BRASÍLIA - Não tinham limite à imaginação e o patriotismo de Monteiro Lobato, lembrado esta semana pela ministra Dilma Rousseff. Foi na plataforma submarina ao largo do Espírito Santo, junto com o presidente Lula, para a extração da primeira gota de petróleo do pré-sal. A chefe da Casa Civil lembrou "O poço do Visconde", um dos muitos livros do genial autor, onde era encontrado petróleo no sítio de Dona Benta.
Horas depois Dilma estava em São Paulo, na festa dos 40 anos da "Veja", junto com outros possíveis aspirantes à sucessão presidencial de 2010, quando, mesmo sem citar, ela fez lembrar outra vez Monteiro Lobato. No caso, outro livro, por sinal o primeiro, sob o título de "Reinações de Narizinho". Disse a candidata, empolgada, "que vinha do futuro, vinha de Jubarte", o poço não do Visconde, mas da Petrobras.
Com todo o respeito, mas vir do futuro é demais. Coisa para Spielberg ou Bradbury. Quem sabe para o atual governador da Califórnia. Seria bom a ministra tomar Dona Benta como exemplo de bom senso, lucidez e cautela. Porque o futuro onde ela esteve vai demorar e é incerto. Euforia demais, só com a Narizinho.
Pelo menos dez anos passarão antes que o Brasil possa auferir os lucros da reserva de petróleo encontrada no pré-sal. Se tudo der certo. Serão necessários investimentos monumentais, hoje quase impossíveis de viabilizar. A empreitada exigirá, primeiro, grandes sacrifícios, certamente descarregados nos ombros do cidadão comum. Já se admite um novo imposto ou nova contribuição sobre os combustíveis.
O próximo presidente da República, ou presidenta, amargará alguns litros de impopularidade extra em função do esforço a ser desenvolvido pela Petrobras. Ou será pela nova empresa estatal em cogitação no Palácio do Planalto? Porque resultados, nem nos quatro nem nos oito anos do próximo mandato, se houver reeleição.
O ministério não pode gastar por conta, o governo deve conter a distribuição de euforia. Mil obstáculos surgirão, e a Quarta Frota da Marinha dos Estados Unidos é o menor deles. Nossa entrada no grupo dos países ricos, na Opep ou no imaginário mundial, custará suor e lágrimas, espera-se que sangue, não. As multinacionais do petróleo vão sabotar, já que a tendência no governo é de afastá-las. Crescerá o entusiasmo pela busca de fontes alternativas de energia, ironicamente há um mês atrás a grande meta do presidente Lula.
Os fornecedores externos do imenso e custosíssimo equipamento suplementar necessário à extração do petróleo profundo começarão, se já não começaram, a impor dificuldades e a esticar prazos de entrega. Na imprensa mundial se colherá má vontade ou silêncio. Parece inevitável uma campanha dos investidores pela não aplicação no que vão chamar de "aventura submarina".
Em suma, Narizinho empenhou-se em grandes reinações, mas essa de vir do futuro, nem Monteiro Lobato ousou. Porque o futuro do pré-sal é desconhecido, apesar de nossos votos para que venha a ser magnífico. Tomara que além de Dona Benta a nossa heroína possa colher lições da tia Anastácia, do Marquês de Rabicó, do Visconde de Sabugosa, do Pedrinho e até do burro-falante. Quem quiser que os identifique na Praça dos Três Poderes, para onde mudou-se o Sítio do Pica-pau Amarelo...
Um péssimo exemplo
Na calada da noite a Executiva Nacional do PMDB deu o golpe. Prorrogou por um ano e meio o mandato do presidente do partido, Michel Temer, que terminaria em dezembro. De quebra, foram prorrogados os períodos de todos os demais dirigentes nacionais, estaduais e municipais. Além da preservação do poder partidário, os caciques peemedebistas imaginam estar impulsionando a candidatura de Temer à presidência da Câmara.
O deputado paulista parece querer repetir o dr. Ulysses, que presidiu o partido e a casa, além da Assembléia Nacional Constituinte. Alguém já escreveu que a História só se repete como farsa.
Não terá o tiro saído pela culatra? Afinal, ao chamado baixo clero em oposição a Temer, poderão incorporar-se setores do PMDB que aspiravam o comando partidário e seus penduricalhos nos estados. Estarão inflando o balão de Ciro Nogueira, do PP, ou, como represália, estimulando Rita Camata e Osmar Serraglio a disputarem a indicação na bancada.
Acresce que toda prorrogação é digna de críticas. A gente fica pensado como o PMDB se comportará quando bater no Congresso emenda constitucional permitindo ao presidente Lula disputar o terceiro mandato...
Senadores do partido discordaram da prorrogação. Para evitar um racha, calaram-se. Mas é possível que venham a ignorar o acordo do PMDB com o PT, chancelado pelo presidente Lula, para que um presida a Câmara e outro, o Senado. Mesmo com a provável eleição de Michel Temer pelos deputados, alegando que também são majoritários, os senadores poderão escolher um deles, recebendo os votos da oposição. Em especial se vier a ser Pedro Simon.
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