BRASÍLIA - O presidente Lula viajou ontem à noite para Pelotas, no Rio Grande do Sul, mas de olho em São Paulo, onde estará sábado para mais uma rodada de carreatas e comícios em favor da candidatura de Marta Suplicy à prefeitura da capital.
Lula está feliz com o acirramento dos ânimos entre Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab, já acreditando na hipótese da vitória da candidata do PT no primeiro turno. A eleição em São Paulo é simbólica e pode antecipar o enfraquecimento de José Serra como candidato da oposição à presidência da República, em 2010.
Muita gente se pergunta como os tucanos paulistas deixaram acontecer a lambança que divide Kassab e Alckmin. As responsabilidades dividem-se igualitariamente: o açodamento do ex-governador em lançar-se antes de buscar entender-se com Serra, de um lado, e de outro a teimosia do governador em favorecer o atual prefeito, do DEM, contra o seu próprio partido.
A temperatura subiu nos últimos dias, com Geraldo Alckmin agredindo Kassab nos programas de propaganda gratuita. O resultado está sendo o empate técnico entre eles e a prevalência de Marta nas preferências populares, por certo que inflado o seu balão pela cada vez maior popularidade de Lula. Mesmo se houver segundo turno, a previsão é de que o derrotado não ajudará o segundo colocado, seja Kassab, seja Alckmin, tornando-se viável aquilo que até semanas atrás parecia impossível, a vitória de Marta no segundo turno.
O Rio em chamas
O Rio repete São Paulo em termos de desvario eleitoral. Eduardo Paes, candidato do governador Sérgio Cabral, passou o senador Marcelo Crivella, que por sua vez investe contra o adversário mostrando na televisão o que seriam suas incoerências. Porque, como deputado, na CPI do Mensalão, Paes não poupou o presidente Lula, afirmando dispor de provas sobre corrupção no governo.
Quem chutou o pau da barraca, porém, foi o prefeito César Maia. Para ajudar sua candidata, Solange Amaral, ele acusou a Igreja Universal, da qual Crivella é bispo, da prática de lavagem de dinheiro, inclusive do narcotráfico. Endossou antigas acusações de um bispo dissidente e obriga Crivella a defender-se.
Delineia-se o quadro para 5 de outubro com a probabilidade de um segundo turno, no caso, entre Eduardo Paes e Marcelo Crivella. As esquerdas, mais do que divididas, carecem de condições para servir de fiel da balança, pois onde estiver Fernando Gabeira não estarão Jandira Feghalli e Chico Alencar.
A presença de tropas do Exército e dos Fuzileiros Navais nas favelas da antiga capital contribui para a preservação da ordem, mas não favorece nenhum candidato à prefeitura. Sérgio Cabral jogará todas as fichas em Eduardo Paes, que se for eleito favorecerá a inclusão do governador no rol dos pretendentes do PMDB à indicação para companheiro de chapa de Dilma Rousseff, em 2010. Melhor ainda se vingar a tese do terceiro mandato para o presidente Lula, tendo em vista as dificuldades de saúde do vice-presidente José Alencar.
Um cheirinho de fascismo
Apesar de rejeitado em sua primeira versão pelo presidente Lula, o Plano Nacional de Defesa vem tendo alguns de seus aspectos revelados e discutidos. Seu principal artífice, o ministro Mangabeira Unger, não resiste em fazer propaganda das polêmicas sugestões.
A mais recente delas envolve a criação de uma estranha Força de Reserva Maleável, a ser constituída por todos os rapazes e moças que completarem 18 anos e forem dispensados do serviço militar obrigatório. Quer o ministro do Futuro enquadrar a juventude na obrigação de prestar serviço civil alternativo, tanto os universitários quanto os que estiverem cursando o segundo grau.
Eles seriam organizados em batalhões e enviados para as regiões do País onde se registra maior pobreza. Uns prestariam auxílio em postos de saúde, outros construiriam casas populares, aqueles ajudariam a alfabetizar a população, estes cuidariam da agricultura.
Com todo respeito ao filósofo bilíngüe e binacional, mas isso cheira ao fascismo dos anos trinta e quarenta. O Plano Nacional de Defesa não especifica se essa numerosa tropa precisará usar uniforme nem de onde sairão os recursos para tamanha movimentação.
Estatizando os prejuízos
Quem anda feliz é o sociólogo, reivindicando o galardão de precursor da moderna economia mundial, aquela que mandam privatizar os lucros e estatizar os prejuízos. Anos atrás, na iminência da quebra de alguns bancos, por má gestão e incompetência, o então presidente Fernando Henrique Cardoso criou o Proer, sinecura que injetou bilhões no setor especulativo. Enquanto privatizava a Vale do Rio Doce a preço de banana podre e com recursos do BNDES, sem esquecer as telecomunicações, os portos e a maioria das ações da Petrobras, o governo socorreu a incúria privada com dinheiro público.
Pois não é exatamente o que acontece agora nos Estados Unidos? O pretexto é o mesmo: evitar que sofram milhões de investidores, correntistas ou depositantes. Deixar que o mercado cuide de tudo, só quando as coisas vão dando certo e favorecem uns poucos.
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