “a inflação recente não é uma questão estrutural, mas pontual.”
No acumulado de 12 meses, a inflação estourou o teto da meta oficial em março. Nada que tire o sono de Mantega. “Vamos cumprir a meta neste ano.” Sim, o Banco Central talvez tenha que elevar a taxa Selic, o ministro admite. Dosagem leve, ele dá a entender, “porque a política monetária está mais eficiente.”. Tão eficiente que, se for mesmo necessário elevar os juros, “não é necessário um tiro de canhão. Pode ser um tiro de metralhadora.”
Evocando “projeções do mercado”, Mantega declara que o PIB crescerá de 3% a 3,5% em 2013. Nessa matéria, o ministro vem se revelando um bruxo em litígio com a realidade. Na primeira reunião ministerial do governo Dilma, realizada em janeiro de 2011, Mantega expôs aos colegas de Esplanada os objetivos econômicos da nova administração.
De 2011 a 2014, o Brasil cresceria uma média de 5,9% ao ano, estimou o titular da Fazenda. Em 2011, entregou 2,7%. Em 2012, 0,9%. A média de crescimento do primeiro biênio de Dilma foi de irrisória: 1,8%. Como se vê, a intimidade do ministro com os búzios é igual à do repórter com Sharon Stone. Nenhuma. Vão reproduzidas abaixo algumas declarações extraídas da entrevista:
- O fantasma da inflação: “O que está na boca do povo é o tomate, não a inflação. O comportamento dos preços neste começo de ano tem sido parecido com o dos últimos oito anos. Tivemos choques nos preços das commodities, o que não nos deixa tristes, já que somos grandes exportadores de produtos básicos, mas é claro que há reflexo na inflação. No ano passado, tivemos nos Estados Unidos e no Brasil uma seca. Além disso, fizemos uma desvalorização cambial, que também é inflacionária, tendo efeito de algo como 0,4 ou 0,5 ponto porcentual no IPCA. Se somarmos as coisas, veremos que a inflação recente não é uma questão estrutural, mas pontual. […] Vamos cumprir a meta neste ano.”
- Além dos alimentos, os serviços: “Essa alta nos preços dos serviços ocorre por conta do bom momento. A massa salarial está subindo, portanto, o poder aquisitivo da população aumenta. No caso dos bens industriais, se o produtor nacional aumenta o preço, o consumidor compra o importado. Mas com os serviços isso não é possível. Com o tempo, a concorrência se implanta, porque, se o corte de cabelo começa a ficar muito caro, logo alguém aparece fazendo o mesmo e cobrando menos. Mas, em março, os serviços não foram os vilões.”
- Os juros: “Não há necessidade de voltar [aos patamares do passado], porque a política monetária está mais eficiente e a economia já desindexou um pouco. […] O Brasil é um País mais normal hoje. Isso significa que, se precisar [subir os juros], não é necessário um tiro de canhão. Pode ser um tiro de metralhadora.”
- Os empregos: “Não vamos jogar fora o maior avanço recente, que é não ter desempregados. Esse problema do aumento do custo da mão de obra tem de ser enfrentado com velocidade na qualificação da mão de obra. Até, se for o caso, deveria vir mão de obra de fora para essa transição. Também rebatemos essa questão com a desoneração da folha, que contrabalança o aumento do salário real em condições de pleno emprego. Nos países com desemprego alto, o salário é mais baixo, mas não tem mercado. Qual é a vantagem? Acho um absurdo pensar que isso é uma vantagem. A população está muito satisfeita.”
- O intervencionismo estatal: “A pior coisa é ficar inerte, assistindo uma economia se degringolar. Não posso pensar: ‘Oh, que beleza, está valorizando o câmbio’, ou ‘Oh, que beleza, deixa o pessoal fazer arbitragem’. Aí explode a indústria. Se não tivéssemos tomado essas medidas para o setor automotivo, seríamos engolidos pelos importadores. Nas crises passadas, a indústria e o comércio eram destruídos e havia desemprego em massa. Nada disso aconteceu desta vez. A indústria cai uma hora, depois sobe, mas é assim mesmo. Agora serão necessárias menos medidas. O que vai continuar é o programa de desoneração.”
- Medidas de estímulo X Inércia do PIB: “O que nos pegou de surpresa foi o agravamento da crise europeia, e as medidas que tomamos ainda vão levar um tempo para surtir efeito. Você reduz os juros e ele tem efeito dali a dez meses. Não vamos esquecer que o juro vinha caindo lentamente e só foi atingir o atual patamar de 7,25% ao ano em outubro do ano passado. Há um paradoxo na economia brasileira no caso dos juros e do câmbio. Vivemos muito tempo com juros altos, e a economia ficou viciada. Mesmo o setor produtivo tem uma parte do seu rendimento que é atrelado ao mercado financeiro, como uma forma de se defender. Mesmo as empresas que passaram a vida toda pedindo para cortar o juro, perdem, num primeiro momento, quando isso acontece. […] A economia está num momento de transição. Um programa de infraestrutura, como o que lançamos em 2012, demora a ter efeito. O investimento vai começar a bombar mesmo em 2014.

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