terça-feira, 15 de julho de 2008

Aos 80 anos, a inflação reaviva a ambição de Delfim (Helio Fernandes)

Ministro em 3 "governos", embaixador em outro, não foi governador ou presidente

Delfim Netto, 12 anos e meio senhor da economia brasileira (com os "presidentes" Costa e Silva, Medici e João Figueiredo), não tendo mais acesso fácil a Lula, manda recado a ele pelo jornal.

Cita e transcreve Paul Volker, um dos seus ídolos na economia dos Estados Unidos. Principalmente nos tempos de inflação interna, quando o país tinha que usar o dólar verdadeiro, consagrado em 1944 em Bretton Woods, com a ajuda generosa (para os dois lados) do economista inglês, John Maynard Keynes.

O ex-poderoso ministro quer aparecer como campeão do combate à inflação. Não só porque essa seria uma glória da qual está precisando, mas também porque se vingaria dos empresários de São Paulo. Ninguém ajudou mais os empresários paulistas, principalmente banqueiros e "trabalhadores financeiros", do que Delfim Netto, sempre que era ministro. O único "presidente" que tinha horror a ele, Ernesto Geisel, não queria que fizesse parte do seu governo.

Mas um acidente de percurso, provocado por esses mesmos empresários, obrigou Ernesto Geisel a fazer de Delfim Netto embaixador na França. Motivo: o "governador" de SP, escolhido e nomeado por Geisel, se queixou a ele: "Presidente, não posso governar com Delfim em SP. Nas reuniões da Fiesp, ninguém fala comigo, todos ficam girando em volta de Delfim". Pragmático, sem fé e sem convicção, Geisel perguntou, "o que você quer que eu faça?". O "governador", rapidíssimo: "Por favor, mande ele para o exterior". E Delfim foi feito embaixador na França.

De 1986 em diante, Delfim foi feito deputado votadíssimo para a Câmara Federal. Só foi derrotado, a primeira vez na vida, 20 anos depois, em 2006. Mudou de partido, foi para o PMDB, os empresários se vingaram, não queriam que entrasse nesse partido, não mandaram votar nele. Eis Delfim Netto sem mandato.

Delfim esconde muita coisa que fez na vida, incluindo o financiamento colossal para a Ponte Rio-Niterói. Mas não pode esconder a frase genial de Medici (ditada para ele pelo brilhante então coronel Otavio Costa): "A economia vai bem, mas o povo vai mal". Medici nunca percebeu o que estava dizendo, mas também jamais alguém lhe "soprou" nada mais importante.

(Quase a mesma coisa dita pelo general-presidente Eisenhower ao deixar o governo em 1960: "O mundo é dominado pelo complexo industrial militar". Também genial, inspiração do seu "vice timoneiro" de 8 anos, Richard Nixon, que acabou injustiçado).

Delfim cita o que sabe que não atinge pessoalmente o presidente Lula, coloca bem no alto o que pode criar problemas para Mantega e Meirelles. Apesar de toda a ambição, Delfim, que chegou muito mais longe do que devia, jamais será presidente. Mas fazer parte da equipe econômica num dos lugares chaves (apenas dois) tem certeza de que não é absurdo.

Diz que "a inflação nos EUA chegou a incríveis 14% ao ano, com os juros em 21%". Não dá uma palavra sobre o Japão, com juro ZERO e nenhuma inflação. Não fala do governo Juscelino, "pai e mãe da inflação moderna", com a maluquice de construir uma capital com todos os materiais (até água) transportados de avião.

Não faz a menor referência aos juros de FHC, que chegaram a espantosos 48 por cento ao ano. Mas aí por um fator pouco conhecido: os economistas que trabalhavam no Real estavam perdidos, eles mesmos não sabiam nada do que acontecia. Diante das dificuldades, do medo de "vazamento", do crescimento da inflação e dos juros, a saída foi "comprar mais 4 anos de mandato". Delfim conhece o fato, quem sabe não esteja insinuando a Lula "que com inflação e para combatê-la, o melhor seria o TERCEIRO MANDATO, igual ao SEGUNDO de FHC?".

PS - Delfim Netto é resistente e insistente. Em plena ditadura, o adido do Exército na França redigiu e mandou para o Alto Comando o que se chamou de "Relatório Saraiva", que publiquei com exclusividade.

PS 2 - Depois de muitas reuniões, apesar do estarrecimento com as denúncias provadas e comprovadas, o Exército tinha que decidir entre um coronel brilhante e um civil ambicioso. Salvou Delfim, que ficou cada vez mais poderoso. E voltaria novamente ao Ministério da Fazenda. Que República. Mas os crimes financeiros praticados por Delfim, não P-R-E-S-C-R-E-V-E-M.

Celio Borja
Brilhante jurista da Souza Cruz, artífice da prorrogação do mandato de Castelo Branco. Faz 80 anos, acontece.

Tasso Jereissati, numa declaração que "esqueceu" de fazer, quando substituiu o presidente do PSDB, Eduardo Azeredo, envolvido em escândalos colossais de desvio de dinheiros públicos: "Corremos o risco de sermos mal interpretados pela imprensa, de parecermos estar defendendo tubarões". A frase não tem que estar na condicional, senador, é efetiva e realista. O que faz um senador defender um falcatrueiro acusado há 20 anos?
Não há suspeita, dúvida ou informe. É apenas informação: todo o dinheiro enviado por Dantas ou pelo Opportunity representa crime financeiro. E lógico, com o rótulo "lavagem de dinheiro".

Antigamente, para enviar dinheiro para o exterior, havia complicadíssima operação. Agora, com o avanço da tecnologia, basta apertar um botão. E tudo está programado, o dinheiro fica um dia em cada paraíso fiscal, de acordo com o estabelecido.
E uma parte desse dinheiro "volta" como investimento de estrangeiros, pessoa física ou de multinacionais. Facílimo.

Os 97 que seriam nomeados sem concurso para cargos de 10 mil por mês serão fulminados pelo plenário do Senado. Alguns já eram até conhecidos, esperavam o 1º de agosto. Que não existirá.
O advogado milionário do cliente bilionário (Daniel Dantas) é chamado para defender "causas volumosas, sempre com desvio de dinheiro público, lavagem, formação de quadrilha". Tem vasta experiência.

E o "quadrilheiro" Daniel Dantas provoca enormes gargalhadas ao dizer: "Estou sendo preso por perseguição política". Se isso fosse verdade, como justificar tanto tempo em liberdade?
Naji Nahas e Celso Pitta não esperavam ser soltos, o prestígio deles não é tão grande quanto o de Daniel Dantas. Foram favorecidos por um ato de REPRESÁLIA do ministro Gilmar Mendes.

Celio Borja, diretor da Souza Cruz, faz hoje 80 anos, não é o seu grande momento. Esse foi quando votou a favor da PRORROGAÇÃO do mandato de Castelo Branco. Ficou empatado. Era a liquidação de Carlos Lacerda, que tanto ajudou sua carreira.
Há muito tempo venho alertando sobre a COMPRA de terras no Brasil. Fiz a advertência: durante muitos anos acreditamos que a Amazônia seria invadida por tropas, logicamente estrangeiras, para o domínio.

Com a licença e a licenciosidade para a aquisição de terras, mudei o tom. Teremos que responder a tribunais de vários países, pelo fato do Brasil ter VENDIDO terras, recebido o dinheiro e não ter "honrado" o compromisso. Que República.
Se é verdade que o "prefeito" Kassab disse que "eleição só começa depois do horário da novela", está mais perdido do que se imaginava. Ele está em terceiro, porque só existem três candidatos.

Inacreditável mas rigorosamente verdadeiro: em Salvador, 4 candidatos têm chance de irem para o segundo turno. ACM-neto, Walter Pinheiro, Antonio Imbassahy e João Henrique estão no mesmo patamar.

No governo, ninguém consegue descobrir as atividades do ministro Miguel Jorge. Vindo do setor automobilístico, parece que lá era mais eficiente.
A campanha pela eleição de Luiz Paulo Horta na vaga de Zelia Gattai está seguindo em alta velocidade. Fabio Lucas, paulista, já perdeu os votos de Ligia Fagundes Telles e João de Scatimburgo, paulistas como ele.

Alberto Costa e Silva não votará mais em Fabio Lucas, o que libera o voto de Murilo de Carvalho. Garantiram a próxima vaga para Cleonice Barardinelli, e ganhar o voto de Afonsinho Arinos e mais um outro.
O medo: que no terceiro escritínio despejem votos em Ziraldo ou Antonio Torres, não elegendo ninguém. Pode ser.

A greve dos carteiros atingiu hoje quatorze dias sem que o governo conseguisse solucionar o problema. Causa: como em tantas outras greves, está na falta de uma política salarial e trabalhista no País.
As relações entre capital e trabalho foram explodidas pelos ares pelo ex-presidente FHC, e seus alicerces ainda não foram reconstruídos por Lula. Resultado: paralisações de serviços essenciais que prejudicam a todos e a economia do País. O Procon limitou-se a aconselhar os habitantes do Rio a tomarem a iniciativa de buscar suas contas.

Absurdo total. No Rio, existem 1 milhão e 300 mil domicílios. As contas são de luz, telefone, gás, aluguel, condomínio, IPTU, assinatura de TV a cabo. O movimento diário é enorme.
Ia esquecendo os planos de saúde. O resultado é que, quando a greve terminar, todas as contas virão com juros e ameaças de cortes.

Não tem sentido. Os contribuintes é que vão pagar as diferenças. O caso dos planos de saúde exige mais atenção. Porque eles estão doidos para se livrarem de seus associados mais velhos.
Podem encontrar pretexto para cancelar planos pagos há mais de 30 anos. Vale a pena pedir a atenção da Agência Nacional de Saúde.
XXX

Ainda não cumprido um terço do brasileirão, Flamengo e Vasco botaram 64 mil pagantes no Maracanã. Jogo razoável. O novo presidente, Roberto Dinamite, que deu clima de democracia ao Vasco, convidou o ídolo adversário, Zico, para assistir ao jogo ao seu lado, Zico aceitou, lógico.

Marcio Braga soube, chegou cedo, sentou ao lado do presidente do Vasco, que ficou em visível constrangimento. Marcio Braga não foi jogador, não é ídolo, nem convidado. Que República, até no futebol.

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O novo técnico do Botafogo, Ney Franco, assumiu e foi logo dizendo: "Vamos para a Libertadores". Vencia fácil por 2 a 0, perdeu gols "impossíveis", o Santos empatou e quase vencia. O Cuca saído do Botafogo e depois de 8 jogos sem vitória retumba: "Vamos para o título e para a Libertadores".

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O Brasil que já se julga superpotência (devia ser há 100 anos), no futebol não percebeu. Caio Junior assumiu no Flamengo, já recebeu "proposta irrecusável" do Qatar. Se é irrecusável, tem que aceitar. Com que dinheiro?

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