quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O apoio de Floriano (Sebastião Nery - Tribuna da Imprensa)

Sandoval Caju, alto, cabeleira cheia, paraibano de talento, depois de uma temporada no Rio, voltou para João Pessoa impressionando a província com um diáfano cartão de linho: Sandoval Caju, locutor da Rádio Relógio do Distrito Federal. A Rádio Relógio só dava as horas. Mas ele se tornou o maior radialista do Nordeste, na Rádio Tabajara da Paraíba.

Um dia, mudou-se para uma rádio de Alagoas, fez o primeiro grande programa de auditório lá e logo se candidatou a prefeito de Maceió. Ia para as praças todo vestido de branco e, de cima de um caminhão, começava:

- Vim de branco para ser claro!
Sandoval Caju

E tanto foi de branco e tanto foi claro que acabou ganhando as eleições e se elegendo prefeito de Maceió, inclusive com o apoio do alagoano marechal Floriano Peixoto, que já tinha morrido em 1895.

Marcou um comício em frente à estátua de Floriano Peixoto, em Maceió. A praça cheia, começou a falar e de repente abriu os braços largos: - Marechal Floriano, vós que sois o patrono da terra das Alagoas, dizei a este povo se estais ou não estais apoiando a candidatura de Sandoval Caju à prefeitura de Maceió.

A praça em silêncio, esperando. Sandoval, braços ao vento, insistia: - Respondei, marechal! Respondei!
Depois, a voz embargada, os olhos marejados de gratidão, gritou: - Obrigado, marechal! Muito obrigado! Quem cala, consente!
Ganhou a eleição.
Lula

Lula é o marechal Floriano do PT. Gravou um pronunciamento eleitoral, que mandou para todos os candidatos do partido. O mesmo para todos. Não diz nada e diz tudo. Diz que a vitória de um candidato do PT facilitará o entrosamento do prefeito do PT com o governo federal do PT.

No horário eleitoral na TV, dá um resultado patético. Lula entra no ar, não fala nada sobre o candidato, nem o nome, mas deixa a deixa no ar. E cada um vai aproveitando como quer e como pode. Um apoio psicodélico, porque é a mesma coisa que, fora da TV, Lula diz aos candidatos aliados.

No Rio, o candidato do PT, um rapaz sério, íntegro, o jovem Molon, órfão abandonado pelas pesquisas, pelo partido e pelas esquerdas, põe no ar a mensagem marciana de Lula e, quando Lula termina, diz comovido: - Obrigado presidente Lula pelo seu apoio!

Exatamente como Sandoval Caju agradecendo o apoio do marechal Floriano. Deviam todos pagar direitos autorais ao talento de Sandoval Caju.
Crivela

Desde o começo, avisei aqui. O senador Crivela, o "bispo" que nem padre foi, com seu ar desvalido de agente funerário, é apenas uma peça do projeto político do tio, patrono e financiador Edir Macedo. Será sempre candidato a qualquer coisa, para ir emboçando o "cimento social" da futura candidatura presidencial do proprietário da Igreja Universal.

Quem duvidava não pode duvidar mais. O audacioso Edir Macedo, governando seu fabuloso e dizimal império financeiro lá de Miami, lançou há algum tempo sua "biografia", que "vendeu" um milhão de exemplares.

Agora, acaba de apresentar em livro o programa de sua candidatura à presidência da Republica (não se sabe se já agora em 2010 ou em 2014): "Plano de Poder - Deus, os cristãos e a política".
Edir

No livro-programa, diz Edir, o faturoso camelô de Jesus Cristo:

1 - "Tudo é uma questão de engajamento, consenso e mobilização dos evangélicos. Nunca, em nenhum tempo da história do evangelho no Brasil, foi tão oportuno como agora chamá-los de forma incisiva a participar da política nacional".

2 - Ele "estima em 40 milhões a comunidade de evangélicos no País": "A potencialidade dos evangélicos como eleitores pode decidir qualquer pleito eletivo, tanto no Legislativo quanto no Executivo, em qualquer escalão, municipal, estadual ou federal" (Tatiana Farah, "O Globo"). Quem conhece a história sabe. O fascismo sempre surge dessa forma.
Dantas

O Brasil sempre foi assim, mas agora ficou inigualável: nunca os poderosos puderam tanto. A Polícia Federal fez uma profunda e até agora indesmentível investigação sobre os misteriosos negócios de Daniel Dantas, que alguns dizem mandar no Executivo, Legislativo e Judiciário.

E o que aconteceu? Daniel Dantas passou 72 horas preso. Depois, explodiu uma bomba atômica no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. O presidente da Abin, o respeitado e inatacável Paulo Lacerda, caiu. O diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Correa, de íntegra biografia, não sai mais da CPI dos Grampos, tentando explicar o inexplicável.

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, foi monitorado, grampeado e obrigado a bater boca na porta do Supremo. O senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás, foi flagrado com o presidente do Supremo numa ligação que, graças aos céus, era tão inocente como conversa de freiras. Imaginem se não fosse. O País balançava.

E nova manchete na "Folha": "PF não consegue abrir arquivos de Dantas - Criptografado, o conteúdo dos computadores apreendidos no apartamento do banqueiro no Rio não é acessado pela polícia".
Esse Dantas ou é filho de Mãe Menininha ou tem parte com satanás
O apoio de Floriano (Sebastião Nery - Tribuna da Imprensa)

Sandoval Caju, alto, cabeleira cheia, paraibano de talento, depois de uma temporada no Rio, voltou para João Pessoa impressionando a província com um diáfano cartão de linho: Sandoval Caju, locutor da Rádio Relógio do Distrito Federal. A Rádio Relógio só dava as horas. Mas ele se tornou o maior radialista do Nordeste, na Rádio Tabajara da Paraíba.

Um dia, mudou-se para uma rádio de Alagoas, fez o primeiro grande programa de auditório lá e logo se candidatou a prefeito de Maceió. Ia para as praças todo vestido de branco e, de cima de um caminhão, começava:

- Vim de branco para ser claro!
Sandoval Caju

E tanto foi de branco e tanto foi claro que acabou ganhando as eleições e se elegendo prefeito de Maceió, inclusive com o apoio do alagoano marechal Floriano Peixoto, que já tinha morrido em 1895.

Marcou um comício em frente à estátua de Floriano Peixoto, em Maceió. A praça cheia, começou a falar e de repente abriu os braços largos: - Marechal Floriano, vós que sois o patrono da terra das Alagoas, dizei a este povo se estais ou não estais apoiando a candidatura de Sandoval Caju à prefeitura de Maceió.

A praça em silêncio, esperando. Sandoval, braços ao vento, insistia: - Respondei, marechal! Respondei!
Depois, a voz embargada, os olhos marejados de gratidão, gritou: - Obrigado, marechal! Muito obrigado! Quem cala, consente!
Ganhou a eleição.
Lula

Lula é o marechal Floriano do PT. Gravou um pronunciamento eleitoral, que mandou para todos os candidatos do partido. O mesmo para todos. Não diz nada e diz tudo. Diz que a vitória de um candidato do PT facilitará o entrosamento do prefeito do PT com o governo federal do PT.

No horário eleitoral na TV, dá um resultado patético. Lula entra no ar, não fala nada sobre o candidato, nem o nome, mas deixa a deixa no ar. E cada um vai aproveitando como quer e como pode. Um apoio psicodélico, porque é a mesma coisa que, fora da TV, Lula diz aos candidatos aliados.

No Rio, o candidato do PT, um rapaz sério, íntegro, o jovem Molon, órfão abandonado pelas pesquisas, pelo partido e pelas esquerdas, põe no ar a mensagem marciana de Lula e, quando Lula termina, diz comovido: - Obrigado presidente Lula pelo seu apoio!

Exatamente como Sandoval Caju agradecendo o apoio do marechal Floriano. Deviam todos pagar direitos autorais ao talento de Sandoval Caju.
Crivela

Desde o começo, avisei aqui. O senador Crivela, o "bispo" que nem padre foi, com seu ar desvalido de agente funerário, é apenas uma peça do projeto político do tio, patrono e financiador Edir Macedo. Será sempre candidato a qualquer coisa, para ir emboçando o "cimento social" da futura candidatura presidencial do proprietário da Igreja Universal.

Quem duvidava não pode duvidar mais. O audacioso Edir Macedo, governando seu fabuloso e dizimal império financeiro lá de Miami, lançou há algum tempo sua "biografia", que "vendeu" um milhão de exemplares.

Agora, acaba de apresentar em livro o programa de sua candidatura à presidência da Republica (não se sabe se já agora em 2010 ou em 2014): "Plano de Poder - Deus, os cristãos e a política".
Edir

No livro-programa, diz Edir, o faturoso camelô de Jesus Cristo:

1 - "Tudo é uma questão de engajamento, consenso e mobilização dos evangélicos. Nunca, em nenhum tempo da história do evangelho no Brasil, foi tão oportuno como agora chamá-los de forma incisiva a participar da política nacional".

2 - Ele "estima em 40 milhões a comunidade de evangélicos no País": "A potencialidade dos evangélicos como eleitores pode decidir qualquer pleito eletivo, tanto no Legislativo quanto no Executivo, em qualquer escalão, municipal, estadual ou federal" (Tatiana Farah, "O Globo"). Quem conhece a história sabe. O fascismo sempre surge dessa forma.
Dantas

O Brasil sempre foi assim, mas agora ficou inigualável: nunca os poderosos puderam tanto. A Polícia Federal fez uma profunda e até agora indesmentível investigação sobre os misteriosos negócios de Daniel Dantas, que alguns dizem mandar no Executivo, Legislativo e Judiciário.

E o que aconteceu? Daniel Dantas passou 72 horas preso. Depois, explodiu uma bomba atômica no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. O presidente da Abin, o respeitado e inatacável Paulo Lacerda, caiu. O diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Correa, de íntegra biografia, não sai mais da CPI dos Grampos, tentando explicar o inexplicável.

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, foi monitorado, grampeado e obrigado a bater boca na porta do Supremo. O senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás, foi flagrado com o presidente do Supremo numa ligação que, graças aos céus, era tão inocente como conversa de freiras. Imaginem se não fosse. O País balançava.

E nova manchete na "Folha": "PF não consegue abrir arquivos de Dantas - Criptografado, o conteúdo dos computadores apreendidos no apartamento do banqueiro no Rio não é acessado pela polícia".
Esse Dantas ou é filho de Mãe Menininha ou tem parte com satanás

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A crise financeira e as eleições americanas (Pedro do Coutto - Tribuna da Imprensa)

Quais poderão ser os reflexos da crise financeira aberta com a inadimplência registrada nos fundos imobiliários Fannie May e Freddie Mac, agravada com a falta de liquidez da corretora AIG, nas eleições americanas de 4 de novembro? Vão se fazer sentir, pois não existe ação sem reação e as posições dos candidatos Barack Obama e John McCain são divergentes em torno do tema, bastante complexo. Os dois pontos de vista foram bem focalizados pelas reportagens de Marília Martins, "O Globo", e de Andréa Murta, "Folha de S. Paulo", as duas publicadas no dia 17 de setembro.

McCain atacou fortemente os grandes gatos de Wall Street, Obama cobrou do governo George Bush um acompanhamento mais próximo e atento das operações de financiamento bancário, cujos resultados, quando negativos, colocam em risco a economia de centenas de milhões de pessoas. Isso nos EUA, que possuem 300 milhões de habitantes.

As conseqüências, entretanto, são também mundiais. As pesquisas eleitorais seguramente vão revelar nos próximos dias se as intenções de voto, agora, tornaram-se ou não diferentes daquelas verificadas antes da explosão. E não só da explosão, mas da investida estatal feita por Washington na tentativa de conter efeitos mais profundos da descapitalização que se generalizou no mercado e que, sem dúvida, beneficiou alguns poucos, já que não existe débito sem crédito, princípio universal do sistema financeiro. A estatização projeta-se nitidamente no crédito de 85 bilhões de dólares aberto pelo Tesouro em favor da AIG. Os bancos particulares recusaram-se a socorrer a supercorretora. Coisas da vida. Aliás, é sempre assim. Os rios correm para o mar, como se diz.

Se o tema inadimplência e falta de liquidez para nós é complexo a distância, imagine-se para os investidores norte-americanos, que estão com suas economias diretamente vinculadas à tempestade que, sejam quais forem as medidas, não pode ser dissipada a curto prazo. O volume de dinheiro é enorme. A este respeito, os professores José Luís Oreiro e Gabriel Coelho Squeff publicaram artigo primoroso, substancial e elucidativo, na edição de quarta-feira do "Valor", o mais completo jornal econômico do País atualmente.

Confrontaram o desabamento de 2008 com o craque de 1929 e percorreram o tempo entre ontem e hoje desenvolvendo uma análise extremamente inteligente. Se em 1929, governo Herbert Hoover, que perdeu a Casa Branca para Franklin Roosevelt em 32, fosse procurada a estrada estatal para encontrar a luz no fim do túnel, não teria havido milhares e milhares de falências, desabamento da Bolsa de Nova Iorque, milhões de desempregados, gigantescas filas públicas de distribuição de alimentos. Não teria havido fome e frio, abandono do sonho americano e solidão. Mas isso pertence ao passado.

No presente, Luís Oreiro e Gabriel Squeff revelam a verdadeira extensão da crise. Não se trata somente de o Tesouro injetar 200 bilhões nas contas em aberto do Freddie Mac e da Fannie May, além da intervenção estatal de 85 bilhões de dólares na AIG. A profundidade é várias vezes maior. O Lehman Brothers e o Merryl Linch são exemplos fortes. Não se trata apenas da absorção, por 44 bilhões, deste último pelo Bank of America.

Trata-se da flutuação de ativos que parecem fortes no papel, mas são movediços em padrões monetários de mercado. Uma quantidade enorme de letras imobiliárias não resgatadas nos prazos lastreia virtualmente esses ativos. Diminuíram, inclusive, porque se baseavam no valor das residências adquiridas a prazo. Como houve inadimplência, a oferta de imóveis cresceu. Em conseqüência, seu valor diminuiu.

A crise se ampliou. Squeff e Oreiro destacam a importância essencial da curva feita à esquerda por Washington, impensável em outros tempos. Tão impensável, talvez, como se alguém previsse, há vinte anos, uma abertura de mercado na China de Pequim. Tudo bem, mas tem um preço interno. Dentro do princípio de que não existe mesmo débito sem crédito, e vice-versa, a injeção de recursos do estado se reflete no déficit fiscal.

Os articulistas do "Valor" assinalam que a dívida pública americana é de 5 trilhões de dólares no momento. Com o socorro, que termina inevitavelmente numa renúncia fiscal, a Casa Branca pode salvar os poupadores, mas segue o trajeto adotado rumo a um déficit fiscal de outros 5 trilhões. Renúncia tributária e dívida interna podem representar um déficit fiscal de 10 trilhões de dólares, três quartos do PIB do país.

E as eleições? Como reagirá o eleitorado dos Estados Unidos? A crise pesa a favor ou contra Obama ou McCain? Um enigma. Mas vale pensar sobre o assunto. Sobretudo porque em 1956 dois acontecimentos internacionais mudaram o rumo das eleições. Adlai Stevenson, democrata, vinha bem à frente de Eisenhower, republicano. Mas faltando três semanas para as urnas, numa ação conjunta, Inglaterra, França e Israel invadem Suez.

Nasser ameaça dinamitar o canal e cortar o fornecimento de petróleo ao Ocidente. Dois dias depois, a URSS de Kruschev invade e massacra a Hungria, que tentava libertar-se de Moscou. Os Estados Unidos condenam as duas ações. O mundo poderia ir pelos ares. Os americanos preferiram reeleger o herói da invasão da Normandia em 1944.

O rumo da história mudou. E agora?

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Paulicéia desvairada (Carlos Chagas)

BRASÍLIA - O presidente Lula viajou ontem à noite para Pelotas, no Rio Grande do Sul, mas de olho em São Paulo, onde estará sábado para mais uma rodada de carreatas e comícios em favor da candidatura de Marta Suplicy à prefeitura da capital.

Lula está feliz com o acirramento dos ânimos entre Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab, já acreditando na hipótese da vitória da candidata do PT no primeiro turno. A eleição em São Paulo é simbólica e pode antecipar o enfraquecimento de José Serra como candidato da oposição à presidência da República, em 2010.

Muita gente se pergunta como os tucanos paulistas deixaram acontecer a lambança que divide Kassab e Alckmin. As responsabilidades dividem-se igualitariamente: o açodamento do ex-governador em lançar-se antes de buscar entender-se com Serra, de um lado, e de outro a teimosia do governador em favorecer o atual prefeito, do DEM, contra o seu próprio partido.

A temperatura subiu nos últimos dias, com Geraldo Alckmin agredindo Kassab nos programas de propaganda gratuita. O resultado está sendo o empate técnico entre eles e a prevalência de Marta nas preferências populares, por certo que inflado o seu balão pela cada vez maior popularidade de Lula. Mesmo se houver segundo turno, a previsão é de que o derrotado não ajudará o segundo colocado, seja Kassab, seja Alckmin, tornando-se viável aquilo que até semanas atrás parecia impossível, a vitória de Marta no segundo turno.
O Rio em chamas

O Rio repete São Paulo em termos de desvario eleitoral. Eduardo Paes, candidato do governador Sérgio Cabral, passou o senador Marcelo Crivella, que por sua vez investe contra o adversário mostrando na televisão o que seriam suas incoerências. Porque, como deputado, na CPI do Mensalão, Paes não poupou o presidente Lula, afirmando dispor de provas sobre corrupção no governo.

Quem chutou o pau da barraca, porém, foi o prefeito César Maia. Para ajudar sua candidata, Solange Amaral, ele acusou a Igreja Universal, da qual Crivella é bispo, da prática de lavagem de dinheiro, inclusive do narcotráfico. Endossou antigas acusações de um bispo dissidente e obriga Crivella a defender-se.

Delineia-se o quadro para 5 de outubro com a probabilidade de um segundo turno, no caso, entre Eduardo Paes e Marcelo Crivella. As esquerdas, mais do que divididas, carecem de condições para servir de fiel da balança, pois onde estiver Fernando Gabeira não estarão Jandira Feghalli e Chico Alencar.

A presença de tropas do Exército e dos Fuzileiros Navais nas favelas da antiga capital contribui para a preservação da ordem, mas não favorece nenhum candidato à prefeitura. Sérgio Cabral jogará todas as fichas em Eduardo Paes, que se for eleito favorecerá a inclusão do governador no rol dos pretendentes do PMDB à indicação para companheiro de chapa de Dilma Rousseff, em 2010. Melhor ainda se vingar a tese do terceiro mandato para o presidente Lula, tendo em vista as dificuldades de saúde do vice-presidente José Alencar.
Um cheirinho de fascismo

Apesar de rejeitado em sua primeira versão pelo presidente Lula, o Plano Nacional de Defesa vem tendo alguns de seus aspectos revelados e discutidos. Seu principal artífice, o ministro Mangabeira Unger, não resiste em fazer propaganda das polêmicas sugestões.

A mais recente delas envolve a criação de uma estranha Força de Reserva Maleável, a ser constituída por todos os rapazes e moças que completarem 18 anos e forem dispensados do serviço militar obrigatório. Quer o ministro do Futuro enquadrar a juventude na obrigação de prestar serviço civil alternativo, tanto os universitários quanto os que estiverem cursando o segundo grau.

Eles seriam organizados em batalhões e enviados para as regiões do País onde se registra maior pobreza. Uns prestariam auxílio em postos de saúde, outros construiriam casas populares, aqueles ajudariam a alfabetizar a população, estes cuidariam da agricultura.

Com todo respeito ao filósofo bilíngüe e binacional, mas isso cheira ao fascismo dos anos trinta e quarenta. O Plano Nacional de Defesa não especifica se essa numerosa tropa precisará usar uniforme nem de onde sairão os recursos para tamanha movimentação.
Estatizando os prejuízos

Quem anda feliz é o sociólogo, reivindicando o galardão de precursor da moderna economia mundial, aquela que mandam privatizar os lucros e estatizar os prejuízos. Anos atrás, na iminência da quebra de alguns bancos, por má gestão e incompetência, o então presidente Fernando Henrique Cardoso criou o Proer, sinecura que injetou bilhões no setor especulativo. Enquanto privatizava a Vale do Rio Doce a preço de banana podre e com recursos do BNDES, sem esquecer as telecomunicações, os portos e a maioria das ações da Petrobras, o governo socorreu a incúria privada com dinheiro público.

Pois não é exatamente o que acontece agora nos Estados Unidos? O pretexto é o mesmo: evitar que sofram milhões de investidores, correntistas ou depositantes. Deixar que o mercado cuide de tudo, só quando as coisas vão dando certo e favorecem uns poucos.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A manha do barão (Sebastião Nery)

Mario Rodrigues, pai do Nelson Rodrigues, era jornalista do "Correio da Manhã", no Rio. Acusou a mulher do presidente Epitácio Pessoa (1919-1922) de ter se vendido aos usineiros de Pernambuco em troca de um colar de pérolas. Foi preso e, quando saiu, demitido.

Fundou "A Manhã". Não queria os militares no poder:

- Os tenentes (de 1922, 24) querem tomar o governo porque dizem respeitar os dinheiros públicos. Seria o caso de se fazer uma experiência com os capuchinhos e as irmãs de caridade.

Defendia o governo de Artur Bernardes (1922- 26) e o estado de sítio. Fazia sucesso a coluna "Amanhã Tem Mais", de um jovem humorista gaúcho, saído de "O Globo", Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Apporelly, depois o incomparavel Barão de Itararé, que um dia lhe disse:

- Mario, fora do governo sua reputação é a pior possível.
- Sossegue, meu filho. No jornalismo, é melhor ter má reputação do que não ter reputação nenhuma.
Mario Rodrigues

Uma tarde, muito calor na redação, Apporelly disse a Mario:

- Vamos tomar alguma coisa?
- De quem?

Um ano depois de inaugurado o jornal, as oficinas entraram em greve, por falta de pagamento. Mario foi a Belo Horizonte e pediu 80 contos a Mello Viana, presidente (governador) do estado. Mello Viana deu. Mario pensou que aquele era seu dia de sorte, entrou em um cassino, jogou tudo, perdeu tudo. Desesperado, voltou para o Rio, disse a Apporelly:

- Sou um canalha, tirei o pão da boca de meus filhos. Vou me matar.
- Doutor Mario, conhece a "teoria do dá"? Vai lá e pede de novo.
- Você acha?
- Quem dá uma vez, dá duas.

Mario Rodrigues voltou ao Palácio da Liberdade e pediu mais 80 contos a Mello Viana que, sabendo que ele queria se matar, deu mais 80 contos. Pensando recuperar o primeiro dinheiro, Mario voltou ao Cassino do Bomfim e perdeu tudo de novo. Foi uma tragédia. Agora, ia se matar.
Mello Viana

No Rio, tentou pular da janela do quarto andar do hotel onde Apporelly morava. Apporelly impediu. E voltou à "teoria do dá":

- Doutor Mario, escute. Quem dá uma e dá duas, dá três. Se ele não tivesse dado uma, não dava duas nem três. Deu, dá. Vai lá e pede de novo.

Mario foi e, sob ameaça de ser posto na cadeia se voltasse ao cassino, conseguiu voltar com o dinheiro. Abraçava Appporelly:

- Meu filho, você é um gênio. Um gênio!
- Doutor Mario, agora bem que o senhor podia me pagar. Faz um ano que eu trabalho e não recebo nada.
- Meu filho, quem dá um ano de trabalho de graça, dá dois e dá três. Se você não tivesse dado um, não dava dois nem três. Mas deu, dá.
Apporelly saiu e fundou "A Manha", "um jornal de ataques... de riso".

O primeiro número saiu atrasado para que os leitores pagassem em dobro. Não tinha expediente: "Jornal sério não vive de expediente". No segundo número, fez o primeiro aniversário, "para ganhar a credibilidade do leitor".
Ipojuca Pontes

Ótimas histórias, não são? Você, leitor, ainda não viu nada. Hoje, às 20 horas, na Livraria da Travessa de Ipanema (Visconde de Pirajá, 572), o jornalista e cineasta Ipojuca Pontes lança "A Manha do Barão - Confissões de bom e mau humor", uma peça de teatro que é um longo, magnífico, irresistível monólogo do gênio do humor brasileiro, o Barão de Itararé.

Ipojuca teve a sorte de ser vizinho do Barão, na Praça São Salvador, no Flamengo, Rio, e conversar muito com ele, antes de ele morrer, em 27 de novembro de 71 (nasceu em São Leopoldo, RG, em 1895). Depois, procurou o irmão Edecio, os filhos. Em novembro de 72, em um sebo de São Paulo, encontrou a coleção completa de "A Manha". Comprou na hora.
Chico Anisio

E também conseguiu uma coleção dos "Almanahques", a revista do Barão, que acabou eleito vereador do Rio pelo Partido Comunista em 1947 e logo depois cassado e preso, com a cassação do PCB pelo governo Dutra.

Só falta agora o Ipojuca entregar a peça ao outro gênio do humor brasileiro, o Chico Anísio, para vir o sucesso certo, que virá.

Não vou, não posso, contar o livro todo. Mas não há brasileiro que não conheça "uma do Barão", suas frases perfeitas, definitivas, inesquecíveis:
1 - Na Faculdade de Medicina (fez só três anos, no Rio Grande), o examinador, irritado com suas respostas zombeteiras, lhe perguntou:
- Quantos rins nós temos?
- Quatro. Dois meus e dois seus. A menos que o senhor seja anormal.

Foi reprovado e abandonou.
Prestes

2 - Na ditadura de Vargas, só o chamava de G.Tulio Dor Nelles Vargas. Dizia: O Estado Novo é o estado a que chegamos. Ou: O Barão está sob o regime do Estado Novo: não pode falar. Várias vezes preso.
3 - Há males que vêm para bem. Mas seria melhor que não viessem.
4 - O dinheiro é a causa de todas as desgraças. Quando não se tem.
5 - João Neves é disco voador: pequeno, chato e ninguém acredita.
6 - O juiz: - O senhor foi visto conversando com Luiz Carlos Prestes.
7- Impossível. Com Prestes ninguém conversa. Ele fala sozinho.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

D. Pedro II deu conselhos ao Lula?

BRASÍLIA - Auxiliares do presidente Lula aguardavam sua chegada à capital federal, hoje, para obter informações sobre estranhos acontecimentos verificados na noite de sexta-feira para sábado passados, no Palácio Rio Negro, em Petrópolis. Porque rumores chegados a Brasília davam conta de ter sido o sono do casal presidencial perturbado por estranhos ruídos.

Uma espécie de arrastar de correntes no sótão, súbitas ondas de frio percorrendo os corredores, gemidos sem identificação e até a aparição do vulto esfumaçado de um velho de barbas brancas nos salões do andar térreo faz parte dos cochichos dos poucos assessores que acompanharam o presidente Lula e Dona Marisa ao antigo palácio de verão dos presidentes de décadas atrás, onde pernoitaram a convite do governador Sérgio Cabral.

Provavelmente tudo não passe de boatos, afinal o Lula e sua mulher não sofrem de insônia nem de pesadelos, mas agentes de segurança imaginam ter visto D. Pedro II perambulando pelo antigo casarão. Afinal, o Palácio Rio Negro fica a um pulo do Museu Imperial, onde há muito se afirma encontrar-se o espírito de nosso segundo imperador. Ele teria atravessado a rua para dar conselhos ao atual presidente? Pelo menos tentado chamar a atenção do Lula para algum mau augúrio prestes a acontecer no País?

Ou, como parece mais provável, queria apenas incorporar-se à imensa maioria da opinião pública que apóia o presidente? Talvez aconselhá-lo a esticar sua permanência no poder, livrando-se dos preceitos constitucionais que limitam os mandatos atuais.

O arrastar de correntes, as ondas de frio inexplicável e os gemidos foram percebidos pelos encarregados da segurança presidencial, mas, como já se tornaram rotina em outros palácios, foram considerados quase normais. O que terá mesmo despertado a atenção dos agentes foi a estranha presença do velho de barbas brancas. Ignora-se, até agora, se o presidente Lula acordou se percebeu a inusitada visita e até se chegou a conversar com D. Pedro II. Mais ainda, se aceitou os supostos conselhos de ir ficando no governo. Só ele poderá esclarecer, se quiser.

Quando lembramos que certos barulhos acontecem pela madrugada, em outros palácios, estamos nos referindo ao Alvorada. Nos tempos do marechal Castelo Branco, o piano de cauda do andar térreo costumava tocar sozinho, parece que alguns acordes do Hino Nacional. O general Garrastazu Médici trancava seus aposentos particulares, no segundo andar, proibindo a família de descer, e o general Ernesto Geisel apelava para expressões pouco vernaculares todas as vezes que lhe parecia ver o presidente Juscelino Kubitschek abrindo os braços, como a perguntar se o governo investigara em profundidade o acidente automobilístico que o vitimou.

Talvez por isso José Sarney espalhasse incenso e alho nos peitoris das janelas, e Fernando Collor jamais tenha dormido uma só noite na residência oficial. Quanto a Fernando Henrique, dizem que até gostava daquele cheirinho de enxofre percebido nas noites de sexta-feira. Enfim, são bastidores da atividade governamental que não constam de relatórios nem de biografias...
Um vazio para ninguém botar defeito

De hoje até terça-feira, 7 de outubro, o Congresso estará em recesso remunerado. Deputados e senadores, autorizados pelos respectivos presidentes, mandaram-se para seus estados a fim de participar das três últimas semanas que nos separam das eleições municipais. Mesmo os parlamentares eleitos por Brasília, onde não haverá eleição, desaparecerão de seus gabinetes.

Alguns ranzinzas já começaram a protestar, lembrando que o eleitorado escolherá os novos prefeitos e vereadores em todo o país, ou seja, sem estarem em jogo os mandatos federais. É má vontade, porque senadores e deputados precisam cultivar suas bases. Ao menos em parte, dependem delas para reeleger-se. Precisam mostrar-se aos futuros eleitores, bem como ajudar seus respectivos partidos a eleger o maior número possível de vereadores e prefeitos.

A dúvida é se estarão todos outra vez na capital, uma vez encerradas as eleições, na noite de domingo, dia 5. Talvez não, porque na maioria das capitais dos estados haverá segundo turno para prefeito. Poucos candidatos obterão a vitória na primeira votação, tornando-se mais acirrada a disputa entre os dois primeiros colocados.

Presumindo-se que só no fim de outubro as situações se definam em grande parte das capitais estaduais, voltam-se as atenção para novembro e a primeira quinzena de dezembro, quando pela lei o Congresso estará funcionando. Muita coisa poderia ser votada, havendo vontade política. Pelo menos, estaria preenchido o vazio, não só destas três semanas, mas, com todo o respeito, do ano inteiro.
Gilmar, outra vez

Atacou de novo o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Semana passada ele anunciou a disposição de agir para que ninguém fique preso sem sentença transitada em julgado, exceção aos criminosos de alta periculosidade. As cadeias se esvaziariam, o que parece bom para os cofres públicos, mas a sociedade teria aumentados os riscos de insegurança pública. O problema, porém, não é esse. Acontece que para as sentenças transitarem em julgado, no Brasil, leva tempo.

A morosidade do aparelho judiciário e o vasto número de recursos e filigranas jurídicas constantes do Código de Processo Penal e sucedâneos esticam o mais simples dos processos por muitos anos. Ainda agora o Supremo mandou soltar nove integrantes do Primeiro Comando da Capital, em São Paulo, porque presos há quatro anos sequer passaram pela instrução do respectivo processo. Discute-se o grau de periculosidade desses elementos, mas a verdade é que estão na rua.

Indicaria o bom senso que antes da aplicação das regras lembradas pelo presidente do Supremo, fosse feita uma limpeza ampla na legislação que cada vez mais beneficia bandidos.
Fazer o quê?

Vamos supor, só para argumentar, que a crise na Bolívia agrave-se ainda mais, com o país rachado de alto a baixo e entregue, mais do que a badernas urbanas, à guerra civil. Nos últimos dias a fronteira com o Brasil foi fechada e o fornecimento de gás, suspenso por algumas horas. Piorando a situação, a ameaça é de continuação, sem prazo, desses e de outros inusitados.

O presidente Lula tem telefonado para o presidente Evo Morales, solidarizando-se com ele. Afinal, foi eleito democraticamente. O problema de o chefe do governo boliviano haver expulsado o embaixador dos Estados Unidos de seu território é apenas dele, mas fica claro o potencial explosivo dessa iniciativa, já que o presidente da Venezuela fez o mesmo para demonstrar de que lado está.

Hugo Chávez prometeu até ajuda militar ao colega da Bolívia, mas basta a gente olhar o mapa para ver que aviões venezuelanos, para chegar à Bolívia, não iriam dar a volta pela Colômbia e o Peru, até por falta de autorização. A linha reta pressupõe longo sobrevôo sobre território brasileiro. Teriam licença para tanto os caças Sukoi comprados aos montes por Chávez? Vamos fazer o quê?

sábado, 13 de setembro de 2008

A anta que veio do gelo (Sebastião Nery)

Jimmy Carter esteve no Brasil em 1972. Passou alguns dias em Recife com a mulher, em casa do casal Camilo Steiner, na praia da Piedade. A mulher de Steiner, americana da Geórgia, foi colega de colégio da mulher de Carter e continuaram amigas pela vida afora. O filho de Steiner estudou nos EUA, morando na casa de Carter.

Em Recife, o governador Eraldo Gueiros ofereceu um almoço a Jimmy Carter. Saudou-o o vice-governador Barreto Guimarães, gordo e barroco, lançando a candidatura de Carter à presidência dos Estados Unidos

- Vossa Excelência, senhor governador da Geórgia, tem a marca do estadista e estamos certos de que será o próximo ocupante da Casa Branca.
Carter apenas sorriu.
Jimmy Carter

No dia seguinte, Camilo Steiner nos convidou, a alguns jornalistas, para uma peixada e uma conversa com Carter. Anchieta Helcias, secretário de Indústria e Comércio do Estado, perguntou a Carter se ele tinha condições de sair candidato do Partido Democrata em 76. Carter perguntou:

- Qual o Estado mais pobre do Brasil?
- O Piauí.
- Pois a Geórgia é o Piauí de lá. O senhor acha que o governador do Piauí tem condições de ser o presidente do Brasil?

Anchieta também achava que não. Mas o povo americano achava.
Sarah

De repente, aparece uma anta medieval, bela anta mas anta, a Sarah, governadora do Alasca, dentro da campanha eleitoral dos Estados Unidos. E faz um furor, como vice do republicano McCain. Tão reacionária, tão atrasada, tão fundamentalista, tão distante do século XXI, que junto dela McCain virou um revolucionário e Barack Obama um incendiário.

E agora? Agora é o mistério. Como reagirá o eleitorado americano? Aqueles milhões de eleitores das pequenas cidades norte-americanas, preconceituosos e racistas, de casa para o trabalho, do trabalho para o clube, do clube para o bar, do bar para a igreja, da igreja para a frente da TV?

Os mesmos que em 1960 votaram no cosmopolita Kennedy torcendo para ele morrer e o provinciano Lindon Johnson assumir (Kennedy não morreu, eles mataram), podem estar pensando agora em eleger o frágil e doente McCain e rezar fervorosamente para ele morrer e a anta assumir.

Quem conhece os Estados Unidos é Hollyood. Lembrem-se dos filmes de Hollyood, as disputas esportivas, o fascínio pelas guerras, o racismo congênito. A anta que veio do gelo pode decidir essa eleição.
Ombudsman

Sábado é dia de ombudsman. Um velho e sábio jornalista mineiro, Monzeca, chefe de redações, ameaçava demitir quem usasse ponto e vírgula:

- Não há ponto e vírgula. Ponto é para parar, vírgula para seguir. Ponto e vírgula pára e segue, segue e pára. Para a frente e para trás. Mata o texto.

A "Folha" inventou, há muito tempo, coisa pior: a vírgula-ponto. Todo dia, nas "Frases" da página 2, ela insiste, como terça-feira:

"Acho que agora o presidente Lula está contente. Dunga, técnico da seleção, após a vitória sobre o Chile por 3 a 0, ontem na `Folha'" (sic).

Pensávamos que o jogo Brasil x Chile tinha sido no Estádio Nacional de Santiago. Mas a "Folha" diz que o jogo foi "na `Folha'", dentro da "Folha". Só não explica se foi na redação, na oficina ou lá em cima na diretoria.
"Folha"

Qualquer professorinha de escola primária teria corrigido a frase da "Folha", e corrigido com razão, mandando escrever assim:

"Acho que agora o presidente Lula está contente! Dunga, técnico da seleção, após a vitória sobre o Chile por 3 a 0. (Ponto). Ontem na `Folha'".

O "ontem na `Folha'" não faz parte da frase anterior, que fala sobre o resultado do jogo. É outra frase, sobre a publicação da declaração de Dunga, para dizer que já foi publicada no dia anterior ("ontem"), no jornal. Logo, entre as duas frases tem que haver é ponto e não vírgula.
Haddad

Se fosse apenas uma vez, seria um descuido. Mas é assim todo dia. Sistematicamente. Logo abaixo da frase do Dunga, há outra:

"Valdivia é nosso! Torcida do Brasil em Santiago, quando o jogador foi expulso da partida, ontem na `Folha'" (sic). O jogador foi expulso no campo e não "na Folha". "Ontem na Folha" tinha saído a notícia da expulsão do jogador, com o grito da torcida do Brasil. Logo, necessariamente, teria que haver ponto entre as duas frases.

Essa tolice diária da "Folha" parece bobagem, mas não é. O Ministério da Educação, comandado pelo jovem e excelente ministro Haddad, está fazendo um esforço enorme para que os alunos terminem o curso fundamental sabendo ler bem, entendendo o que leram e escrevendo.
Responsabilidade

Não é coisa de somenos importância, como diria Machado de Assis. Em um país como o nosso, de analfabetismo e semi-alfabetização ainda assustadores, onde livro é luxo, jornais e revistas são artigos educacionais.

A "Folha" é o mais influente jornal do País. Tem responsabilidade pública sobre o texto que entrega para ser lido, sobretudo pela infância e juventude. Não pode ensinar o errado. Terça-feira, estava numa manchete:

"Queda nas commodities levam (sic) bolsa brasileira a menor nível desde 2007". A "queda" "leva" e não "levam". Desculpem o mau jeito.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Para o novo presidente do Paraguai ler e meditar (Helio Fernandes+

EM ITAIPU E USINAS NUCLEARES 60 BILHÕES DE DÓLARES ESBANJADOS

Os quadros da Eletrobrás, Vale, Centrais Nucleares e outras estão dominados pelo que há de pior no Brasil. O atual presidente da Aben, Alfredo Araponga Trajano, foi o eleito, deste ano, pelas mancadas monumentais. Sua atuação é incrível. Responsável pela "patuscada" do depósito de lixo radioativo de Goiânia. Problema simples, que ele complicou desnecessariamente. A ponto de gastar, até agora, dezenas de milhões de dólares. Sem nada resolver, corretamente.

Outra "patuscada" monumental é a do incompetentíssimo presidente da INB (Indústrias Nucleares Brasileiras, ex-NUCLEBRÁS), Roberto Franca. Resolveu comprar, da Alemanha, por 20 milhões de dólares, equipamentos que iam para o ferro velho. Para "fabricar pastilhas de pó de urânio, a serem exportadas para a Alemanha". Os alemães, que não são bobos, fecharam logo o negócio, e estão rindo até hoje.

Não haveria espaço neste jornal para contar nem metade do que se tem comentado na Eletrobrás, nestes dias de "férias coletivas da diretoria". O certo é que as coisas não vão nada bem por lá. E é aí que aparecem as notícias. Como a do "milagre da multiplicação dos dólares", pelo qual o orçamento inicial da Itaipu, que era de menos de 6 bilhões de dólares, passou para mais de 16 bilhões. Para alegria de empreiteiras brasileiras e "empresas-fantasmas" paraguaias. Em geral pertencentes a parentes do general Stroessner (o que não é novidade). Porém (é aí que está o segredo), com importantes sócios do lado brasileiro. E que sócios. Agora estão brigando pela posse das contas numeradas, na Suíça. (O que roubaram dos dois lados, em Itaipu, é uma loucura. Sem falar que Itaipu teria que ser feita com a Argentina e não com a Paraguai. Só que na ditadura de lá, impopularíssima, ninguém queria nada com a Argentina.)

Os funcionários enganados não perdoam nem os altos escalões de Brasília. O "DNAEE (Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica) é um ninho de ratos", dizem eles. E acrescentam: "O secretário nacional de Energia, Peter Grainer, é pilotado pelas empreiteiras da Associação Paulista de Empreiteiras de Obras Públicas (Apeop), de onde era consultor, ao mesmo tempo em que trabalhava na Eletropaulo. Ele merece o apelido de Peter Grana", concluem, indignados.

Seria necessário, e com urgência, um levantamento sério e competente para uma constatação: quanto o Brasil gastou de fato com Itaipu, qual deveria ser o verdadeiro custo dessa empresa?

Na própria Itaipu, técnicos competentes, responsáveis, e que sofrem com o esbanjamento do dinheiro do cidadão-contribuinte-eleitor, dizem que os que falam em 16 bilhões de dólares não sabem de nada. E o Brasil já pagou, até hoje, por Itaipu, mais de 35 bilhões de dólares.

E não obtivemos coisa alguma até agora, a não ser a "fábrica" de milionários que se instalou principalmente em Assunção. 35 bilhões de dólares, sem contar com as despesas que continuamos tendo para financiar os paraguaios, e para comprar a energia excedente, que eles nos vendem a preços escorchantes. E que nós pagamos, pois continuamos sendo os eternos trouxas do mundo.

O presidente Itamar poderia utilizar os três últimos meses do seu mandato para fazer uma investigação em profundidade no setor da construção de hidrelétricas. O que a Siemens e a Westinghouse ganharam só com as usinas nucleares, inacreditável.

PS - O artigo acima foi publicado pouco antes da eleição de 1994. Lula era tão favorito, que seu adversário, desanimado e derrotado antecipadamente, reduziu o mandato presidencial. (Que depois aumentaria para ele mesmo). "Deselegeram" Lula antes de ser eleito.

PS 2 - Este artigo é enderaçado diretamente ao presidente do Paraguai, para que não leve adiante as ameaças ao Brasil. O ex-bispo Lugo deveria agradecer a Deus por Itaipu.
Amanhã

Na mais inesperada eleição dos EUA, as pesquisas não valem nada, o cidadão está respondendo sem convicção. Os americanos votarão mesmo num negro? Ele ganha, toma posse, governa? Ou a morte rondará o espetáculo como tem acontecido na História dos EUA?

Zelia Cardoso
Durante 15 anos desapareceu, ficou nos EUA. Tendo vindo agora, inesperadamente, muitos comentários. Por que voltou?

Mantega é engraçadíssimo. E embora não seja polêmico ou resistente, não há dúvida, teria feito sucesso nos tempos áureos do Pasquim. Ele se diverte muito com o palavreado "robusto", e apesar do presidente do Banco Central, teoricamente, ser subordinado a ele, critica sua política. Por que não demite o subordinado? Ha! Ha! Ha! Às vezes dá a impressão de que pode. Mas sabe que isso não está nem nas atribuições do presidente da República.
Como sabe que tem que assistir a tudo sem participar, também procura não se incompatibilizar. O que disse anteontem: "O Brasil hoje é uma potência, graças às políticas do atual governo e dos anteriores". Todos? Quer dizer que não houve governo ruim?

Serra ontem procurou Dona Dilma. Motivo: prorrogação das usinas de Jupiá e Ilha Solteira. Quer privatizar a Cesp, mas como as concessões terminam em 2015, no caso de venda, o preço será baixo.
Dona Dilma concorda com a prorrogação, mas não com a privatização. Com o neocolonialismo e a globalização desabando no mundo, se ela pretende ser presidenciável, não pode DOAR coisa alguma.

Mas o interessante é a contradição no próprio governo de SP. O vice sem votos, ex-stalinista Alberto Goldman (homem de ouro, tradução nominal), declara: "A privatização da Cesp está descartada".
O vice assume 6 meses antes de acabar o mandato de Serra em 2010. Se a reeeleição continuar, Goldman fica 9 meses e pode se "reeeleger". Se acabar, pelo menos foi "governador", como Lembo.

Funcionários da Infraero estão redigindo manifesto amplíssimo, contra a DOAÇÃO desses 3 aeroportos. O maior do Rio e 2 de SP.
É o que desejam Cabral e Jobim. O documento será entregue ao comandante da Aeronáutica. A DOAÇÃO é inconstitucional, como mostrei de forma irrefutável. A Aeronáutica está contra a DOAÇÃO.

No dia 18, a Academia festeja os 80 anos de Tarcisio Padilha e o lançamento de sua candidatura a presidente. Ele já foi, mas como muitos não querem ser, ele pode (e vai) repetir.
Depois de 15 anos, Dona Zelia voltou ao Brasil. É evidente que não veio comemorar os 200 anos do Ministério da Fazenda. Morou esse tempo todo nos EUA, deve ter feito boa amizade com Marco Aurelio Alencar.

Dizem em Brasília que não voltará aos EUA, ou irá rapidamente e logo estará morando no Brasil, na capital ou em SP. E que tentaria a política, começando pelo Senado em 2010. Pode ser.
Em matéria de disparate, esta notícia saída em vários jornais é Prêmio Nobel: "Portugal investirá 1 BILHÃO por ano no Brasil". Ha! Ha! Ha!

No dia 12 de julho, portanto completando 2 meses, o barril de petróleo estava a 173 dólares, altíssimo. Conversando com uma importante personalidade, afirmei: "Não demora e esse barril vem a 100 dólares".
O especialista riu, respondeu tranqüilamente: "Essa você não acerta". Respondi: não quero acertar ou desacertar, é a realidade. Está sendo. A personalidade da conversa deve estar impressionada.

A Bovespa, que já chegou a 73 mil pontos, obrigava os jornalões amestrados e as televisões amigas a dizerem diariamente, "foi batido mais um recorde". Agora estão calados, silêncio obscuro.
É que esse Índice dos especuladores-manipuladores chegou a 48 mil pontos. Caiu 25 mil pontos, ninguém fala no "recorde negativo". Dois fatos sempre registrados aqui, e que se confirmam.

1 - Só quem teve prejuízo: os amadores que compraram na alta e agora têm que vender na baixa.

2 - Vale e Petrobras tiveram as maiores quedas por causa da alta negociabilidade. E finalmente: ganharam muito na bolsa, estão ganhando com o dólar.
A internet é ao mesmo tempo um avanço e um retrocesso. Em matéria de Liberdade é total e absoluta. Ninguém é dono de ninguém, qualquer um pode ter a própria opinião imediatamente.

A internet está dominada por blogues notáveis e tolices inomináveis. Só que ninguém tem que pedir licença a ninguém para concordar ou discordar. Cria um blogue, coloca e se orgulha.
Seria a única forma de Cesar Maia deixar de ser apenas alcaide-factóide-debilóide, e se comunicar com aqueles que acreditam que a internet é a última palavra. Mas os "blogueiros" passam recibo: têm que ser vistos nos jornais.

Financeiramente a internet é fracasso total. Ninguém ganha dinheiro, nem mesmo os gigantescos provedores. Muitas vezes se salvam e olhe lá. A Amazon, a maior editora virtual, já faliu.
Do ponto de vista intelectual, a internet é um fracasso e um desacerto, principalmente para os jovens. Querem "navegar", não estudam, não se interessam por cultura ou conhecimento. Qualquer dúvida recorrem ao Google, esquecem tudo. Que vergonha.
XXX

Hoje, 5ª feira, reunião extraordinária na Alerj. Motivo: conceder reajuste de 8% a 260 mil funcionários estaduais. Incluídos: PM, bombeiros, professores, agentes penitenciários. 32 emendas. Beneficiando funcionários do Poder Judiciário, Tribunal de Contas e do Legislativo.

Outra emenda aumenta o teto estadual também em 8%. No sentido de favorecer os que ganham 21 mil mensais. Muita agitação, porque Picciani quer, sozinho, capitalizar todos os aumentos. E muita gente quer a mesma coisa. Dizem tranqüilamente, "política é isso". Não é não.

XXX

Tem gente gastando fortunas para ser vereador. Mas fortunas mesmo. Quem quiser votar acima de partidos, além de qualquer interesse, em personagem de total espírito público, pode escolher um de 4 nomes, rigorosamente em ordem alfabética e ética. Aspasia Camargo, Paulo Pinheiro, Pedro Porfirio, Stepan Nercessian. Uma economista, um médico, um jornalista, um ator presidente da Casa dos Artistas. Não há como errar.
XXX

Imprimir Indique para um amigo

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

O futuro da riqueza do Brasil - Petrobras, sim. Petrosal, não (Helio Fernandes)

O Brasil é hoje notícia no mundo inteiro. Por muitos e variados motivos, que não aconteceram em nenhuma fase da República, "que não é a dos nossos sonhos" (Saldanha Marinho, Propagandista da República, diretor do jornal diário "A República", senador, preso quando da tribuna do Senado defendia o interesse nacional).

Hoje, quero apenas começar, com simplicidade, clareza e de forma elucidativa, esclarecimentos para que o cidadão-contribuinte-eleitor compreenda o que é o Pré-Sal (ou Petrosal) e a razão de quererem criar várias empresas que inevitavelmente LIQUIDARÃO A PETROBRAS.

Tive acesso a um mapa desse petróleo que vem de Santa Catarina, Paraná, cobre todo o litoral brasileiro, chega ao Espírito Santo, depois de passar por Santos e o interior do Estado do Rio de Janeiro. Essa é a realidade.

Sobre essa realidade, querem montar uma irrealidade, representada por várias empresas, ninguém sabe quantas, já falam em uma porção de Conselhos de Administração. Relegando a Petrobras a um plano secundário, como se ela não tivesse feito coisa alguma. Não a partir de 1953 ou 1954, quando a sua criação foi aprovada.

Mas na verdade coloquem nessa criação pelo menos 10 anos, ou melhor, 20. A partir daí ela existiu e existe, desde que foi vitoriosa a campanha do PETRÓLEO É NOSSO.

Como esse Pré-Sal levará muitos e muitos anos, mostremos as dificuldades que a Petrobras teve e tem que enfrentar, como se ela não fosse uma potência, mais admirada no exterior do que aqui no Brasil. Precisou descobrir petróleo a grandes profundidades, seus campos e plataformas, uma época acolhendo dezenas de especialistas estrangeiros, que se perguntavam: "Como é que a Petrobras pode ir buscar petróleo a essa profundidade?". Mas ia. E cresceu assim.

Além do mais, a Petrobras tinha que enfrentar governos, ditatoriais ou não. O "presidente" Geisel nomeou presidente da Petrobras (e depois ministro de Minas e Energia) o senhor Shigeaki Ueki. Só alguém que deseja destruir uma empresa nomeia Ueki presidente. E outros, vários, com ele e como ele. Hoje, Ueki e os filhos moram no Texas, mais ricos em petróleo do que a família Bush.

Só que a tentativa de destruição da Petrobras não parou por aí. Quando FHC DOOU-PRIVATIZOU grandes empresas, quis fazer o mesmo com a Petrobras. Não teve coragem, nunca teve, por que iria mudar? Criou a COMISSÃO DE DESESTATIZAÇÃO, todos os seus membros tinham uma emocionante vocação para o enriquecimento pessoal e não o coletivo.

FHC criou então a lei 9478, que estabelecia as famigeradas licitações. Dona Dilma, ainda não no governo, combateu essa 9478. Entrou no governo, "aceitou" imediatamente as licitações criminosas. E eu combatendo diariamente para não haver essa DOAÇÃO indireta. Ou diretíssima.

Escrevi tanto e por tanto tempo, defendendo a Petrobras, que o procurador geral da Justiça do Paraná entrou no Supremo com uma AÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DIRETA, para anular essa criminosa 9478. Os primeiros a vontarem foram 4 dos grandes ministros do Supremo, o resultado ficou: Petrobras-Brasil 4 a 0. Nelson Jobim, presidindo do Supremo, fez um gesto com a mão, o ministro Eros Grau pediu vista. Levou meses, quando devolveu a Petrobas-Brasil perdeu por 7 a 4.

Lula, que não anulou a Lei 9478 de FHC, ainda derrotou a Petrobras, obrigando-a a "vender" petróleo às multinacionais. Cumpriu SUBMISSAMENTE o que FHC determinara INSENSATAMENTE.

PS - Como eu disse, essa Petrosal terá que esperar muito tempo. É lógico que sou a favor da distribuição dos lucros, para a educação e para investimentos.

PS 2 - Mas por que não fazer através da Petrobras? Ela tem competência, conhece todos os caminhos, tem experiência e o respeito geral.


Presidente Lugo
Assumiu no Paraguai com a idéia de reajustar a exploração de Itaipu. Amanhã mostrarei que o Paraguai deveria agradecer a Deus.

Revelado pelo "Washington Post" e publicado no Brasil: o governo Bush no final do governo decidiu "salvar" empresas poderosas de hipotecas. Segundo a fonte inicial e a reprodução, serão destinados até 200 BILHÕES de dólares para que não haja uma crise com a possível quebradeira de outras empresas do mesmo ramo, e até bancos. O encarregado da operação será o secretário do Tesouro, Henry Paulson, que prepara o "salvamento" com a maior alegria.
200 BILHÕES para um país que destinou 3 TRILHÕES (agora, fora o que terá que ir gastando nos próximos 50 anos) para uma guerra criminosa (alguma guerra não será criminosa, a não ser a defesa do território nacional?) no Iraque, não se preocupa com essa "importância sem importância".

Esses 200 BILHÕES representam menos de 7 por cento do que foi desperdiçado no Iraque. E se alguém esqueceu, pode lembrar: é o que Chico Lopes, como presidente do Banco Central, chamou de "perigo de crise sistêmica".
O economista, um gênio completo, estava convencido de que não poderia deixar de agir, como vão fazer agora nos EUA.

Para terminar, por hoje, por hoje: Chico Lopes é corretíssimo, o chamado "Cidadão acima de qualquer suspeita", como no filme famoso.
O ministro da Previdência, José Pimentel, publicou portaria na página 75 do Diário Oficial, informando que, em agosto, os vencimentos médios dos 25 milhões de aposentados e pensionistas do INSS foram de 580 reais por mês. Muito baixos.

Déficit? Só na versão dos tecnocratas, que desejam tudo para os bancos, nada para os salários. Principalmente dos aposentados. Depois de terem contribuído por 35 anos, são obrigados a contribuir novamente. Para quê? Para nada.
O presidente Lula não está muito ligado (ou interessado) na eleição da prefeitura de São Paulo, capital. Quer eleger 4 prefeitos: do ABCD. Santo André, São Bernardo, São Caetano e Diadema. Vai morar lá.

O imprevisível acontece: uma das lutas eleitoralmente mais duras e difíceis ocorrerá em 2010 no Maranhão. Protegido e amparado a vida inteira por Sarney, Lobão deslumbrou. Quer derrotar Dona Roseana.
Depois das denúncias da Veja sobre vários conselheiros do TCE (Tribunal de Contas do Estado do Rio), muitos deles não conseguem dormir, assustadíssimos. E com sérios problemas.

Alguns foram denunciados com nomes, e outros, a revista omitiu estrategicamente, mas guarda "generosamente" documentos.
Depois disso (e eles não podem desmentir), obstáculos surgiram na vida de vários conselheiros. Até a Receita Federal decidiu intervir, parcelou as OMISSÕES, mas interviu.

No entanto, o que apavora alguns conselheiros é isto: o poderoso presidente da Alerj, Jorge Picciani, rompeu com o TCE, ou pelo menos com alguns deles c-o-m-p-r-o-m-e-t-i-
d-o-s. (Estou juntando mais dados sobre enriquecimento ilícito).
Impressionante a repercussão dos 3 artigos do general Lessa, aqui mesmo, sobre a Amazônia. Abandonou o menor (índios contra arrozeiros), ficou com o maior (a independência do Brasil).

Tem feito conferências pelo Brasil, sempre explicando de forma clara e límpida a questão superimportante. Afinal, comandou a Amazônia por 4 anos, estudou tudo a fundo.
Sempre lhe perguntam duas coisas. 1 - Foi o senhor que denunciou 100 mil ONGs na Amazônia, para que servem? 2 - Por que o presidente não cria logo o Ministério da Amazônia, imprescindível? Se há alguma coisa importante, hoje, no Brasil, é a Amazônia.

Cabral informa que apoiou integralmente a proposta do governador José Serra para a construção de uma nova rodovia Rio-São Paulo.
270 quilômetros de extensão, portanto 130 quilômetros a menos do que a Presidente Dutra. Do Rio, ela sairia da Avenida Airton Sena, na Barra da Tijuca, passando por Mangaratiba. (Onde o governador possui luxuosa casa de praia).

Depois: Parati, Vale do Paraíba até a divisa com o Estado de São Paulo. Nesses lugares o governador ainda não tem propriedade.
Segundo informações do governador José Serra (Cabral não sabe de nada, foi informado pelo vice Pezão e mandou publicar no Diário Oficial) custará 3 BILHÕES.

Financiamento do BNDES, nesse caso justíssimo, a Presidente Dutra, intransitável, é uma fábrica ou usina de acidentes e mortes. Essa Rio-SP vem pelo menos com 20 anos de atraso.
Registre-se, ressalte-se, ressalve-se: 3 bilhões é o preço do orçamento inicial. Mas todos sabem que o custo final de uma obra como essa ficará no mínimo 3 vezes maior.
XXX

Veja só: o ministro Edison Lobão não manda nada na sua própria área, de Minas e Energia. O governador José Serra (Folha de São Paulo) procurou a ministra Dilma Rousseff para pedir a prorrogação do prazo de concessão das principais usinas (Jupiá e Ilha Solteira) do sistema da CESP.

Serra, há alguns meses, tentou privatizar a CESP, mas não conseguiu. As propostas eram baixíssimas, exatamente em função das concessões terminarem em 2015. O impulso à privatização, à moda FHC, é uma constante no comportamento das principais figuras do PSDB. Isso, inclusive, bloqueia o avanço eleitoral de Serra para a sucessão de Lula.

Mas voltando a Lobão: Serra foi procurar Dilma, deveria ter procurado o titular do MME. Dilma aproveitou a oportunidade para marcar pontos junto aos empregados das estatais, disse: "Aceita prorrogar as concessões, desde que Serra não privatize o controle acionário da empresa paulista". Quer dizer: Dilma respondeu por Lobão. Onde estava o ministro no episódio?

A propósito: em Brasília, muita gente cai na gargalhada quando eu chamo Lobão de ministro. Lobão é o chamado "ministro Coca-Cola". Como está na garrafa, "é marca de fantasia".

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O "inominável" e a sua direita raivosa

Inominável, obviamente, é George W. Bush. Ele viu seu nome e imagem desaparecerem na convenção, como acontecia com os desafetos de Stalin na Rússia, depois de ter falado terça-feira via satélite aos republicanos. Mitt Romney o mencionou uma vez; Rudy Giuliani e a vice Sarah Palin, nem isso. Pode até não dar certo no final, mas a campanha tenta expurgá-lo e também afogar a chapa democrata no próprio sucesso - como refém de armadilha insólita.

Vítima do próprio sucesso, na trama republicana, Barack Obama é pintado como "arrogante" e "elitista", além de "celebridade" como Britney Spears. A base desse esforço tende a ser - de novo, como ocorre desde 1992 - a guerra cultural e religiosa alimentada pelo conservadorismo social do sul e meio-oeste. No confronto de 16 anos atrás, não funcionou: George Bush I subverteu o modelo. E seu adversário, governador sulista Bill Clinton, empurrava para a direita o Partido Democrata.

Atrelada à direita cristã, a campanha Bush-Quayle refugiou-se em factóides - como o ataque social-conservador ao eixo Nova York-Califórnia, acusado de envenenar o país com o lixo da TV, onde Murphy Brown, num seriado, teve filho sem se casar. Manchete do tablóide "Daily News" de Nova York: "Quayle to Murphy: You, tramp" (Dan Quayle para Murphy: sua vagabunda". Apesar de cair no ridículo nacional, o vice de Bush insistiu no sermão até o fim.
Grávida sim, vagabunda não

Agora é diferente. A própria filha da evangélica Palin declarou-se orgulhosa da filha, solteira e grávida como Murphy Brown, mesmo tendo garantido que vai se casar com o pai da criança. Em 1992 o velho Bush esgrimia a imagem de herói da II Guerra e explorava o tema "caráter". Desqualificava Clinton, exposto por ele como "dodge drafter", por ter buscado proteção para escapar da guerra do Vietnã.

Com o primeiro Bush, no entanto, o tiro no "caráter" acabou saindo pela culatra ao ficar confirmado o envolvimento dele, como vice de Ronald Reagan, no debate interno da Casa Branca sobre a troca de armas por reféns com o Irã, escândalo investigado pelo promotor independente Larry Walsh. Bush dizia não ter estado na reunião decisiva e os secretários de Estado e da Defesa garantiram o contrário: ele estava lá e, contra os dois, apoiou o plano ilegal desastrado.

Na eleição seguinte, 1996, o casal Clinton era o alvo de outra investigação, a de Whitewater. A oposição republicana tinha tomado, dois anos antes, o controle das duas casas do Congresso mas o candidato presidencial Bob Dole, também com biografia de herói da II Guerra, perdeu a eleição, em parte por causa dos excessos da direita religiosa e da Coalizão Cristã criada pelo reverendo Pat Robertson.
McCain: "sou criminoso de guerra"

Ressabiado com o papel conspícuo da Coalizão Cristã antes, Bush filho achou em 2000, com base nos erros do pai e de Dole nas campanhas anteriores, que devia neutralizar os reverendos Robertson e Jerry Falwell. Isso só não ocorreu por causa da derrota na primária de New Hampshire para John McCain: assustado, Karl Rove pediu socorro a fundamentalistas cristãos para nocautear McCain na primária seguinte, na Carolina do Sul.

O lado irônico daquele confronto (Bush II contra McCain) foi Rove inverter em 2000 a equação de 1992: tinha de eleger um "dodge drafter" que buscara a proteção dos amigos do pai para não ter de lutar na guerra do Vietnã; e atacar o rival dele, McCain, prisioneiro no Vietnã cinco anos e meio, acusado no submundo da campanha de ter assinado confissão sob interrogatório brutal (com tortura) do inimigo norte-vietnamita.

Quem sabe hoje nos EUA que McCain, sob tortura, assinou a tal "confissão"? A mídia sabe mas não diz. E mais: ele se disse "criminoso de guerra" por ter bombardeado, como piloto da Marinha, aldeias e populações civis nas proximidades de Hanói. Três décadas depois (1997), sem tortura, repetiria a mesma coisa em entrevista ao "60 Minutes" da CBS: "Sou um criminoso de guerra. Bombardeei mulheres e crianças inocentes". Declação corajosa, convenhamos.

McCain sabia ter sido errado o que fizera. Três meses antes da derrubada de seu avião, um disparo acidental em seu porta-aviões matara 132 marinheiros. Ainda abalado, ele foi entrevistado em Saigon por um repórter do "New York Times" e afirmou: "Agora que vi o que as bombas e o napalm fizeram às pessoas no porta-aviões, não estou certo de que concordo em lançar essas bombas no Vietnã do Norte".
Entre a percepção e a realidade

Outra declaração corajosa, até por ser ele neto e filho de almirantes, altos chefes militares da Marinha (o pai foi comandante de operações navais na área do Vietnã à mesma época em que o filho cumpria missões de bombardeio no norte). Nem por isso deixou de fazê-la. Ao ter o avião derrubado, foi socorrido por civis vietnamitas, que o salvaram de morrer afogado no rio onde o aparelho caíra.

Agora sua candidata a vice - Sarah Palin, versão evangélica impossível de Murphy Brown - referiu-se à generosidade de McCain em viagem posterior (na década de 1990) ao Vietnã: ele falou com civis que ajudaram a resgatá-lo após a derrubada do avião e perdoou os que o torturaram na prisão, disse ela. Ora, mesmo tendo sido torturado, McCain sabe que deve a vida a civis bombardeados por ele, que o tiraram a duras penas de dentro do avião, no rio.

As contradições envolvendo fundamentalismo cristão, social conservadorismo, patriotismo e patriotadas, heroismo e falso moralismo, elitismo, arrogância, feminismo e outras questões sugerem mais algumas observações que ficam para outra coluna. Até porque os temas continuarão nos próximos dois meses, com a promessa de mais manipulação e inversões surpreendentes.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Reinações de Narizinho (Carlos Chagas - Tribuna da Imprensa)

BRASÍLIA - Não tinham limite à imaginação e o patriotismo de Monteiro Lobato, lembrado esta semana pela ministra Dilma Rousseff. Foi na plataforma submarina ao largo do Espírito Santo, junto com o presidente Lula, para a extração da primeira gota de petróleo do pré-sal. A chefe da Casa Civil lembrou "O poço do Visconde", um dos muitos livros do genial autor, onde era encontrado petróleo no sítio de Dona Benta.

Horas depois Dilma estava em São Paulo, na festa dos 40 anos da "Veja", junto com outros possíveis aspirantes à sucessão presidencial de 2010, quando, mesmo sem citar, ela fez lembrar outra vez Monteiro Lobato. No caso, outro livro, por sinal o primeiro, sob o título de "Reinações de Narizinho". Disse a candidata, empolgada, "que vinha do futuro, vinha de Jubarte", o poço não do Visconde, mas da Petrobras.

Com todo o respeito, mas vir do futuro é demais. Coisa para Spielberg ou Bradbury. Quem sabe para o atual governador da Califórnia. Seria bom a ministra tomar Dona Benta como exemplo de bom senso, lucidez e cautela. Porque o futuro onde ela esteve vai demorar e é incerto. Euforia demais, só com a Narizinho.

Pelo menos dez anos passarão antes que o Brasil possa auferir os lucros da reserva de petróleo encontrada no pré-sal. Se tudo der certo. Serão necessários investimentos monumentais, hoje quase impossíveis de viabilizar. A empreitada exigirá, primeiro, grandes sacrifícios, certamente descarregados nos ombros do cidadão comum. Já se admite um novo imposto ou nova contribuição sobre os combustíveis.

O próximo presidente da República, ou presidenta, amargará alguns litros de impopularidade extra em função do esforço a ser desenvolvido pela Petrobras. Ou será pela nova empresa estatal em cogitação no Palácio do Planalto? Porque resultados, nem nos quatro nem nos oito anos do próximo mandato, se houver reeleição.

O ministério não pode gastar por conta, o governo deve conter a distribuição de euforia. Mil obstáculos surgirão, e a Quarta Frota da Marinha dos Estados Unidos é o menor deles. Nossa entrada no grupo dos países ricos, na Opep ou no imaginário mundial, custará suor e lágrimas, espera-se que sangue, não. As multinacionais do petróleo vão sabotar, já que a tendência no governo é de afastá-las. Crescerá o entusiasmo pela busca de fontes alternativas de energia, ironicamente há um mês atrás a grande meta do presidente Lula.

Os fornecedores externos do imenso e custosíssimo equipamento suplementar necessário à extração do petróleo profundo começarão, se já não começaram, a impor dificuldades e a esticar prazos de entrega. Na imprensa mundial se colherá má vontade ou silêncio. Parece inevitável uma campanha dos investidores pela não aplicação no que vão chamar de "aventura submarina".

Em suma, Narizinho empenhou-se em grandes reinações, mas essa de vir do futuro, nem Monteiro Lobato ousou. Porque o futuro do pré-sal é desconhecido, apesar de nossos votos para que venha a ser magnífico. Tomara que além de Dona Benta a nossa heroína possa colher lições da tia Anastácia, do Marquês de Rabicó, do Visconde de Sabugosa, do Pedrinho e até do burro-falante. Quem quiser que os identifique na Praça dos Três Poderes, para onde mudou-se o Sítio do Pica-pau Amarelo...
Um péssimo exemplo

Na calada da noite a Executiva Nacional do PMDB deu o golpe. Prorrogou por um ano e meio o mandato do presidente do partido, Michel Temer, que terminaria em dezembro. De quebra, foram prorrogados os períodos de todos os demais dirigentes nacionais, estaduais e municipais. Além da preservação do poder partidário, os caciques peemedebistas imaginam estar impulsionando a candidatura de Temer à presidência da Câmara.

O deputado paulista parece querer repetir o dr. Ulysses, que presidiu o partido e a casa, além da Assembléia Nacional Constituinte. Alguém já escreveu que a História só se repete como farsa.

Não terá o tiro saído pela culatra? Afinal, ao chamado baixo clero em oposição a Temer, poderão incorporar-se setores do PMDB que aspiravam o comando partidário e seus penduricalhos nos estados. Estarão inflando o balão de Ciro Nogueira, do PP, ou, como represália, estimulando Rita Camata e Osmar Serraglio a disputarem a indicação na bancada.

Acresce que toda prorrogação é digna de críticas. A gente fica pensado como o PMDB se comportará quando bater no Congresso emenda constitucional permitindo ao presidente Lula disputar o terceiro mandato...

Senadores do partido discordaram da prorrogação. Para evitar um racha, calaram-se. Mas é possível que venham a ignorar o acordo do PMDB com o PT, chancelado pelo presidente Lula, para que um presida a Câmara e outro, o Senado. Mesmo com a provável eleição de Michel Temer pelos deputados, alegando que também são majoritários, os senadores poderão escolher um deles, recebendo os votos da oposição. Em especial se vier a ser Pedro Simon.