A pesquisa que o Ibope realizou para a Confederação Nacional da Indústria, publicada esta semana em quase todos os jornais, revela inabalada a popularidade tanto do presidente Lula quanto de seu governo. Inabalada, mais uma vez, e, ao que parece, inabalável através do tempo. Os números contidos nos levantamentos que têm sido trimestrais confirmam a tendência sempre no alto. Nada o atinge, tampouco o compromete. Um sinal de rara avaliação positiva para um governante, sobretudo quando se aproxima da metade de seu segundo mandato.
Em período de duração semelhante, seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, havia ingressado numa trajetória declinante, a qual não conseguiu reverter. E, inclusive, tornou-se o principal fator da primeira vitória de Luís Inácio da Silva nas urnas de 2002. No segundo turno, derrotou José Serra por 62 a 38 pontos. Quatro anos depois, venceria Geraldo Alckmin por 61 a 39 por cento. Dois resultados convergentes.
Comentando os números da pesquisa, a diretora do Ibope, Márcia Cavalari, leio no Estado de São Paulo, matéria assinada por Carlos Marchi, identifica uma aparente contradição entre o pessimismo da opinião pública quanto à eficácia do combate à inflação e à perspectiva de manutenção do poder de compra e os índices de aprovação de Lula e de sua administração.
Há três meses atrás, os que aprovavam o governo e confiavam no presidente eram, respectivamente, 72 e 68 por cento, são os mesmos de hoje. Fantásticos. Qual a explicação? A imagem do presidente, efetivamente sua grande força política, sua presença no cenário. Mas não se trata de carisma apenas, ou de uma empatia muito grande com a grande maioria da população. Há uma sintonia predominante. Em parte por falta de alternativa.
O quadro político, no qual todas as tendências sempre se refletem, não oferece qualquer alternativa. Enquanto isso não ocorrer - talvez não aconteça até 2010 - Lula permanecerá dominando totalmente o panorama nacional. Razões não faltam. A política salarial, uma delas. No tempo de FHC, todos os salários perdiam para a inflação do IBGE. Agora, exceto os do funcionalismo público, passaram pelo menos a empatar. Como tudo é relativo, já representa um avanço.
A hipótese de assumir um presidente em oposição a Lula, caso de José Serra, por exemplo, bloqueia uma deslocação de um lado para outro. Os que melhoraram com Luís Inácio da Silva temem um novo retrocesso. Este é um fator importante no esquema de análise. Mas isso não quer dizer que Lula, sozinho, possa eleger seu sucessor Aécio Neves, ou sucessora, Dilma Rousseff, com absoluta certeza.
Este é um caso de transferência de votos, processo sempre de difícil previsão. São raros os exemplos de transferência de apoio. Inclusive porque tal passagem não depende somente de quem transfere, mas também de quem recebe. Este aspecto, em matéria de política eleitoral, torna-se sempre um mistério, daí o fascínio e o enigma de que se reveste.
Às vezes assisto na Globo News debates coordenados pelo excelente William Waack, alguns focalizando a sucessão nos Estados Unidos. Intelectuais são chamados a participar e, por isso, tentam intelectualizar os debates e as razões que conduzem o processo numa direção ou outra. Esquecem que o voto, expressão de uma síntese, pode partir de uma lógica, mas não somente dela. Uma sensualidade ou para-sensualidade marca o impulso do eleitorado mais em favor de um do que de outro. No caso das prévias do Partido Democrata, o impulso na direção de Barak Obama superando o que se voltava para Hillary Clinton. Há um enigma no voto. Só pode ser desvendado na prática. Nunca na teoria.
Por isso, quando procuro encontrar a emoção como fator explicativo, recorro ao plano para-sensual, não exatamente para dividir a disputa entre sexos, mas para dizer que a sintonia, mesmo teórica, nesse plano, não encontra tradução na lógica. Porém o que os eleitores procuram no candidato é exatamente aquilo que no seu livro mais famoso Simone de Beauvior classificou de a exatidão de uma idéia. Não importa qual seja o conteúdo desta idéia. Mas na realidade sua fixação, como se encontrássemos, num instante, um argumento totalmente claro para nossas dúvidas e nossas idéias.
A publicidade universal baseia-se um pouco nesse conceito. A proposta de que cada um encontre seu próprio ego ou a idéia que faz ou gostaria de ter de si mesmo no modelo exposto. Não somente no que se refere às roupas e objetos, mas ao próprio comportamento humano. Para simplificar, pois a política, como a definiu De Gaulle, será sempre uma idéia firme e forte em torno de questões claras e simples. Algo (a política) extremamente complexo, de questões claras e simples. Algo (a política) extremamente complexo, dada a soma de interesses em jogo, mas cujas formulações serão sempre transparentes. Caso contrário, estar-se-á, por exemplo, fazendo filosofia. Mas não política.
Lula age instintivamente, é um político intuitivo, espontâneo, simples, natural. Não ameaça. Não tensiona. Não traz consigo proposta difícil de mudança. Ao contrário. Por isso permanece e permanecerá sempre firme, com popularidade bastante elevada até o final de seu mandato. Agora, se é capaz de vencer na sua sucessão é outro problema. Não foi feita ainda qualquer pesquisa sobre a transferência de sua imagem. Talvez não seja possível. Sua imagem pode ser algo muito próprio que não comporte divisões ou transferência de personalidade. Mas esta é uma pergunta para outubro de 2010. Portanto para daqui a 27 meses. Passa depressa.
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