BRASÍLIA - Auxiliares do presidente Lula aguardavam sua chegada à capital federal, hoje, para obter informações sobre estranhos acontecimentos verificados na noite de sexta-feira para sábado passados, no Palácio Rio Negro, em Petrópolis. Porque rumores chegados a Brasília davam conta de ter sido o sono do casal presidencial perturbado por estranhos ruídos.
Uma espécie de arrastar de correntes no sótão, súbitas ondas de frio percorrendo os corredores, gemidos sem identificação e até a aparição do vulto esfumaçado de um velho de barbas brancas nos salões do andar térreo faz parte dos cochichos dos poucos assessores que acompanharam o presidente Lula e Dona Marisa ao antigo palácio de verão dos presidentes de décadas atrás, onde pernoitaram a convite do governador Sérgio Cabral.
Provavelmente tudo não passe de boatos, afinal o Lula e sua mulher não sofrem de insônia nem de pesadelos, mas agentes de segurança imaginam ter visto D. Pedro II perambulando pelo antigo casarão. Afinal, o Palácio Rio Negro fica a um pulo do Museu Imperial, onde há muito se afirma encontrar-se o espírito de nosso segundo imperador. Ele teria atravessado a rua para dar conselhos ao atual presidente? Pelo menos tentado chamar a atenção do Lula para algum mau augúrio prestes a acontecer no País?
Ou, como parece mais provável, queria apenas incorporar-se à imensa maioria da opinião pública que apóia o presidente? Talvez aconselhá-lo a esticar sua permanência no poder, livrando-se dos preceitos constitucionais que limitam os mandatos atuais.
O arrastar de correntes, as ondas de frio inexplicável e os gemidos foram percebidos pelos encarregados da segurança presidencial, mas, como já se tornaram rotina em outros palácios, foram considerados quase normais. O que terá mesmo despertado a atenção dos agentes foi a estranha presença do velho de barbas brancas. Ignora-se, até agora, se o presidente Lula acordou se percebeu a inusitada visita e até se chegou a conversar com D. Pedro II. Mais ainda, se aceitou os supostos conselhos de ir ficando no governo. Só ele poderá esclarecer, se quiser.
Quando lembramos que certos barulhos acontecem pela madrugada, em outros palácios, estamos nos referindo ao Alvorada. Nos tempos do marechal Castelo Branco, o piano de cauda do andar térreo costumava tocar sozinho, parece que alguns acordes do Hino Nacional. O general Garrastazu Médici trancava seus aposentos particulares, no segundo andar, proibindo a família de descer, e o general Ernesto Geisel apelava para expressões pouco vernaculares todas as vezes que lhe parecia ver o presidente Juscelino Kubitschek abrindo os braços, como a perguntar se o governo investigara em profundidade o acidente automobilístico que o vitimou.
Talvez por isso José Sarney espalhasse incenso e alho nos peitoris das janelas, e Fernando Collor jamais tenha dormido uma só noite na residência oficial. Quanto a Fernando Henrique, dizem que até gostava daquele cheirinho de enxofre percebido nas noites de sexta-feira. Enfim, são bastidores da atividade governamental que não constam de relatórios nem de biografias...
Um vazio para ninguém botar defeito
De hoje até terça-feira, 7 de outubro, o Congresso estará em recesso remunerado. Deputados e senadores, autorizados pelos respectivos presidentes, mandaram-se para seus estados a fim de participar das três últimas semanas que nos separam das eleições municipais. Mesmo os parlamentares eleitos por Brasília, onde não haverá eleição, desaparecerão de seus gabinetes.
Alguns ranzinzas já começaram a protestar, lembrando que o eleitorado escolherá os novos prefeitos e vereadores em todo o país, ou seja, sem estarem em jogo os mandatos federais. É má vontade, porque senadores e deputados precisam cultivar suas bases. Ao menos em parte, dependem delas para reeleger-se. Precisam mostrar-se aos futuros eleitores, bem como ajudar seus respectivos partidos a eleger o maior número possível de vereadores e prefeitos.
A dúvida é se estarão todos outra vez na capital, uma vez encerradas as eleições, na noite de domingo, dia 5. Talvez não, porque na maioria das capitais dos estados haverá segundo turno para prefeito. Poucos candidatos obterão a vitória na primeira votação, tornando-se mais acirrada a disputa entre os dois primeiros colocados.
Presumindo-se que só no fim de outubro as situações se definam em grande parte das capitais estaduais, voltam-se as atenção para novembro e a primeira quinzena de dezembro, quando pela lei o Congresso estará funcionando. Muita coisa poderia ser votada, havendo vontade política. Pelo menos, estaria preenchido o vazio, não só destas três semanas, mas, com todo o respeito, do ano inteiro.
Gilmar, outra vez
Atacou de novo o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Semana passada ele anunciou a disposição de agir para que ninguém fique preso sem sentença transitada em julgado, exceção aos criminosos de alta periculosidade. As cadeias se esvaziariam, o que parece bom para os cofres públicos, mas a sociedade teria aumentados os riscos de insegurança pública. O problema, porém, não é esse. Acontece que para as sentenças transitarem em julgado, no Brasil, leva tempo.
A morosidade do aparelho judiciário e o vasto número de recursos e filigranas jurídicas constantes do Código de Processo Penal e sucedâneos esticam o mais simples dos processos por muitos anos. Ainda agora o Supremo mandou soltar nove integrantes do Primeiro Comando da Capital, em São Paulo, porque presos há quatro anos sequer passaram pela instrução do respectivo processo. Discute-se o grau de periculosidade desses elementos, mas a verdade é que estão na rua.
Indicaria o bom senso que antes da aplicação das regras lembradas pelo presidente do Supremo, fosse feita uma limpeza ampla na legislação que cada vez mais beneficia bandidos.
Fazer o quê?
Vamos supor, só para argumentar, que a crise na Bolívia agrave-se ainda mais, com o país rachado de alto a baixo e entregue, mais do que a badernas urbanas, à guerra civil. Nos últimos dias a fronteira com o Brasil foi fechada e o fornecimento de gás, suspenso por algumas horas. Piorando a situação, a ameaça é de continuação, sem prazo, desses e de outros inusitados.
O presidente Lula tem telefonado para o presidente Evo Morales, solidarizando-se com ele. Afinal, foi eleito democraticamente. O problema de o chefe do governo boliviano haver expulsado o embaixador dos Estados Unidos de seu território é apenas dele, mas fica claro o potencial explosivo dessa iniciativa, já que o presidente da Venezuela fez o mesmo para demonstrar de que lado está.
Hugo Chávez prometeu até ajuda militar ao colega da Bolívia, mas basta a gente olhar o mapa para ver que aviões venezuelanos, para chegar à Bolívia, não iriam dar a volta pela Colômbia e o Peru, até por falta de autorização. A linha reta pressupõe longo sobrevôo sobre território brasileiro. Teriam licença para tanto os caças Sukoi comprados aos montes por Chávez? Vamos fazer o quê?
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